Em entrevista recente, o presidente da CIP afirmou que o aumento do salário mínimo não tinha «racionalidade económica», traduzindo um mero «objetivo político». E acrescentou que «o grande beneficiário acaba por ser o Estado». Porquê? Porque «este aumento, dos 600€ para os 635€ - se, como sabemos, abrangidos pelo salário mínimo estarão qualquer coisa como 750 mil trabalhadores - este diferencial que o Estado vai arrecadar, do diferencial dos impostos da TSU (dos 23,75% que as empresas pagam e dos 11% que os trabalhadores pagam), o Estado vai arrecadar qualquer coisa como 126 milhões de euros/mês».
É certo que António Saraiva pretendia sobretudo, com estas palavras, criticar a prerrogativa do governo em fixar o valor do salário mínimo até 2023, «sem negociar com os patrões», vindo daí a alegada ausência de «racionalidade económica» e o tal «objetivo político». Mas as suas declarações não deixam de perpassar, nas entrelinhas, conceções de economia política recorrentes entre nós. Desde logo, pela ausência de qualquer referência ao benefício da medida para os trabalhadores, através do aumento dos seus rendimentos (num país com um dos salários mínimos mais baixos da Europa e com maiores desigualdades remuneratórias). Em segundo lugar, pelo tom depreciativo na referência ao «objetivo político», como se a melhoria dos salários fosse algo fechado numa redoma e não constituísse uma decisão - política, claro - com impacto na vida das pessoas de carne e osso e na economia como ela é. Por último, a ideia de que é o Estado que tira proveito do aumento do SMN, como se a receita pública das contribuições e impostos equivalesse a um desperdício, a um deitar de dinheiro pelo ralo, sem benefício para ninguém.
A propósito desta coisa dos impostos, o José Luís Albuquerque recordava há dias um livro para crianças e adolescentes, muito em voga nos anos setenta e oitenta (quase tanto como um certo quadro decorativo), com «500 perguntas e 1000 respostas». A pergunta 425 era justamente essa: «Porque temos que pagar impostos?» E a resposta - igualmente simples e que parece ser necessário ir recordando - rezava assim: «É preciso muito dinheiro para construir estradas, pontes, escolas, hospitais, etc., e para pagar aos funcionários públicos. É por isso que cada cidadão tem de pagar ao Estado um imposto, o qual varia conforme o que ganha. Os impostos são pagos em proveito do Estado e constituem uma soma de dinheiro utilizada em despesas de interesse público». Talvez hoje se devesse acrescentar «para pagar os desmandos e prejuízos de bancos mal geridos». Mas isso já seria, do ponto de vista do dito «interesse público», uma questão bem mais complicada.
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22 comentários:
Existem alguns comentadores fascistas neste espaço que passam por democratas: «Jose», «Jaime Santos» e «Estevesayres».
Para além de publicar um artigo, é também essencial rever e verificar se os fascistas existem nos comentários.
Os fascistas, como «Jaime Santos», «Jose» e «Estevesayres» se não forem bloqueados, estão todos os dias a comentar. O fascista dá-se bem em democracia, mas precisa de ser eliminado.
Bloquear os seus comentários, não é só um dever; é um acto revolucionário.
Paulo Alves
Em exercícios dialécticos as liberalidades geram liberalidades.
Mas uma coisa é certa, há um projecto político que requer aumentos do salário mínimo com escassa consideração sobre a sua racionalidade económica.
Talvez também fosse conveniente recordar os 50 biliões de euros que emigraram para os trópicos, entre 2001 e 2016, metade dos quais corresponde ao acumulado dos calotes nos bancos, que o contribuinte pagador de impostos foi obrigado a resgatar e que saíram do País, sem que a AT achasse conveniente taxar o que quer que fosse.
A Goldman sachsização da economia europeia já deu os belos resultados conhecidos na Grécia, mas parece que a Grécia ainda vai ser uma brincadeira de crianças um dia destes.
Paulo Alves,
É assim tão difícil ignorar os comentários dos trolls fascistas Jose, Jaime Santos, multinick Pimentel?
Temos agora o verdadeiro esquerdalho, o que não teme o ridículo, o revolucionário, o censor Alves!
O pagamento dos desmandos dos bancos, Nuno Serra, é do interesse público porque sem eles uma Economia não se financia e os cidadãos não são pagos. Mark Blyth, no seu livro sobre a austeridade, coloca esta questão de forma expressionista, dizendo que nos EUA há 300 e tal milhões de pessoas e outras tantas armas. Desligue-se a rede de caixas automáticas e está bom de ver a confusão que isso daria...
É claro que poderemos argumentar que perante a chantagem que o sector bancário coloca sobre a Economia e os Cidadãos, ele deveria ser público. Só que, pelo menos entre nós, o comportamento dos gestores públicos foi quase tão egrégio como o do privado (leia-se o BES). Quais os bancos que melhor aguentaram a crise? Os geridos por Espanhóis... O que mostra claramente que o problema é um de métodos de gestão e não tanto de quem detém a propriedade.
Quanto ao resto, absolutamente de acordo. A única questão que se pode colocar é saber até que ponto algumas empresas poderão resistir se tiverem que pagar mais aos funcionários. Mas até aí se pode dizer que se não forem capazes, se calhar o melhor mesmo é que deixem de existir e sejam substituídas por outras mais eficientes...
O subsídio de desemprego (pago pelas contribuições dos trabalhadores e não pelos nossos impostos, logo não se deveria sequer chamar subsídio e sim seguro obrigatório) cá estará para amparar quem irá perder o seu posto de trabalho...
Querem um País com um baixíssimo nível de impostos? O Paquistão. Quem quer mudar-se para lá?
Só para dizer que esta ilustração me atirou de repente para a tenra infância.
Raisparta, pá. Não se faz.
O santander safou-se bem, de facto: na "resolução" do banif, ficou com o activo; o passivo ficou por conta do contribuinte. Mérito da gestão privada ou resultado da subalternidade política nacional?
"Quais os bancos que melhor aguentaram a crise? Os geridos por Espanhóis..." Diz Jaime Santos, a ver se cola...
Cóf-Cóf! Cóf-Cóf! Maldita tosse!
Jaime Santos não ouviu falar no Bankia nem em artistas como Rodrigo Rato. LOL
Grande "artista", este Jaime Santos!
Safar os bancos significa safar os depositantes. Não me consta que os accionistas do BES e do BANIF tenham sido safos.
Mas que dá frases de alto conteúdo esquerdalho não tem dúvida, e isso é grande consolo.
E lá andamos nós por aqui, esquerda, direita ao invés de agarrar o touro pelos cornos.
Huummm, José "esquece" muito convenientemente o BPN. Ele lá sabe porquê.
E se o maior "crime" dos do BES, do ponto de vista das elites europeias, tiver sido as ligações ao estado, mesmo quando o governo era PS? Nesse caso "mereciam" por serem demasiado "nacionais".
Veja-se a diferença em relação ao que se passou em Espanha, onde tudo foi feito para abafar as escandaleiras. É também esta diferença que faz o tolinho do Jaime Santos chilrear os méritos da gestão espanhola. Acredite quem quiser.
Se "Safar os bancos significa safar os depositantes" então a garantia de depósitos do estado através dos bancos centrais bastaria.
Mas não, José, trata-se aqui de transferências de riqueza numa escala sem precedentes que escapa ao cidadão comum pelas formas enviesadas como se processa.
Huummm, regressado de um muito apreciado retiro, sempre acredita que o golpe certo era pagar a garantia de depósitos e pôr o Estado a banqueiro e a boyada a bancários.
A CGD dá a exacta medida desse sucesso de política, em que os intervalos de boa gestão são acidentes passageiros.
Se...
1 ST incomoda muita gente
2 ST incomodam, incomodam muito mais
3 ST incomodam muita gente
4 ST incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais
5 ST incomodam muita gente
6 ST incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais
7 ST incomodam muita gente
8 ST incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais...
Paulo Alves é um outro nickname de pimentel Ferreira
Percebe-se o que está a fazer
Hummm
Então as odes aos banqueiros que jose trauteava com o “Lá vamos cantando e rindo”?
Paulo alves é de facto pimentel ferreira multinick
Esqueceu-se de adicionar o seu nome à tríade que cita, num processo desonesto ( como
ele) e repugnante ( como quem?) de tentar abandalhar o nível do debate.
Pretende arrastar o que se discute para o nível do ruído do pseudo-rebolucionário da treta
Não passa
(Jose parece que regressou...Mas o que interessa isso para o que se debate?
Ah, estes tiques de prima-dona referencial, a mostrar que as Holas têm pasto neste tipo de personagens)
Vamos ao que interessa
E o que interessa são estas manhas do referido jose
Não consta que os bancos enquanto nacionalizados tenham sido alvo das manobras fraudulentas em que os banqueiros terratenentes se especializaram. Foi com a sua privatização que se foi revelando a verdadeira cepa de tais terratenentes, no dizer laudatório de um fazedor de poemas a tal tralha
A CGD dá a exacta dimensão de uma outra coisa.
Ou de muitas outras coisas
Os lugares na gestão do banco público serviram para distribuir lugares de acordo com prioridades que nada têm a ver com os interesses da CGD.
Recuámos a 1989, à época da privatização da banca, da criação da União Económica e Monetária e das maiorias absolutas do PSD, com Cavaco Silva como primeiro ministro. Analisados os dez mandatos que cobrem o período entre 1989 a 2015 e os números são claros: a passagem de ex-governantes, militantes, dirigentes e gente próxima do PSD, do PS e, a partir de 2004, do CDS tem sido regra na gestão da Caixa.
Mas uma análise caso a caso mostra outra realidade: a promiscuidade alastra-se ao regulador – o Banco de Portugal – e à banca privada. O que têm em comum Vieira Monteiro, Mira Amaral, Carlos Santos Ferreira, Tomás Correia e Jorge Tomé? Todos eles foram presidir a bancos privados depois de saíram da Caixa.
Os conselhos de administração da Caixa Geral de Depósitos foram, ao longo dos últimos anos, território ocupado por gente próxima do poder político e económico, que muitas vezes se confundem. Na verdade, a actual composição dos órgãos sociais da Caixa não mostram qualquer ruptura com este passado, pelo contrário. Paulo Mota Pinto, ex-deputado e dirigente do PSD, preside à Assembleia Geral. Rui Vilar é Presidente Não Executivo do Conselho de Administração. O Presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, S.A,Paulo Macedo é quem é, filho dilecto da banca privada e dos negócios na saúde
Vimos por onde andou a boyada invocada por jose.
Mas não passa outra coisa. É a tentativa de jose colar aos bancários os desmandos dos seus terratenentes banqueiros. Faz lembrar os mandantes de crimes, a tentar imputar a responsabilidade dos mesmos aos que lhes são subordinados e que estão tão abaixo da sua condição de abutres reais
De acordo com os dados divulgados pela Autoridade Bancária Europeia (EBA), 4.597 banqueiros embolsaram mais de um milhão de euros em 2016
A banca de investimento é responsável por mais de metade destes milionários.
Londres concentra mais de 75% do total de banqueiros milionários, uma vez que a capital britânica é, por larga margem, o maior centro financeiro do Velho Continente.
A EBA revela que a maioria dos banqueiros milionários arrecadou entre um e dois milhões de euros, mais de 500 ganharam mais de dois milhões e cerca de uma dúzia recebeu pelo menos 13 milhões de euros.
Um executivo na área de gestão de activos liderou a tabela, embolsando um total de mais de 33 milhões de euros, incluindo um bónus de 30 milhões.
Em Portugal, segundo a EBA, foram oito os banqueiros a ganharem acima de um milhão de euros em 2016 .
E são estes que dizem que o salário mínimo em Portugal é excessivo.
E é para esconder este tipo de "golpe certo" que jose debita estas tretas tão pindéricas como medíocres
O Cuco insiste em chamar banqueiroa a bancários, para que não se lhe desfaça o ramalhete da bondade da gestão da boyada em que sempre acaba a gestão pública ou que têm o poder público como referencial.
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