O que leva o governo a considerar uma «bomba orçamental», com a qual não pode continuar a governar, uma medida que parece da mais elementar justiça social e que implica dotações orçamentais bem menos pesadas e discutíveis do que as que assume quando injecta dinheiro nessa «conta calada» que é o fundo de resolução do Novo Banco, em benefício de um «fundo abutre» como o Lone Star (ver, nesta edição, o artigo de Manuel Brandão Alves), ou quando alimenta com dinheiro do Orçamento do Estado negócios privados como o da saúde? O que leva o governo a esquecer que não há «sustentabilidade futura» para a escola pública sem profissionais motivados para desempenhar uma das profissões mais decisivas para tudo o que de bom ocorre numa sociedade – da coesão social à produtividade no trabalho, do conhecimento aos valores das gerações futuras? Será que o governo considera que esta contagem integral do tempo de serviço prejudica eventuais propósitos de revisão do Estatuto da Carreira Docente, numa próxima legislatura, para os quais poderá contar com o apoio da direita? (...)
A questão dos professores só nos desvia do debate sobre as eleições para o Parlamento Europeu se nos recusarmos a ver como a sua luta está a embater no muro europeu e, com isso, a pôr a nu os limites de se combater a austeridade sem afrontar a União Europeia.
Sandra Monteiro, Os professores no muro europeu, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Maio de 2019.
Para lá de excertos do editorial de Sandra Monteiro, que podem ler na íntegra no sítio do jornal, deixo-vos, como sempre, o resumo deste número:
“Na edição de Maio, destacamos uma análise de Maria Clara Murteira sobre as ‘novas-velhas profecias sobre o futuro das pensões’. Num contexto de discussão sobre as prioridades orçamentais, suscitada pela contagem do tempo de serviço dos professores, regressamos, numa análise de Manuel Brandão Alves, à solução ruinosa encontrada para o Novo Banco. As dragagens planeadas para o estuário do rio Sado levam Luís Fazendeiro a perguntar quem beneficia do projecto e que preço se paga por ele. Luís Bernardo reflecte sobre uma dimensão particular do projecto liberal, a da sua relação com a liberdade religiosa e com o Estado. A cartografia de uma paisagem sonora em bairros de Lisboa é trazida por Fernando Ramalho e Ana Moya Pellitero, enquanto Cecília Silveira assina uma banda desenhada sobre as voltas do mundo.
No internacional, salientamos uma reflexão de Wolfgang Streeck sobre a União Europeia, um ‘império à beira da ruptura’, e questionamos as possibilidades de uma política industrial europeia. As repercussões do Relatório Mueller, nos Estados Unidos, e as evoluções do caso de Julian Assange são também uma proposta de Maio. Neste mês do trabalho, fomos ainda à procura das tensões e desafios ao sindicalismo numa França marcada pela contestação dos ‘coletes amarelos’. Continuamos a acompanhar as movimentações sociais e políticas na Argélia, olhando para o papel dos adeptos de futebol, e no Sudão. E passeamos pelo bairro de Notre-Dame, a ‘catedral ferida’.”
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2 comentários:
Uma esquerda sem outra ambição ou visão do mundo que ultrapasse encontrar poiso num qualquer microcosmo de um mundo para o qual globalização e paz são sinónimos.
Uma esquerda que, órfã de um império a que se possa colar, abandona um internacionalismo reformador para ambicionar uma qualquer autarcia, sendo que até os mais degradados exemplos mobilizam o seu apoio.
Uma esquerda para a qual a casuística das reivindicações proletárias são o alfa e o ómega das transformações sociais, sem outro critério que não uma qualquer adesão prosélita à Luta.
Por hoje é o que me apetece dizer.
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Ah, estes arrufos de conde d Abranhos a sobrarem entre os viúvos do antigamente
Com aquele tom pernóstico de “ é tudo o que me apetece dizer”, qual virgem donzel a fazer birra quando enfrenta a oposição dos que não vão em tretas de papa-hóstias
Nem em sonsos a armar ao pingarelho
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