terça-feira, 7 de maio de 2019

O fim-de-semana político para além da táctica

Com o aproximar das eleições, António Costa rendeu-se à tese (que está por demonstrar) segundo a qual a imagem de um PS à esquerda abre espaço aos partidos de direita para conquistarem o eleitorado mais volátil (dito de centro). Ao mesmo tempo, uma legislatura bem-sucedida baseada em acordos com o PCP e o BE daria ao eleitorado de esquerda motivos para manter ou reforçar o voto nestes partidos. Por outras palavras, o PS estaria eternamente condenado a depender de terceiros para governar.

Daí que desde há uns meses o PS venha a ensaiar o seu reposicionamento, não perdendo uma oportunidade para sublinhar a distância que o separa dos partidos à sua esquerda. Fê-lo com a revisão das leis do trabalho, com as regras do alojamento local e com a nova lei de bases da saúde. Deste ponto de vista, o reconhecimento da progressão do tempo de serviço dos professores é só mais uma etapa no caminho do reposicionamento político.

Neste contexto, os socialistas não se inibiram de recorrer a uma retórica típica da direita, que põe os funcionários públicos uns contra os outros, os trabalhadores do sector privado contra os do público, e em que todas as diferenças de opinião são reduzidas a uma divisão entre responsabilidade e irresponsabilidade orçamental.

As intervenções de Costa e de outros líderes do PS visam transmitir uma mensagem que vai para lá da ideia das "contas certas". O PS está a querer mostrar que não acredita na possibilidade de chegar a acordo com os partidos à sua esquerda sobre matérias essenciais como o serviço nacional de saúde, a escola pública, os direitos laborais, as carreiras dos funcionários públicos ou a organização do Estado.

Não obstante a preocupação em não hostilizar demasiado o PCP e o BE - nunca se sabe o que o futuro reserva - o PS dá sinais crescentes de querer pôr fim a uma solução que trouxe estabilidade política e maior confiança na democracia, e que permitiu avanços evidentes na maturidade do sistema partidário português. Não admira que entre os principais entusiastas da ameaça de demissão do Primeiro-Ministro estejam os mais ferozes opositores dos acordos à esquerda.

Os dirigentes do PS terão as suas razões para seguir este caminho. As sondagens dos próximos meses e as eleições que aí vêm mostrarão se os eleitores validam esta opção.

(Excertos do meu texto no DN de hoje. Reservado a assinantes.)

19 comentários:

vitor disse...

Mas qual é a força política mundial que podendo governar sozinha não tenta tudo para alcançar a maioria absoluta? Já esteve muito mal no recuo na lei de bases da saúde. Diria mesmo hipócrita. Na medida em que não honra António Arnaut em nada. Um símbolo que o PS gosta muito de evocar. E de desonrar pelos vistos.

Já sobre o último fim-de-semana, não sei quem esteve pior. Qualquer governo tem toda a legitimidade para não governar com as medidas dos outros. A esquerda que não mudou em nada a sua posição não necessitava de expressar uma única palavra que fosse. Muito menos para vir exigir a continuidade de um governo que passou a legislatura toda a dizer que não era o seu. Só denotou medo da transferência de votos. Como num passado muito recente aliás. E é só o que me apraz comentar. Deixo as cambalhotas de uma direita nojenta para quem ainda se preocupa com uma direita nojenta. Só não resisto em constatar, também muito preocupada com a demissão de Costa. Em suma, todos exigem a continuação de Costa. No mínimo estranho, depois do que todos foram dizendo ao longo da legislatura.

Jose disse...

«avanços evidentes na maturidade do sistema partidário português» na esquerda não passa de um intervalo no delírio que lhes conforta as almas.

Também é evidente que a adesão à ditadura do proletariado (ainda que a esquerda a embrulhe nas mais diáfanas vestes democráticas) dita o fim do PS e trará soluções à direita.

O PS é uma fraude que balança de um pé a outro, mas teria que ser estúpido para aderir à onda esquerdalha em vésperas de eleições, numa economia que é capitalista e continuará a ser, que é privada e continuará a ser (só faltava ver o Estado a gerir produções de transformação com um mínimo de eficiência!).

Ricardo Paes Mamede disse...

Oh Jose, o que seria de nós sem a sua dedicação a este blogue.

S.T. disse...

Este post é muito interessante até para explicar o desembarque do troll "Pedro" aqui nas caixas de comentários dos LdB.

As afirmações do "Pedro" encaixam como uma luva nas tentativas de reposicionamento do PS.

O "Pedro" como produto da mesma trollfarm do Aónio Pimentel representa a aposta do lobby europeísta nos vectores que definem a estratégia de uma certa facção do PS:

Crítica dos partidos do passismo.
Ambiguidade em relação ao euro e às questões europeias.
Ambiguidade em relação ao neoliberalismo europeu.
Negação do conteúdo neoliberal do corpo regulamentar da EU.
Ataques aos movimentos soberanistas a nível europeu que impeçam uma frente anti-euro.
Ataques ao Brexit.
Avivar das clivagens entre comunistas e socialistas democráticos, com um piscar de olho aos bloquistas mas poucas aberturas a fórmulas de esquerda radical.

Faz sentido! A facção europeista de pendor blairista e terceira via do PS é a melhor aposta para tentar disputar as europeias e preparar, se necessário, uma aliança à direita tipo bloco central.

Do meu ponto de vista a solução que melhor serve os interesses do país seria precisamente o oposto, isto é, o reforço do peso eleitoral do BE e acessóriamente da CDU.

Resta saber se a melhor táctica para o BE é falar verdade e límpido sobre a questão do euro e da EU ou apostar também na ambiguidade e centrar o debate nas questões de justiça social.
Táctica essa sobre a qual me limito a equacionar, sem querer convencer.

A incógnita prende-se sobretudo com a sensibilidade que o eleitorado que flutua entre o PS e o BE pode ou não ter a uma exposição desapaixonada e muito racional dos condicionamentos que o euro e a EU impõem a qualquer governo que tente optar por uma política de maior justiça social. Falar a verdade de forma desapaixonada e até porque não envolve aspectos ideológicos poderia ser um novo factor diferenciador.

E se falar a verdade revolucionasse as franjas do PS e "pagasse" politicamente nas urnas para o BE?

S.T.

Jose disse...

Ricard, compreendo a sua emoção e fique descansado que me proponho não o desamparar.

Anónimo disse...

Ricardo Paes Mamede aponta o dedo às pretensões do PS de " querer pôr fim a uma solução que trouxe estabilidade política e maior confiança na democracia"

Vitor vem logo desculpabilizar o PS: "Mas qual é a força política mundial que podendo governar sozinha não tenta tudo para alcançar a maioria absoluta?" E ensaia esta desculpabilização, não pelos amores que nutre pelo PS, mas sim pelo rancor que tem pela solução que permitiu o arredar de Passos e Portas da governação do país

A porca começa logo por torcer o rabo com essa treta da maioria absoluta ao alcance da mão

Anónimo disse...

Esta tentativa de desculpabilização do PS esconde algo mais.Porque não é o PS que se pretende defender. Confirmado aliás por um flic-flac à retaguarda de "vitor", quando imediatamente e de seguida parte para uma crítica directa ao mesmo partido por causa do SNS.

Vitor tece até uma espécie de homenagem a Arnault.

Acontece que Vitor foi ( é ) um defensor das PPP. Para a saúde pois então. Ao lado da "direita nojenta" como agora a chama. E da ala correspondente do PS.

Mais. Há relatos pungentes de vitor em defesa de Paulo Macedo, perdão do Dr Paulo Macedo como reverentemente vitor o denomina. E do apoio de vitor à política de degradação dos serviços de saúde promovidos pelo ministro troikista da pasta.

Não joga a bota com a perdigota?

Pois não. Mas o vitor joga muito bem com o pedro pimentel ferreira

Anónimo disse...

A avaliação da coerência do que se expõe é um dos meios que temos apara aquilatar várias coisa de modo simultâneo.

Quando alguém diz que "não sabe quem esteve pior" está objectivamente a atirar poeira para os olhos. A generalização das responsabilidades permite esconder os verdadeiros responsáveis.
Uma velha táctica há muito conhecida

A tentativa de espalhar a peçonha pelas aldeias todas não resulta.

Porque todos sabemos quem esteve pior.

Ah e também todos sabemos que qualquer governo tem toda a legitimidade para não governar com as medidas dos outros.

Mas as medidas aprovadas não implicavam a actividade do governo em funções.

Pedro disse...

O PS "reposiciona-se" ?

Mas quem é que ainda não percebeu que o PS é um partido de direita que apenas negociou uns pontos específicos com a esquerda ?

Anónimo disse...

O alvo de vitor é a esquerda.

Diz vitor: "A esquerda que não mudou em nada a sua posição não necessitava de expressar uma única palavra que fosse"

Necessitava e necessita. Necessita de desmascarar a posição de chantagem do PS e necessita de expôr a hipocrisia e mediocridade duma direita que anda aos ziguezagues, qual ébrio a declamar poemas de origem duvidosa

Diz vitor : " Muito menos para vir exigir a continuidade de um governo que passou a legislatura toda a dizer que não era o seu "

A esquerda não exigiu a continuidade ou não continuidade do governo. O que fez foi apelar ao bom senso de António Costa. E ao respeito dos acordos com os professores.
E a esquerda passou toda a legislatura a dizer que o governo era do PS. Viabilizado por acordos pluri-partidários. Pena mas a verdade dos factos é para respeitar, embora se adivinhe o ressabiamento entre-linhas e entre-dentes

Diz vitor: "E é só o que me apraz comentar"

Todos percebemos o que afinal traz aqui vitor. O que lhe apraz comentar são estas tretas sobre a esquerda. Mentindo sobre o silêncio da esquerda, aldrabando sobre a exigência da esquerda, omitindo a falta de escrúpulos da direita e escamoteando posições de princípio

Pelo que o receio da proclamada "transferência de votos" do vitor mais não é que o seu próprio receio de a esquerda continuar a ter uma voz activa na solução dos problemas do país

(Pelo que a "nojenta direita" referida pelo vitor é apenas um isco para uma caução de "esquerda" que de tão idiota e pernóstica, nem merece mais comentários.)

Anónimo disse...

"O Governo, pelo Ministério da Educação, a 18 de novembro de 2017, assinou um acordo com os sindicatos de professores, onde se comprometeu a recuperar todo o tempo de serviço. É, por isso, falso que essa intenção seja uma conspiração da oposição ou resulte de uma ilusão criada pelos sindicatos de professores.
A recuperação total do tempo de serviço também foi proposta pelo PS. O PS, em Dezembro de 2017, recomendou a total recuperação do tempo de serviço, conforme se pode verificar no diário da república (Resolução da Assembleia da República n.º 1/2018). É, por isso, falso que o PS nunca apoiou a recuperação integral do tempo de serviço congelado.
Os valores apresentados pelo Governo sobre o custo da recuperação do tempo de serviço docente são falsos. Foi prometida há perto de um ano uma comissão para calcular os custos reais e até hoje não conhecemos o resultado do seu trabalho. Os números reais que estimamos, líquidos, rondam os 50 milhões de euros anuais, caso se opte pela solução da Região Autónoma da Madeira, de recuperar os 9 anos, 4 meses e 2 dias, no prazo de 7 anos. O Governo já apresentou por diversas vezes contas inflacionadas, com totais baseados em médias erróneas. Um grupo de professores verificou-as e constatou, segmentando os dados, a sua falsidade (https://guinote.wordpress.com/2019/01/21/as-nossas-contas/). Ora, uma mentira dita muitas vezes nunca se transformará em verdade.
A recuperação dos 2 anos, 9 meses e 18 dias em 2019 foi proposta do Ministério da Educação. Aliás, um recente decreto-lei do governo, que ainda aguarda promulgação, apresentou a possibilidade a todos os professores de recuperar parte desse tempo já em 2019. É, por isso, falso que o Governo não tenha verba no orçamento de 2019 para recuperar parte do tempo de serviço congelado. E, se o decreto do Governo é constitucional, então qualquer lei que a AR apresente, afirmando algo semelhante, também será.
A recente proposta aprovada na Comissão da Educação não altera um cêntimo ao Orçamento de Estado de 2019. O orçamento de 2020 ficará a cargo de próximo Governo, ainda por decidir nas próximas legislativas.
A proposta que tanta perturbação criou ao atual Governo e seus seguidores mediáticos nem traz nada de especial: a negociação continuará, ficando apenas assumido que, em parcelas e gradualmente, os 9 anos são para considerar na carreira (e não “devolver”, termo que cria a ilusão falsa de que se vai pagar o que ficou perdido para trás e que nunca ninguém pediu). Os professores perderam milhares de milhões com os cortes salariais durante a crise financeira, mas é falso que seja recuperar isso que está a ser discutido. O que se discute agora é se o tempo de trabalho efetivamente prestado desaparece (ou não) da carreira dos professores.
O Primeiro- Ministro, na sua declaração de eventual e coativa demissão, falou em falta de equidade e que a votação parlamentar punha em causa a credibilidade internacional. Lembre-se que mesmo as contas inflacionadas do Governo apontam apenas para um acréscimo no défice de 0,2 a 0,3 pontos percentuais. Quanto à credibilidade internacional, não foram os salários dos professores e restantes funcionários públicos que levaram a uma intervenção por parte da Troika. Aos bancos, que agora se descobre que foram causa primeira do descalabro financeiro, por via de empréstimos e investimentos ruinosos, nunca é contestado qualquer capital para novas injeções financeiras, nem se alega falta de credibilidade internacional por se continuar sem apurar responsabilidades."

Anónimo disse...

Jose está de facto descompensado.

Desconfortado da alma, em busca de opressão do operariado, embrulhado nas mais diáfanas vestes do disparate, capitalista que é capitalista, em busca dos interesses privados geridos com a eficiência de um banqueiro. Terratenente, claro.

Tais elucubrações perturbadas serão provavelmente fruto da época que atravessamos. Ainda não se refez da magnífica prenda de aniversário que o MFA lhe ofertou

Pedro disse...

O PS nunca balançou.

Sempre esteve bem apoiado no seu pé direito.

Quanto à sua treta privatizadora, basta ver a vergonha em que deram a maior parte das privatizações em Portugal.

Foi um festival de roubalheira até às falências que agora todos temos que pagar.

S.T. disse...

Reforçando a tese que exponho em comentário acima, reitero que a verdade é a mais poderosa e revolucionária de todas as armas.

Os eleitores não são atrasados mentais que possam ou devam ser mantidos na ignorância, pelo que a exposição clara e precisa das implicações da pertença à zona euro com todas as suas gravosas consequências para o futuro do país é um dever acima de qualquer fidelidade ideológica ou conveniência política.

S.T.

Paulo Rodrigues disse...

O PS devia aprender o que tem acontecido com os outros partidos socialistas por essa europa fora, a começar pela Grécia e França.

Anónimo disse...

Sim Pedro. Já percebemos. O Vitor já aqui deu a deixa para o mesmo Vitor, sob a designação de Pedro, vir tentar continuar o seu trabalhinho

Anónimo disse...

não é um querido este pedro?

A fingir-se de rebolucionario enquanto vomita ódio pelas entranhas a tudo o que seja esquerda. E agora blablabla e as privatizações e mais blablabla

A manipulação da tralha neoliberal não conhece limites

Anónimo disse...

Como alguém lembrou acima, o PS só não se desintegrou porque o PCP e BE lhe deram a mão pois sabiam que a sua ampla base de apoio não iria tolerar que permitissem o facto de Passos Coelho e a sua trupe tivesse continuado no poder e alguns lá no PCP e BE também sabiam que Portugal poderia não aguentar mas isso é outra coisa.
António Costa como bom socialista forjou a aliança na noite da derrota o resto é história.
O ideal para Portugal teria sido António Costa ter-se demitido, o PS entrar em gestão e aprovar com a sua abstenção o governo de Passos e Portas o que originaria o fim do PS, o que seria benéfico para a democracia e sobretudo para Portugal. As promessas que não iriam ser cumpridas pelo governo de Passos e Portas (como a da devolução da sobretaxa) fariam o castelo do centrão de interesses e da direita "liberalizante" cair estrondosamente com a necessária e urgente (ainda hoje) formação de novos partidos provenientes não de lóbis mas da sociedade civil.
O centrão de interesses continua pujante (só tem um obstáculo) e a direita liberalizante arranjou novas roupagens e também ataca esse obstáculo, a questão fulcral é saber se o obstáculo que poderá ganhar as eleições não terá de enfrentar uma tormenta externa...

WW


Rão Arques disse...

C.2 Porque com a costumada falta de vergonha.