quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A sobrevivência do Euro? Quem diria?

Wolfgang Münchau é correspondente do Financial Times na Alemanha. Embora eu não partilhe o seu paradigma da Economia, leio-o com atenção porque, além do conhecimento profundo que tem da União Europeia e da economia política do seu país, é rigoroso e ponderado no que escreve. Por isso, recomendo (mais uma vez) a leitura do seu artigo mais recente "What the eurozone must do if it is to survive" (procurar no Google).

Entretanto, o economista Nouriel Roubini (entretanto tornado estrela dos media) já manifestou profunda apreensão pelo futuro da Eurozona e admitiu que daqui a uns anos esta área monetária dará origem a duas zonas, uma com uma moeda forte (novo euro), outra com os países economicamente mais frágeis na sua periferia, cada um com a respectiva moeda. De facto, Roubini prevê a ocorrência de uma bifurcação.

Aqui nos Ladrões não têm faltado textos sobre a deficiente arquitectura da Eurozona e a sua insustentabildade. Somos europeístas de esquerda lúcidos e temos preparação suficiente para saber discernir os sinais dos tempos.

Pela minha parte, não retiro nada do que escrevi em diversas postas (entre outras, aqui, aqui, aqui, aqui). "Está tudo doido?", dizia na altura um assíduo comentador deste blogue. Após algumas reacções de perplexidade resolvi também comentar:

"Caros amigos,
A posta pretende apenas chamar a atenção para uma realidade muito simples: a Zona Euro (como um todo) não é sustentável com a actual arquitectura institucional. A saída 'por cima' é a federalista. A saída 'por baixo' é a implosão, com eventual reconfiguração dos parceiros. A Alemanha acaba de dizer (sem ter consciência disso) que prefere a 'saída' por baixo.
Bem sei que é difícil habituarmo-nos à ideia de que o euro é uma construção política precária e que pode acabar, pelo menos para nós e mais alguns países. Como dizia um ex-Primeiro Ministro, é a vida!
20 de Julho de 2009 19:12 "

Talvez a Alemanha venha a mudar de ideias, e Merkel consiga passar ao lado do seu Tribunal Constitucional. Talvez até já se esteja a preparar mais uma forma de contornar o Tratado de Lisboa.
Um dia destes, numa decisão de última hora perante a iminência de os "animal spirits" entrarem em pânico, resolve-se o problema da Grécia, a seguir o da Espanha, a seguir o de ....
O problema é que o euro não pode sobreviver com soluções de remedeio no actual quadro jurídico que institucionalizou o monetarismo.

W. Münchau termina assim a sua coluna no FT:
"A razão por que me tornei mais céptico sobre as perspectivas a longo prazo da Eurozona não são inerentes à economia da união monetária. É que duvido que exista vontade política para fazer o que é necessário."
Eu também, e não precisei que chegássemos a este ponto. Como alguém disse, "não há nada de mais prático do que uma boa teoria."

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