domingo, 19 de maio de 2019

Já não há paciência


Confesso que já não tenho qualquer paciência para os queixumes, mais ou menos cínicos, mais ou menos ingénuos, de intelectuais e políticos europeístas: ai que não se discute a tal Europa nas chamadas eleições europeias; ai que se está a perder mais uma oportunidade, ainda para mais agora que é tudo tão importante, etc, etc, etc, até ao tédio final.

Os mais ingénuos parecem achar que as relações internacionais são uma espécie de colóquio sobre relações internacionais. Os mais cínicos sabem que as eleições europeias são no fundo um simulacro, dado que a UE é uma superestrutura pós-democrática, feita para esvaziar a democracia onde há povo, nas nações europeias.

Perante este estado de coisas, há duas hipóteses: a primeira, consiste basicamente na ignorância, na ignorância racional, como lhe chamam alguns economistas convencionais, sabendo que não se pode fazer grande coisa para mudar o estado de coisas ao nível de um Parlamento Europeu (PE) que francamente nunca devia ter sido criado; a segunda, consiste em usar todas as oportunidades e todos os espaços, mesmo o que parecem mais irrelevantes, para popularizar uma certa noção do interesse nacional. Eu favoreço a segunda hipótese, mas acho que a primeira pode ajudar a explicar uma parte da abstenção.

Sim, nestas eleições só se devem levantar questões nacionais, sabendo que estas exigem uma atitude de defesa perante a UE realmente existente. Sim, precisamos de uma espécie de realismo defensivo, em versão radicalmente democrática.

7 comentários:

Aleixo disse...

" Já não há paciência " e, só o alienar das podres elites,

em troca de fátuas comendas que adornam os cosmopolitas de serviço, sustenta este caminho...

de "Miguéis Vasconcelos".

Jaime Santos disse...

Que interessante o João Rodrigues defender este ponto de vista e depois vir fazer profissão de fé de que, desmantelada a UE, as relações entre Estados passarão a reger-se pela harmonia da cooperação entre Soberanos.

Claro que assim não será. Os fortes dominarão os fracos, como sempre foi e será, sem sequer se terem que dar à hipocrisia de defender uma qualquer ordem internacional. Aliás, é justamente por isso que Trump defende exatamente a mesma posição (make their countries great again, pois!).

Os populistas são todos iguais. Cínicos sem vergonha que, saliente-se, funciona como um poderoso constrangimento à ação. E querem tomar-nos por parvos fazendo-nos acreditar que, além do horizonte, existe um paraíso cujos contornos não conseguem (não querem) precisar. Deus nos livre!

De facto, há ainda menos pachorra para aturar quem nos quer vender estes sonhos de soberania num dia e no outro vem cantar loas à defunta URSS (e a um sistema autocrático e falido), que interferia a bel-prazer nos seus Estados Satélites.

Pelo menos Bruxelas nunca mandou tanques para a capital de um dos estados membros da UE...

Anónimo disse...

Este Jaime Santos é mesmo um disco riscado, um verdadeiro treteiro

Aleixo disse...

"Cheira-me"... que o Jaime Santos de pequenino, nunca andou à porrada!

"Quem vai à guerra dá e leva" - um axioma, para carácter.

Os fracos, não precisam de ser invertebrados rastejantes.
A fraqueza, também pode ser digna!

É claro que há quem goste de estar sempre de cócoras.

Alice disse...

Tanques para a capital?
Mas Jaime Santos não percebe nada do que se passa na Grécia?
Tanques custam muito dinheiro e já não é preciso apontar armas para pôr um país de cócoras. Desde há uns bons anos!

Geringonço disse...

A minha paciência para o "Europeísmo" já não existe há algum tempo...

OakWood disse...

Tal como já não há paciência com as falsas preocupações com os populismos, que se traduzem em tempo de antena a partidos fascistas europeus em doses maiores do que alguns têm cá em Portugal, por sinal antifascistas desde sempre. Também há este fenómeno interessante, não tendo nada de novo, na realidade, de os grandes defensores da UE e grandes denunciadores dos populismos nacionalistas sejam os mesmos arreganhados defensores do liberalismo totalitário, do esmagamento de direitos e da dignidade dos povos e em particular dos trabalhadores.

Mais: usando e abusando do truque de colocar no saco dos populismos programas soberanistas de base anti-liberal e democrática e amarfanhadas declarações racistas, anti-populares e anti-democráticas, defensores do mesmo capitalismo liberal (se outro há), apenas mais opressor e repressivo.

Assim avança o fascismo: quando os fascistas se declaram democratas, até preocupados com o avanço do fascismo, ao mesmo tempo vilipendiando todos aqueles que verdadeiramente querem combater as suas causas mais profundas, e escancarando as portas a todos os mecanismos sociais e comunicacionais que o promovem.

Porque tudo o que cheire a moscovo, a vermelho, a muro de berlim? Isso é que não!!! Se cheirar a berlim, a washington, a suástica, a misticismos evangélicos, a muro em gaza, nicósia ou méxico... Ok, é preocupante, mas é a falência daquela democracia que eles querem ver falir. Para a reinventar, reformar, projecto europeu e o diabo a sete...