sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Veias abertas


Num comunicado sobre a atual situação no Chile, a Amnistia Internacional condenou o uso de força policial excessiva sobre os manifestantes. Uma notícia do Expresso dá conta de "mais de 270 casos documentados de lesões causadas por balas de borracha e cilindros de gás lacrimogéneo", prova da forte repressão do governo de Sebastian Piñera. Para a Amnistia, não se tratam de casos isolados: "Não são algumas maçãs podres no interior da polícia. São ataques contínuos em diferentes partes do país". A organização conclui que "a intenção das forças de segurança chilenas é clara: ferir manifestantes para desencorajar protestos."

Entretanto, na Bolívia, os confrontos entre manifestantes e a polícia e exército na sequência do golpe de estado contra o governo de Evo Morales já causaram pelo menos 32 mortos e 775 feridos no último mês. Ontem, uma manifestação pacífica da população indígena para homenagear os 8 mortos nos protestos de terça-feira foi dispersada pela polícia com recurso a gás lacrimogéneo. Percebe-se o motivo pelo qual García Linera, vice-presidente dos governos de Morales, descreve o golpe como um "ajuste de contas da elite" contra a população indígena que se "atreveu a alcançar o poder e a ter direitos nos últimos anos."

Perante o silêncio de quem, por cá, não hesitou em pronunciar-se sobre outros países da América Latina, os dois países têm em comum o uso de força policial excessiva e o atropelo aos direitos humanos. A direita autoritária do continente já mostrou que não poupa esforços na repressão de quem lhe oferece resistência.

9 comentários:

Jose disse...

E então quanto a Hong Kong, Iraque, Irão, nem uma palavrinha?

Anónimo disse...

O que o neoliberalismo tem de melhor é a repressão, um cumprimento a todos aqueles que sem qualquer pingo de decência e dignidade apoiam este estado de coisas.

Jaime Santos disse...

A única arma que os mais fracos podem brandir é a da Lei. E no momento em que a ela renegam, como renegou Morales ou Chavéz e Maduro (ou antes os Castro), tornam-se ditadores como os outros.

E no deve e haver da peleja, não interessa quem tinha a razão e a justiça do seu lado, interessa quem é mais forte.

E aí a Esquerda normalmente perde. E quando ganhou, os seus próceres rapidamente se tornaram na nova elite opressora.

Os reformadores não violentos produzem mudanças sociais perenes. Os outros normalmente acabam a fazer a História andar para trás...

Anónimo disse...

Mas então: as "novas" elites dirigentes na Bolivia e no Chile são ou não opressoras?

Anónimo disse...

Essa da lei (democrática?) ser a arma dos fracos é todo um programa!

Anónimo disse...

Só para dizer que a Amnistia tem falado do que se passa na Bolivia também:
https://www.amnesty.org/en/countries/americas/bolivia/

Jose disse...

A questão da democracia é usada à boca cheia para abarcar tudo e mais um par de botas.

Na boca da esquerdalhada significa sobretudo maior igualdade económica - ou pelo menos desapossar os ricos - e um aparente basismo social sob a liderança de uns pregadores de chavões adequados a esse quadro.
No outro extremo estarão os meros contadores de votos em concursos de mentiras e irrealismo.

Que ninguém se ocupe de enunciar os pressupostos funcionais de uma democracia representativa, nos múltiplos estádios de desenvolvimento social e político de que há abundantes exemplos, dá a exacta medida de quanto o aumento da informação tem contribuído para o empobrecimento do conhecimento e a transformação da política num jogo de imagens.

Tudo se avalia à luz de acontecimentos descritos em títulos noticiosos.

Anónimo disse...

«...Na boca da esquerdalhada...»

Começo a duvidar do autor deste blog, ao deixar que os comentários de «Jose» e «Jaime Santos» sejam publicados.

Corta os comentários a favor e deixa fixar os provocadores.

Afinal, como é?

Continuaremos a ler comentários do «Jose» e do «Jaime Santos» em todos artigos aqui publicados?

Anónimo disse...

Mas então, democracia: sim ou não?