Num debate recente com Mariana Vieira da Silva, Joaquim Miranda Sarmento considerou que o IVA zero em bens essenciais (ovos, legumes, fruta, carne, leite, peixe, etc.), proposto pelo PS, «é uma medida altamente regressiva», uma vez que «quem tem mais rendimento consome mais». Como se, desafiando a lógica e o mais elementar senso comum, alguém com maior rendimento desatasse a comer uma dúzia de ovos ou a beber cinco litros de leite por dia.
Estamos, obviamente, a falar de alimentos básicos, que todas as pessoas consomem em quantidades mais ou menos aproximadas. Não é caviar nem champanhe francês. Não é faisão nem cavaco dos Açores. São alimentos de consumo diário, que tornam o IVA num imposto universal e convertem a sua redução ou eliminação, nesses bens, numa medida de redistribuição e justiça social. Ao contrário do IRS e do IRC, cuja redução não beneficia quem não paga.
Ou seja, e ao contrário do que diz Miranda Sarmento, o IVA zero não beneficia mais quem tem mais rendimentos. Porque o peso relativo da sua eliminação nos salários mais baixos (6% de poupança para quem ganha um salário mínimo) é muito maior que nos salários mais elevados (0,8% para quem aufere oito salários mínimos). Por outras palavras, e como é óbvio, os mesmos 55€ de poupança mensal não significam o mesmo para quem ganha pouco e para quem ganha muito. O resto é mesmo só areia para os olhos.
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4 comentários:
Curioso. Nos meus tempos de estudante diziam-me que a direita preferia os impostos sobre o consumo aos impostos sobre o rendimento, preferidos pela esquerda. Diziam que os impostos sobre o consumo eram regressivos na medida em que há um limite individual para o consumo. Por muito que goste de carne de vaca como um bife, não como a vaca.
Bem explicado. O meu ceticismo prende-se com a redução real do preço dos bens. Que garantias temos que a redução fiscal não será apropriada pelos grandes grupos de distribuição?
Desaparece a taxa reduzida de 6% e o comerciante aumenta, logo, a margem de lucro em 6%! A grande distribuição agradece e a Vieira da Silva bem o sabe, até porque nunca ouvi o PS propor o controlo de preços a acompanhar o IVA zero. De aumentar salários e pensões, já! e para valores que compensem a perda do poder de compra, não se lembra a Mariana
a frase do sarmento é o que menos interessa. só me admira é não ser denunciada como medida demagógica do ps, quando baixou o iva da restauração nenhum restaurante que eu frequente baixou os preços.
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