domingo, 11 de dezembro de 2016

Dívida e controlo

Nada mais claro. E nada mais actual, como se pode ler no post anterior do João Rodrigues.


Este curto diálogo é um excerto de um pequeno filme The International, divulgado em plena crise financeira (2009). Claro que o resto do filme é mais uma enorme correria, com montes de tiros, heróis/actores e aquela tom azulado-cartão de visita dos filmes de "acção", do que a ideia de que de nada vale derrubar um banco porque outro o substituirá. Não é a ideia de que o sistema explica as peças, mas mais que é impossível derrubar o sistema, porque o sistema é isto: omnipresente, somos nós ("o nosso modo de vida") e não há outro. Ou então, mata-se chefe do banco mau, e todos viveram felizes desde então. As duas mensagens passam no fim.

Aliás, tivesse eu tempo tentaria investigar sobre a importância - actualidade e intenção - do cinema norte-americano mainstream e dos filmes que se passam a cada minuto no cabo.

Assim como, nos anos vinte, a Revolução Russa ergueu a arte do cinema ao instrumento de mostrar o que não se vê, impregnada da vivacidade desses esperançosos tempo de mudança ("é preciso dar ao povo o que ele não sabe"), hoje o cinema que nos é entregue em casa parece promover um denso cocktail de combinação de valores conservadores ("é preciso dar ao povo o que ele quer", "não arrisques porque perderás"), visões do que se passa a cada minuto (género: "os russos são o inimigo", "devemos matar os nossos inimigos sem julgamento") e, mais do que tudo, de interpretações da História, como forma de a refazer a cada momento, para corroborar o que se pretende na actualidade ("Quem domina o presente, domina o passado e quem domina o passado, domina o futuro").

Mas de ora em quando há momentos de lucidez neste carrocel. Como se, nesta imensa letargia, nos despertassem num instante, nos seduzissem com o sabor da vida, para melhor nos adormecer de seguida, com uma avalanche de imagens/ideias sem valor. Sem risco. Medrosas e corrompidas.

18 comentários:

Jose disse...

Enquanto as 'conquistas' e os 'direitos' forem medidos pelos valores em uso, o sistema prevalecerá.

Jaime Santos disse...

Já aqui uma vez se fez (já não me recordo quem) o elogio de um filme do James Bond onde a personagem então interpretada por Moore deitava um vilão numa cadeira de rodas por uma chaminé a baixo (!). Agora, parece que devemos ler nas entrelinhas de uma obra mais ou menos medíocre. Cuidado com o pensamento demasiado literal. Mas talvez tenha razão. Nos anos 70, Emmanuel Todd foi aparentemente buscar pistas para a escrita da sua obra 'A queda final', sobre um colapso mais ou menos eminente da URSS, à ficção científica desse país, menos sujeita à censura. E acertou em cheio. Quanto ao medo, ele é talvez o mais poderoso meio de dominação política que existe. Medo da perda do pouco que se tem, medo pelos seus, especialmente pelas suas crianças, medo do estranho... O único antídoto é, claro está, a esperança. Mas aí, claro está, a pergunta que se segue é que esperança podem fornecer um conjunto de ideias falidas, que mostraram até à exaustão que não podem gerar nada que não seja despotismo, penúria e destruição ambiental, com um cortejo infindável de mortos. Refiro-me, claro, ao Socialismo Estatista em versão soviética, de que ainda se tecem loas nestas páginas. Recordo-lhe que Burke previu em 1790 que a Revolução Francesa iria terminar num mar de sangue, e também acertou em cheio... Quando não se tem muita moral para falar, não é surpreendente que ninguém nos ouça...

João Ramos de Almeida disse...

Caro Jaime,

Juro que da próxima vez farei referências a mais distintas produções cinematográficas. O pecado é meu, que vou vendo estas coisas, sabe-se lá porquê, encontrando sinais da actualidade no que deveria ir para o lixo.

Quanto ao elogio das revoluções, algo deve se estar a passar. Já é a segunda ou terceira vez que discuto isso com pessoas amigas:
1) É claro que as revoluções são violentas, mas elas não o são por acaso: são uma resposta à extrema violência que é exercida pela sociedade que as gera.
2) Quanto ao seu valor: aonde estaríamos sem essas revoluções?
3) Mesmo que não se reconheça a sua origem nem o seu valor, então faça-se tudo para as evitar. E isso implica mais compreensão para com as ideias opostas, em vez de as reprimir.





Anónimo disse...

O medo das revoluções aqui estampado desta forma clara e o salivar perpétuo contra tudo o que não seja a fila pirilau das condições em que vivemos

Entretano o elogio de Burke , um ideólogo dos conservadores e que é usado pelos liberais, quando convém.

Este é o exemplo a seguir? Atrás dum feroz teórico anti-revolução francesa que no seu patológico ódio aos ideais que sopravam de França disse que a Revolução ia acabar num banho de Sangue?

Mas não foi isso que se passou nos dias de hoje com a Líbia, onde se previu um banho de sangue? E o que fizeram os conservadores à la Burke?

Como é possivel que ainda haja gente que conteste o enorme salto em frente da revolução francesa que inaugurou outra época e outros ventos?
Ó Jaime Santos sabe o que foi banho de sangue? Foi o que os ingleses fizeram na India por exemplo. E não chora estes mortos? E não cita Burke a tal propósito apesar deste nem ser dos piores colonizadores?

Compreende-se. JS por ele ainda estaria a servir nas cavalariças do senhor feudal. Ah, espera, ele imagina-se neste último papel

Anónimo disse...

Todo este sistema terá uma resposta à altura, a emancipação será o caminho, a determinada altura já nenhuma das tentativas de esconder o óbvio terá qualquer efeito.

Jose disse...

«...mais compreensão para com as ideias opostas, em vez de as reprimir.»

Quando a ideia é impor uma total e completa reorganização da sociedade, ainda que que haja compreensão, qual é o limite para a acção que não signifique aceitação?
Porque não o experimentalismo cooperativista, para começar? Dá muito trabalho? Faltam candidatos?

Anónimo disse...

Experimentalismo cooperativo para começar?

Herr bose de caras e de frente. Na Líbia por exemplo. Porque não se começou pelo dito experimentaliamo? Deu muito trabalho? Faltaram candidatos?

Mas herr Jose apresentou-se como tal urrando pela intervenção da Nato para por ordem no cooperativismo

Anónimo disse...

E herr Jose quando no último quartel do século XVIII a população se revoltou contra uma sociedade abjecta dominada pela nobreza ávida, corrupta, parasita, elitista e exploradora qual o limite para a sua acção? E porque não sugeriu Maria Antonieta o experimentalismo cooperarivo quando lhe disseram que o povo morria de fome? Dava muito trabalho? Faltavam candidatos?

A.R.A disse...

Ora aqui está um tema que muito aprecio:
- O cinema como poderoso meio propagandista de ideais e manipulação das massas!

Após décadas de cinema ao serviço da politica norte-americana, a década de 80, apogeu do conservadorismo de Reagan, com os Comandos, Rambos e Desaparecidos em combate, foi o êxtase da supremacia imperialista norte-americana celebrada pelo seu "altruísmo" em defesa dos valores "ocidentais" do mundo "livre".

De lá para cá passámos a ver uma América onde filmes como "Syiriana" ou"Green Zone" foram um didáctico exercício visual mainstream para repor alguma decência na "verdade" em que os valores ocidentais estão alicerçados. Muitos foram os filmes que o fizeram mas que nunca chegaram ao grande publico, ficando-se por produções independentes quasi no anonimato.

Aliás, pouco ou nada se ouviu falar de um excelente filme, baseado em factos reais, que demonstra o poder oculto das agências de segurança como a CIA ou FBI sempre tiveram (e têm, como ficou demonstrado nestas ultimas eleições americanas!) sobre o rumo do seu país e, por consequência (e eu que sempre pensei que seria o oposto) sobre o mundo.

Caro João Ramos de Almeida, recomendo-lhe o filme "Kill the Messenger" de Michael Cuesta, um dos tais exemplos que tão bem partilhou acima.

Bons filmes .....

Anónimo disse...

E herr Jose quando em vésperas do 25 de Abril a brigada do reumático foi ao beija-mão à cúpula do estado,porque é que um dos sicários não segredou ao ouvido de Marcelo que o que era mesmo preciso era o experimentalismo cooperativo?

Dava trabalho é certo, mas a guerra colonial podia manter-se por mais uns anitos para glória do luzidio e lustroso colonialismo português. Os mortos continuariam a aumentar, bem como o sacrifício das populaçoes, mas o que era isso para os objectivos a alcançar?

Jose disse...

O inquieto comentador, dá saltos geográficópolíticos, desatinado com um simples facto:
O essencial dos revolucionários socialistas não é viver o socialismo - que o cooperativismo traduz em plenitude - mas assaltar o capital e reinar sobre as massas!
Compreensível; ser socialista não é fácil; acumular capital não é simples; assaltar e cavalgar o poder é o mais eficaz, rápido e gozoso.

Anónimo disse...

O cooperativismo traduz em tudo?

Herr jose vossemecê desatina

Foge aí, como o diabo da cruz, do exposto no post.

Apressado cavalga a besta depois de saber que os assaltantes mais tarde ou mais cedo podem ser chamados ao juízo dos povos.O Capital assaltante pode ser chamado a prestar contas. É por isso que exalta os offshores, herr José?

Ei-lo à desfilada, tentando fugir. Da Revolução Francesa ou do caso da Líbia. E evidentemente do 25 de Abril de 1974.

Onde estava herr Jose? No fundo de uma caserna, mal se contendo e vertendo-se.

O assalto ao poder do fascismo caquético teve aí o seu dobre de finados. O capitalismo monopolista do estado , servindo os donos disto tudo, assaltava e cavalgava o poder por ser mais rápido , gozoso e mais eficaz.

Mas isso sabe herr Jose melhor que ninguém. Fazia parte da corte

Anónimo disse...

"Neste dia,( 8 de Dezembro, no ano de 1383, começava em Lisboa a primeira revolução burguesa do mundo. Revolução, pela mesma razão que ninguém ousaria chamar «interregno» à Revolução Francesa nem «crise» ao 25 de Abril. Burguesa, porque, ainda que pavorosa aos próprios netos, inaugurou definitivamente o poder dos «homens honrados pela fazenda». E, à semelhança da revolução francesa ou do 25 de Abril, a revolução portuguesa de 1383-1385 também foi condenada ao olvido e à mentira­­ – com a diferença, no entanto, de mais séculos de avanço.

Há 633 anos, a regente Leonor Teles, numa fuga desesperada para Alenquer, prometia esmagar a Revolução queimando Lisboa com «mau fogo», ará-la a carros de bois e encher tonéis com as línguas das mulheres revolucionárias. A redoma de silêncio que cobriu a Revolução quase faz crer que se cumpriu o vaticínio de Leonor. Porque se calaram as vozes de 1383? Quem mandou cortar as línguas dos sublevados de Lisboa?

Compreende-se o desconforto que a Revolução inspira na actual classe dominante: a geração de Soares dos Santos, Américo Amorim e Ricardo Salgado tem mais em comum com os senhores feudais parasitários que, em 1383 se passaram para o lado de Castela do que com a burguesia revolucionária de Álvaro Pais, Gil Fernandes e Álvaro Coitado, construtores conscientes do capitalismo embrionário a que Fernão Lopes chama a Sétima Idade do Mundo «na qual se levantou outro mundo novo e nova geração de gentes, porque filhos de homens de tão baixa condição».

Mas o ódio de morte que, ainda hoje, o capital tem à Revolução de 1383-1385 é mais profundo que a degradação histórica de uma burguesia avinagrada pelos séculos. O que mais assusta os novos senhores das novas glebas é esta inegável verdade histórica: a primeira revolução burguesa do mundo não foi feita pela burguesia, mas pelos trabalhadores. Sob a liderança de ricos mercadores e «homens de cabedal», quem derrubou a velha ordem foram os miseráveis cabaneiros e a «malta das vinhas» sem terra nem pão; foram os braceiros, cabreiros e ovelheiros enlouquecidos pela fome; foram os menestrais das cidades em luta contra os salários tabelados; foram os mancebos e pastores indignados com a Lei das Sesmarias. Foram, como escreve Fernão Lopes, os «ventres ao sol».
(António Santos)


Anónimo disse...

Por acaso as as Cooperativas formadas pelos trabalhadores depois do 25 A foram criminosamente destruidas logo após os idos de Novembro.

Com o apoio aos berros do grande patronato que entretanto contratava peritos para o efeito

Indo mais a fundo:

“. As empresas cooperativas não conseguem efectuar transformações sociais. As melhorias sociais que conseguem, algumas isoladamente e espectaculares, não permitem reverter a tendência global de manutenção e ampliação das desigualdades que existem na formação social capitalista. Como empresas que dependem do mercado capitalista, as mesmas devem constantemente se ajustar ao mesmo, transformando-se numa complementação deste ou… desaparecendo”

” A partir do final do século XIX, com o capitalismo em fase monopolista e imperialista, as possibilidades das empresas cooperativas como via de transformação social, ficaram definitivamente eliminadas dentro do sistema capitalista. As mesmas são sistematicamente deslocadas para funções secundárias e complementares do processo de acumulação do capital”

Basta olhar em redor. E aproveitar para denunciar os néscios " Dava muito trabalho? Faltavam candidatos?" com que querem denegrir quem trabalha e é explorado.

Jose disse...

Tadinhas das cooperatuvas, vitimas do capitalismo e as do ensino vitimadas pela escola pública!
A concorrência é o mal dos povos soberanos; quem se afasta da sua economia de subsistência nunca mais tem sossego, está desgraçado!

Anónimo disse...

o que é preciso para mais uma vez desmascarar um pobre diabo que anda em serviço cívíco?

Estender-lhe um pequeno estratagema

Repare-se como se cala. Como se cala e muda a discursata.

De como nem um pio sobre a acusação da eliminação do papel das cooperativas na fase do domínio monopolista e oligo-monopolista. Elas não podem eliminar (infelizmente) o quadro social em que se inserem. E com a desgraça do patronato que temos e com a sua avidez para o aumento da taxa de lucro, sacrificando tudo e todos, é pela acumulação do capital que vão singrando. Sem quaisquer peias. Com a corrupção endémica no quadro deste neo-liberalismo sem vergonha.

E enche a boca pela "concorrência" e faz o seu papel de pantomina grotesca falando em economia de subsistência mas depois é ver como esta se processa, atrás de coisas bem sujas como a ex-ministra SWAPP

Anónimo disse...

Mas o mantra muda.

O abjecto "Dá muito trabalho? Faltam candidatos" transforma-se no "tadinhas das coooperativas" .

Com a carranca à mostra, muda-se o paleio.

Mantém-se o serviço



Anónimo disse...

Talvez seja bom lembrar ao do das tadinhas das cooperativas que estas não têm ao seu serviço as lagardes, junkers ou barrosos. Nem Albuquerques, coelhos ou portas. Nem ddt,champallimauds ou manueis doa santos.
E também nao têm dinheiro para pagar peritos. Mesmo que de qualidade duvidosa