Os resultados eleitorais no concelho e na península de Setúbal revelam a verdadeira chave de leitura destas eleições. Uma leitura que tem de ir para além do imediato. Tem de compreender e integrar as tendências de fundo. Deve articular-se com a mudança das placas tectónicas eleitorais nos países ocidentais. Dos EUA, ao resto da União Europeia (...) A pior coisa que se pode fazer, por ser intelectualmente arrogante e um total erro de análise, é culpar os eleitores (...) PS, a AD e o resto dos partidos “responsáveis” continuam a tratar a UE como uma “vaca sagrada”, ao ponto de António Costa ter trocado a sua maioria absoluta de 2022 por um lugar à frente do, cada vez mais patético, Conselho Europeu.
A desmobilização é real. E não é apenas eleitoral — é social, cultural, comunitária. E a pergunta que se impõe, se quisermos ouvir mais do que o ruído de fundo dos telejornais que alimentam a desorientação geral, é simples: onde estamos nós quando não estamos em lado nenhum? A resposta não está em fórmulas mágicas, mas em algo mais exigente: assumir militâncias a sério. Assumir que é necessário sacrificar o aparente conforto do individualismo para recuperar a força da vida em comunidade. Que talvez o sacrifício maior seja abdicar de ver o mundo como um espelho de desejos, para vê-lo como ele é: desigual, injusto, mas transformável.
Excertos de dois artigos que ajudam a pensar, respetivamente de Viriato Soromenho-Marques e de Sofia Lisboa. Um filósofo social-democrata e uma historiadora comunista a sério e sérios. Precisamos de pontos de encontro destas tradições: a ideia de frente popular começa pela substância histórico-filosófica, não é uma diluição das distinções - entre guerra e paz, por exemplo - na oportunidade eleitoralista de circunstância.
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