terça-feira, 27 de maio de 2025

Fotografar a economia política internacional

A dignidade de uma família brasileira depois da conquista de terra, através da ação coletiva do MST. 

É nesta fronteira diluída que vamos encontrar Sebastião Salgado, o fotógrafo brasileiro da humanidade, que na década de 1970 se afasta do fotojornalismo convencional e encontra nos explorados do mundo o objeto de interesse para um trabalho que extravasava a reportagem e entrava nos territórios da arte de intervenção. Escolhas inequívocas, partindo da relação dos homens com a natureza e da sua relação entre si, marcada nos rostos e nos corpos. 

Na fotografia de Sebastião Salgado há uma denúncia mobilizadora, que opera em nós como um repto: é esta a humanidade com a qual sonhámos? Ao mesmo tempo, no violento contraste entre o poder deslumbrante da floresta e o poder repressivo dos homens sobre os seus semelhantes, encontramos no seu trabalho uma linha de coesão que nos é dada pela opção do preto-e-branco. A paisagem humana e a paisagem natural confundem-se, diluem-se, para nos dizer que este é o lugar que habitamos juntos. É esta opção que nos revela, também, o caráter político de Sebastião Salgado e o seu papel transformador.

Ler, ler, ler sempre Jorge C., sem esquecer que Sebastião Salgado foi economista, tendo-se doutorado nesta área na Universidade de Paris e trabalhado numa parte da sua vida em organizações internacionais. Um economista transformado em fotógrafo da economia política internacional, arriscaria em nota de rodapé. 

De resto, não conheço quem escreva hoje com mais acutilância política sobre arte, artista e sociedade no nosso país do que Jorge C.

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