segunda-feira, 6 de outubro de 2008

As virtudes da rebeldia na Economia II

Eu acho que quem quiser perceber a actual crise, tem de conhecer a resistente tradição da economia política que cruzou e desenvolveu, entre outros, os contributos de Marx, Keynes e Minsky. A crise é endógena a uma configuração do capitalismo que colocou os mercados financeiros liberalizados no seu centro. Uma acertada previsão de padrões. «Mais vale estar vagamente certo do que rigorosamente errado» (Keynes).

Recomendo três textos recentes. No excelente Levy Institute, Thomas Palley analisa as consequências perversas da financeirização do capitalismo e Randal Wray convoca a grelha desenvolvida por Hyman Minsky para explicar a crise nos EUA. James Crotty, um dos mais interessantes e talvez menos conhecidos macroeconomistas da actualidade, inscreve a crise no quadro das transformações do capitalismo das três últimas décadas. Vejam os seus trabalhos, a que já aqui fizemos referência, sobre a crise asiática ou sobre as virtudes dos controlos de capitais. O Political Economy Research Institute é um oásis. A rebeldia é arriscada numa disciplina conformista, mas o que se perde em estatuto ganha-se em capacidade de explicação.

A economia que interessa é então uma teoria crítica realista que procura compreender a evolução histórica do capitalismo e identificar os seus padrões mais relevantes a partir de uma análise do comportamento humano no quadro de instituições mutáveis. Compreender para transformar. Hyman Minsky dizia que «só uma teoria crítica do capitalismo pode conduzir uma política bem sucedida no quadro do capitalismo». Certeiro. Os apologistas acríticos são os grandes adversários de um sistema viável. Que só pode ser impuro. Paradoxos.

16 comentários:

Rui Caetano disse...

São excelentes sugestões.

Filipe Melo Sousa disse...

Caros amigos larapios,

seria possível divulgarem a crise e o fim do capitalismo assim com um pouco mais de veemência? Estou muito interessado em amplificar a queda nas bolsas para aquém do valor intrínseco do papel. Deste modo poderei investir a preço de saldos e maximizar o meu proveito a medio prazo.

Grato pela atenção

L. Rodrigues disse...

Ora Filipe,
Ganhe o que quiser, desde que seja de forma legítima e, claro, pague os seus impostos.

Filipe Melo Sousa disse...

Revelou o seu primeiro instinto de forma magnânime.. imediatamente vir tirar o tributo da perspicácia dos outros.

O socialismo está como o Benfica: tão medíocre que as suas únicas alegrias são os maus jogos do Porto e do Sporting. Não produz nada, apenas torce pelo pior nos outros.

L. Rodrigues disse...

Não foi preciso instinto, foi preciso apenas saber o que o faz espumar.

Wyrm disse...

L. Rodrigues 1
Filipinho 0

Filipe Melo Sousa disse...

O Porto continua a liderar a tabela. A inveja fica do lado de quem inveja a liderança. Há que não inverter os papéis...

Anónimo disse...

"O socialismo está como o Benfica: tão medíocre que as suas únicas alegrias são os maus jogos do Porto e do Sporting. Não produz nada, apenas torce pelo pior nos outros."

Tanto como no socialismo, como no neoliberalismo, como no benfica ou no porto tudo se reduz às pessoas, não ao sistema. Esta sua analogia só me dá mais razão...

De todos os males, o menor e o mais justo: que a responsabilidade do todo seja distribuída pelo todo, assim como o rendimento. Posso dizer ámen ?

Ou acha que distribuir a responsabilidade pelos contribuintes enquanto o rendimento fica para mercado financeiro é o ideal ?

antónio m p disse...

«só uma teoria crítica do capitalismo pode conduzir uma política bem sucedida no quadro do capitalismo». Ando eu a defender esta teoria há tanto tempo em relação ao socialismo e chega um malandro, rouba-me a ideia, muda uma palavra e faz um figurão.

Desculpe o desfoque do comentário mas depois do que comenta Filipe MS, é mais treta menos treta...

Que nada disto o desmotive a si para continuar a dar-nos os seus meritórios trabalhos.

Filipe Melo Sousa disse...

É muito injusto distribuir a responsabilidade pelo todo quando o mérito é individual. Tem toda a razão. Eliminemos já as transferências fiscais.

Anónimo disse...

Aos olhos de um espírito egocêntrico sempre o será ...

Filipe Melo Sousa disse...

É a natureza humana. Com a desgraça dos outros posso eu bem

L. Rodrigues disse...

"É a natureza humana. Com a desgraça dos outros posso eu bem".

Errado. A natureza humana é mais complexa do que isso. É mais parecida com:

"Com a desgraça dos outros posso eu bem, mas pensando melhor..."

Claro que para isso é preciso ter as necessárias ferramentas cognitivas e emocionais, e a Natureza, na sua imensa variedade não dota todos das mesmas na mesma medida.

Mas temos que ser uns para os outros, e o Filipe não deve ser ostracizado pelas suas deficiências.

Filipe Melo Sousa disse...

você é livre de ser hipócrita, mas não se livra das consequências das decisões que toma. uma delas é soar a falso

L. Rodrigues disse...

Não é hipocrisia, é ver mais que um palmo à frente do nariz, usar outras partes do cérebro que não apenas a reptiliana.

Filipe Melo Sousa disse...

vejo o que for preciso alcançar.. desde que beneficie