terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Ao café com Vítor Bento sobre o SMN

Gostei de ver ontem Vítor Bento a sentar-se à mesa do debate com o Ricardo Paes Mamede e a ter uma conversa de café sobre o salário mínimo nacional (SMN). Não menosprezemos a conversa de café porque, emotivamente, essa é a componente mais eficaz do argumentário de direita.

Primeira linha de defesa: "É um tema difícil porque mistura a emoção com a razão", "a justiça aparente" com a "justiça real, que é aquilo que pode ser. E aquilo que pode ser é-nos desagradável e é por isso que reagimos de forma muito emotiva". "É óbvio que o SMN é muito baixo, como são baixos todos os salários", corrigindo depois para "em geral".
--> Pois, não são todos os salários que são muito baixos. Há salários muito baixos e salários muito altos, o que faz com que um aumento do SMN pese muito pouco na massa salarial conjunta. E por isso é fundamental fazer contas antes de argumentar. Mas já lá vamos.

Segunda linha de defesa. Aumentar o SMN tem mais "consequências adversas" que os benefícios porque há muita gente com SMN. Há 30% dos assalariados e este número tem vindo a aumentar: "isto significa que e uma variável restritiva. E está cada vez mais próximo do salário mediano". "Somos a segunda ou terceira economia da OCDE com uma relação mais elevada entre o SMN e o salário mediano". E "temos um desemprego muito elevado".
--> Mas depois - já não falando do facto de, se há uma elevada percentagem de trabalhadores com SMN, é porque há uma elevada probabilidade de pessoas trabalharem e serem pobres - a ideia de Bento não resiste ao mínimo embate de actualização de números: Não, não são 30%, são 21,1% diz o último relatório oficial trimestral de acompanhamento do SMN. Não, não somos a segunda ou terceira economia da OCDE, mas somos "das mais elevadas" da OCDE. "Pronto, ok", diz Vitor Bento. E pega num artigo do Luís Aguiar-Conraria, que é da Universidade do Minho, publicado no Observador. E fecha com a ideia: "Eu não tenho opinião, não fiz cálculos, se 557 euros é muito, se é pouco, mas temos de ter em atenção que...", rematou Bento.

Terceira linha de defesa: "Os estudos credenciados e credíveis dizem que um aumento do SMN pode levar a uma redução do emprego". Um aumento de 1% pode levar à queda do emprego de 1 a 2%".
--> E depois escolhe o estudo - entre centenas que existem, segundo o Ricardo - que vai ao encontro da teoria que defende... 

Quarta linha de defesa: "O salário mínimo pode criar desemprego" ao dificultar a vida das empresa e impedir mais emprego.
--> Mas depois não rebate os números existentes que mostram que um aumento do SMN tem um impacto marginal na massa salarial. E isso porque a assimetria salarial é de tal ordem que o encargo com SMN mal pesa nos salários pagos. O Ricardo Paes Mamede fez referência à sua experiência no Ministério da Economia em 2008 e chegou a um valor "irrisório" do aumento do SMN (0,13% da massa salarial), mas há um ano o Observatório sobre Crises e Alternativas fez essas contas com base nos Quadros de Pessoal de 2012 e chegou à mesma conclusão. Uma subida na altura de 505 para 532 euros (aumento de quase 30 euros) , representaria mais 0,6% da massa salarial das empresas em geral, que por sua vez representariam 0,13% dos custos totais de produção! E mesmo que fosse de 505 para 600 euros representaria um aumento de 2,9% da massa salarial e de 0,6% dos custos totais de produção!

Quinta e última linha de defesa: "O tecido empresarial nacional é o que é e é feito de micro-empresas".
--> Mas depois não apresenta números sobre o impacto nesse universo de empresas. Ora, o estudo já citado do Observatório conclui que mesmo para as micro-empresas (com 40% do seu pessoal com SMN) e para os sectores mais trabalho intensivos (vestuário = 78% do pessoal) o impacto seria relativamente pequeno.
Micro-empresas: Aumento de 505 para 532 euros corresponderia a aumento da massa salarial de 1,5%. Se fosse para 600 euros (mais 95 euros) o aumento seria de 6,1%.
Vestuário: Aumento de 505 para 532 euros representaria uma subida da massa salarial de 3,1% no vestuário. Se fosse para 600 euros (mais 95 euros) o aumento seria de 11,3%.

A conversa de café é ilusória, mas é tão eficaz. Porque nos obriga a falar de tanta coisa para contestar uma ideia (mal) feita.

10 comentários:

Anónimo disse...

Esperar que um neoliberal bem instalado na vida apresente factos é o mesmo que esperar a segunda vinda de Cristo...

Os neoliberais são assim, inventam, inventam e inventam ainda mais, contudo, têm um objetivo claro, o máximo lucro para o capitalista e a máxima exploração do trabalhador.

Mas o objectivo não se fica por lucro máximo/ exploração máxima.

O derradeiro objectivo dos neoliberais é reinstalar a aristocracia, a economia é uma mera ferramenta de forma atingir esse objectivo.


[fora do assunto]

Não é interessante ver as “elites” a serem condenadas por crimes e depois nada de maior lhes acontecer, como é o caso da madame Lagarde?

Anónimo disse...

Aos poucos a pouca credibilidade desta gente vai sendo exposta, mas nunca nos devemos esquecer da pouca seriedade das pessoas porque é grave andar durante anos a veicular informação que prejudica os mais fracos. É estranho o facto destas pessoas não terem quaisquer problemas de consciência, parecem ignorar todo o rasto destruição deixado por aquilo que defendem.

Anónimo disse...

Nesta matéria estou de acordo com o PC. O SMN já devia estar nos 600€.

Anónimo disse...

Este? O que se esqueceu de assinar a rescisão do BdP?

http://www.rtp.pt/noticias/economia/vitor-bento-presidiu-ao-bes-enquanto-funcionario-do-banco-de-portugal_n774307

Merece tanta credibilidade quanto uma nota de 6 euros.

Jose disse...

«...pesa muito pouco na massa salarial...»
E isso diz o quê? Somos todos funcionários públicos?

«...mas somos das mais elevadas da OCDE» Uf! Que alívio!

«.., o estudo...que vai ao encontro da teoria que defende...» Que descaramento! Admite-se lá tal coisa!

«Desemprego...» Nem pensar, se não somos todos funcionários públicos, façamos de conta.

«...?...» Ao fim e ao cabo só uma meia dúzia de actividades irão ter dificuldades e naturalmente que é para isso que existe o Fundo do desemprego. Deixemos isso a cargo do Observatório e do Orçamento.

Anónimo disse...

"E isso diz o quê? Somos todos funcionários públicos?"

Não está bom da cabeça o nosso perito. Será que ele é funcionário público?Só se O dinheiro como perito era pago pelo erário público? Ou pelos fundos sociais europeus eivados de fraudes por parte do patronato e duma central sindical associada

Anónimo disse...

"Mas o destrambelho e irritação do sujeito das 20 e 11 continua a revelar-se.

Cita-se ;
"mas somos das mais elevadas da OCDE» Uf! Que alívio!"

Faltou acrescentar aquilo que é escamoteado:"Não, não somos a segunda ou terceira economia da OCDE".
Multiplique-se por 3 ou 4 e temos que somos a 9ª (nona) economia da OCDE onde a diferença entre salário mínimo e salário mediano é menor.

Registe-se que este desprezo pela realidade dos factos (como um verdadeiro "perito") se associa a uma sobranceria característica.

Anónimo disse...

Mas infelizmente continua-se no mesmo registo:

Volta-se a citar o que o irritado e agastado personagem afirma:
" o estudo...que vai ao encontro da teoria que defende...» Que descaramento! Admite-se lá tal coisa!"

O que "esconde" este predador da verdade?
Apenas isto: "E depois escolhe o estudo - entre centenas que existem, segundo o Ricardo"

Parece que escolher um estudo entre centenas de estudos e confrontar o sujeito com o facto é um "descaramento" que não se deve admitir.


Mas para quem tenha ainda dúvidas do destrambelho verificado atente-se nos dois últimos parágrafos do sujeito:
"Desemprego...» Nem pensar, se não somos todos funcionários públicos, façamos de conta".
«...?...» Ao fim e ao cabo só uma meia dúzia de actividades irão ter dificuldades e naturalmente que é para isso que existe o Fundo do desemprego. Deixemos isso a cargo do Observatório e do Orçamento".

Pesporrência pura. Isto de um sujeito perito na área das questões laborais.

Jose disse...

Cuco, comunico-te que não me vou obrigar a escrever tão devagarinho que eventualmente entendas.
O resultado seria o mesmo: ou retorces a mensagem ou tratas de atacar o mensageiro.

Anónimo disse...

Quem será o cuco?

E que comunicação é esta que o das 01 e 31 anuncia que vai comunicar? Uma conversa em família do patrão lá de casa?

E desde quando escrever devagarinho permite entender a mensagem? Parece que após o exposto de se ver assim tão exposto, mais não resta que esta choraminguice por parte do comunicador dos cucos?

Ora vejamos. O "somos todos funcionários públicos", o "uf! que alívio!", o estudozeco, o "façamos de conta", o Observatório e o Orçamento desapareceram feitos fumo.

Em seu lugar ficaram cucos e pieguices sobre retorces e ataques.

Uma indigência pegada.

...E sobre Bento, o silêncio pesado das coisas comprometidas.