segunda-feira, 19 de maio de 2025

Notas com precisões


O fascismo vem mesmo por arrasto. Se as direitas funcionam por incessante repetição e se têm a hegemonia, então é caso para dizer que há algo a aprender com tal modo de operar. 

Deve reter-se uma formulação de um estratego de George Bush, lida há uns anos na repetitiva The Economist, e trazida para aqui de memória: «repetir, repetir, repetir sempre, e é só quando se está farto de repetir que o público começa a prestar atenção pela primeira vez».

Repito então cinco das seis notas que escrevi a seguir às eleições de 2024, acrescentando uma nova:
 
1. Precisamos de ter os olhos bem abertos: sociedades indigentes de comunicação há muitas e os milionários, alimentados por uma forma de economia política neoliberal com décadas, têm cada vez maior capacidade de converter dinheiro em poder político, pagando “stink-thanks”, financiando as direitas cada vez mais extremadas, controlando cada vez mais aparelhos ideológicos. 

2. Precisamos de cultura com fôlego, como no antifascismo histórico, que “ganhe raízes no solo pátrio”, que imagine com luminosidade uma comunidade e o seu povo, que ame essa comunidade e o seu povo solar. 

3. Precisamos de economia política que vá à raiz, que parta do Algarve e que suba por aí acima, que exponha um modelo de desenvolvimento do subdesenvolvimento e o seu círculo vicioso: baixa pressão salarial e austeridade, subinvestimento modernizador, alimentação de fluxos migratórios súbitos, serviços públicos subfinanciados e sobrecarregados, rentismo fundiário e corrupção, ascensão da extrema-direita. 

4. Precisamos de economia moral, ponto de intersecção da tal cultura com fôlego e da economia política radical, ou seja, de um modelo de desenvolvimento, feito por propostas de política, por instrumentos de política soberana a resgatar, que dêem os toques certos e com impactos sistémicos, contando uma história moral de um país plausível. 

5. Precisamos de mais e melhor organização, do YouTube ao sindicato, feita por militantes, ao invés de ativistas, solidária e acolhedora, sabendo sempre que as pessoas só se mobilizam por uma certa ideia esperançosa de Portugal e do mundo. A esperança é mesmo radical.

6. Precisamos de ser mais claros e intransigentes nas distinções, nos diagnósticos. É quando a relação de forças é mais desfavorável, quando estamos mais fracos e o inimigo mais forte, que temos mais urgência disso: Lénine em 1914, no fundo. Por exemplo, os verdes com bombas, o Livre, são parte do problema.

5 comentários:

Domingos Henrique disse...

Percebi bem? O Livre é parte do problema? A sério que é isso que pensa?

Para a Posteridade e mais Além disse...

o livre é parte do problema, um partido com um ideólogo e algum enchimento para parecer que não é um partido unipessoal como o do ventura, têm mesmo muitas similitudes entre eles

João Rodrigues disse...

Sim, siga a ligação se quiser ler a minha razão.

Domingos Henrique disse...

Ok, elucidado. Discordo, percebo os argumentos, mas numa altura destas, despediçar energia com combates fraticidas é ser também pelas bombas.

Lima disse...

Esta altura não é tão diferente das outras, do ponto de vista que uma opinião não deve mudar por causa de um bom (ou mau) resultado eleitoral. Não precisamos da esquerda que a direita gosta.