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(...) O economista norte-americano de origem sérvia Branko Milanovic faz uma espécie de análise da riqueza de Crasso comparando-a com os plutocratas de hoje, para que se perceba a sua força e a origem do seu poder. Ao contrário do que defendia Adam Smith, a capacidade que o cônsul teve de esmagar a insurreição de Espártaco não se devia sobretudo à sua grande habilidade na guerra e na política, mas ao facto de ser riquíssimo e de essa riqueza, como notou Max Weber, permitir-lhe colocar a política romana a seu soldo. Crasso tinha comprado o domínio da política e recebia, em troca do seu apoio a Júlio César, concessões, negócios e monopólios. Quanto mais dinheiro ganhava, mais desigual se tornava a sociedade romana, mais razões de revolta existiam entre os escravos e os mais pobres, mas maior capacidade de repressão concentrava em si.
(...) Segundo Branko Milanovic, estima-se que a riqueza de Crasso lhe rendesse 12 milhões de sestércios por ano, o equivalente a um milhar de milhões de dólares. Um romano médio necessitaria de trabalhar 32 mil anos seguidos e sem descanso para conseguir obter o rendimento anual de Crasso. (...) Não há democracia possível numa economia em que haja tal desigualdade de poder. Tal como Crasso comprou tropas para esmagar a revolta dos escravos, a plutocracia global tem o poder de comprar mentes, gerar consensos e amplificar a sua ideologia nos seus meios de comunicação social, para garantir que “um homem, um voto” passe a “quem tem mais ações, ganha”.
No filme de Stanley Kubrick, aos escravos derrotados é-lhes dito para identificarem Espártaco, a fim de ser exemplarmente castigado, em troca do perdão de todos os restantes. Um a um, os escravos levantam-se dizendo que são Espártaco. Mortos na cruz, não têm a frase de Jesus “que Deus lhes perdoe porque não sabem o que fazem”. A sua promessa é prometeica e tem outra inspiração: “Voltaremos e seremos milhões.” Reza a história que Crasso não teve um fim feliz. A lenda diz que, derrotado pelos partos, acabou morto com ouro derretido enfiado pela boca abaixo, para assinalar a sua cobiça. Assim seja.»
Alguns excertos de um texto recente do Nuno Ramos de Almeida (Na escuridão dos monstros), que se recomenda vivamente seja lido na íntegra. E uma boa oportunidade para saudar também, desta forma, o seu recente blogue, Tudo o que é sólido se dissolve no ar.
4 comentários:
Já é preciso ir buscar Crasso para demonizar os ricos?
Dizem que teria preferido pôr os cativos no mercado em vez de os crucificar, mas teve que cumprir a lei do Estado.
O domínio dos ricos sobre o Estado é a fantasia negra dos que que o querem dominar e não conseguem votos para tal.
Espártaco na realidade era um gladiador que liderou a terceira revolta servil, outras antecederam-na. Entre servir na arena para gáudio circense ou libertar os irmãos, escolheu a segunda opção. Já o destino de Crasso não é sorridente, diz a lenda que os Partas ao derrotarem-no obrigaram-no a engolir ouro fundido, como pena pela sua ganância. Em qualquer caso demos Graças a Roma, deixou-nos como legado a Lei e a Língua.
Grupo de anónimos procura saber quem é este «Jose» que se diverte em provocações há muitos anos.
Se porventura conseguirem ajudar, mandem notícias.
O estado tem sido o instrumento dos ricos para a sua dominação
Negra só mesmo esta tentativa do Jose para esconder o bocado
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