"Há, com certeza, casos de má gestão ou incapacidade de organização dos serviços públicos de saúde em Portugal. Mas a principal conclusão que se retira dos dados da OCDE é outra: o SNS está subfinanciado. As necessidades acrescidas que decorrem da estrutura demográfica e das enormes desigualdades sociais em Portugal aconselhariam um esforço maior do que a média no financiamento da saúde. Não é isso que acontece, pelo contrário. A despesa pública em saúde por habitante em Portugal (em paridades de poder de compra) é menos de dois terços da que se verifica na média da OCDE. Tirando o caso da Grécia, Portugal é o único país da UE cujas despesas públicas em saúde em 2017 eram inferiores aos valores de 2010. Foi também um dos poucos países onde os salários dos médicos caíram neste período.
O subinvestimento no SNS não se reflecte apenas na saúde dos cidadãos no imediato. A incapacidade de resposta e a degradação das condições de trabalho dos profissionais abrem espaço à expansão da oferta privada. O sistema público vai-se tornando um pobre serviço para pobres, enquanto os privados oferecem serviços em função da capacidade de pagamento. Se nada de relevante for feito para inverter a situação, acabaremos todos a pagar mais por um sistema cujos resultados serão medíocres - como o relatório da OCDE mostra para o caso dos EUA. O interesse objectivo que o poderoso lobby privado da saúde tem na degradação do SNS é o lado mais assustador desta história. Resta saber se quem defende outro destino para a saúde em Portugal - dentro e fora do governo - vai ter força para resistir à pressão dos interesses."
Excerto do meu texto no DN de ontem.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
«O interesse objectivo que o poderoso lobby privado da saúde tem na degradação do SNS é o lado mais assustador desta história.»
Assusta porquê?
Que o privado ambicione fazer melhor serviço a melhor preço, mobilizar capital e manter-se tecnologicamente actualizado?; provavelmente é o que define toda a experiência na competição entre gestão privada e gestão pública.
Que deva haver serviço público não é a dúvida; a SUSTO é saber porque deve o SNS, estando atrasado, subfinanciado e sem expectativas de drásticas melhorias, tornar excedente todo o património posto em acção pelos privados, sem fazer contas e sem cuidar de racionalidade nessa acção.
Mas sabemos já da experiência do ensino que se esse for o preço para manter a matilha socialista no poder, será pago!
Paulo Macedo.
Já o tinha lido no DN de ontem
Mais uma vez a clareza e o rigor
Uma autêntica bofetada nos vendilhões privados da saúde, ao serviço desses mesmos interesses privados.
Ou por outras palavras, um preclaro chamar os bois pelo nome
A saquearem os hospitais públicos do material necessário pago com o dinheiro de quem paga os impostos para os meter a funcionar nos hospitais privados que já parasitam os dinheiros do erário público e dar má imagem do público, para num futuro acabarem com eles, controlarem a saúde e a partir daí fazerem os preços que quiserem, darem a qualidade que quiserem e atenderem quem tem capacidade financeira desprezando quem a não tem para isso e encher os bolsos dos mesmos, já nos bastaram os 50 anos de escuridão que o Botas Salazar nos deu. Como aprendi há mais de 60 ans, com os sapatos do meu pau, também eu sou grande.Até parece que esta gente, depois da privatização da banca, da energia, dos combustíveis, dos transportes e quase do país todo, ainda pensa que consegue enganar quem tenha um palminho de testa, não é José? Até parece que esse Paulo Macedo foi um herói nacional por ter enchido a mula à custa das desgraças dos outro.
"provavelmente é o que define toda a experiência na competição entre gestão privada e gestão pública."
Foi o que se viu
Com o afundamento da banca privada, cujo descalabrado tivemos que pagar.
E a promiscuidade dos terratenentes banqueiros com a banca dita pública. Os Paulo Macedo no sítio certo para que os privados negócios continuem a florescer
Este tipo pensa que não temos memória. Por isso andou por aí com choradinhos para que riscássemos o passado
O susto é mesmo isso. Os interesses que os privados têm pela ruína do SNS.
Há dados objectivos de que o SNS está a perder qualidade e que isso se enquadra numa estratégia de favorecimento dos grandes prestadores privados.
Tudo uma questão de negócios. E de negociatas. E de jogos sujos. E de manobras sujas
Lembram-se quem votou contra o SNS?
E de quem vive parasitando o erário público, fazendo deslocar verbas imensas deste para acobertar os privados?
Lembram-se que o Estado financia hemodiálise 30% acima do custo real?
E que 51% da despesa dos hospitais privados é paga pelo Estado?
E que os Hospitais privados discriminam doentes beneficiários da ADSE?
E que exames de medicina nuclear são feitos por empresa privada, por um custo muito superior, enquanto os equipamentos e o pessoal do hospital está parado?
Pois é. Este jose pensa que não temos memória. Por isso andou por aí num exercício tão patético como repugnante, a apelar para esta se apagar.
A matilha neoliberal quer liquidar esta grande conquista de Abril. E não olha a meios para o conseguir, nem para tal tem o mínimo pudor. Como dizia um dos seus comparsas "quem quer saúde, paga-a"
Entretanto comportam-se como abutres. Tudo lhes serve para fazer negócio.Mesmo que tenham que mentir e ocultar a verdade
(Por isso também a peleja contra a memória.Por parte dos tipos que querem esconder a trampa produzida e o seu cheiro fétido)
Enviar um comentário