quinta-feira, 24 de março de 2016

Escola pública e igualdade de oportunidades (II)

De novo más notícias para quem considera que o estatuto socioeconómico das famílias é irrelevante na explicação dos resultados escolares dos alunos. Depois de o Projecto aQeduto ter recentemente demonstrado que quase nove em cada dez alunos portugueses que chumbam no teste PISA de Matemática provêm de famílias de estratos sociais, económicos e culturais abaixo da média, o Ministério da Educação publica um estudo sobre a relação entre «desigualdades socioeconómicas e resultados escolares» que chega a conclusões similares e a resultados muito esclarecedores.

Para estimar o impacto das desigualdades no aproveitamento dos alunos, o estudo centra-se em duas variáveis: as habilitações escolares dos pais (neste caso concreto as habilitações escolares da mãe) e a condição económica das famílias (avaliada pela existência ou não de apoios de Acção Social Escolar e segundo a repartição de alunos por escalões de benefício). As diferenças obtidas, em termos de resultados escolares, ultrapassam as expectativas mais pessimistas.


Como o gráfico demonstra, «entre os alunos cujas mães têm licenciatura ou bacharelato, a percentagem de "percursos de sucesso" no 3.º ciclo é de 71%», valor que contrasta com o obtido por «alunos cujas mães têm habilitação escolar mais baixa, equivalente ao 4.º ano», nos quais «a percentagem de "percursos de sucesso" é de apenas 19%» (reduzindo-se a 14% no caso de alunos cujas mães não têm quaisquer habilitações escolares.(*)


Relativamente à condição económica das famílias, a diferença em termos de "percurso escolar de sucesso" entre os alunos que não necessitam de apoio ao nível da Acção Social Escolar (ASE) e os alunos que dispõem de apoio é de 19 pontos percentuais (no caso de alunos com apoio no Escalão B) e de 29 pontos percentuais (no caso de alunos com Escalão A de acção social escolar).

Garantir o acesso de todos aos mais elevados graus de ensino e fomentar a igualdade de oportunidades, continuam portanto a constituir dois dos principais desafios das políticas educativas em Portugal. Direitos constitucionais que dificilmente se concretizam através das políticas levadas a cabo nos últimos anos, apostadas em retrair e degradar a Escola Pública e em desencadear processos de crescente dualização e divergência no sistema educativo.

(*) Um aluno com "percurso de sucesso" escolar, no 3.º ciclo, corresponde a um aluno que obtém classificação positiva nas duas provas finais de 9.º ano (Português e Matemática) após uma trajectória educativa sem retenções, no 7.º e 8.º ano.

10 comentários:

Jose disse...

«para quem considera que o estatuto socioeconómico das famílias é irrelevante na explicação dos resultados escolares dos alunos»

Falta explicar porque se admite que haja quem considere tal coisa...seguramente deliciar-nos-iam com uma qualquer catilinária de grande efeito mobilizador das hostes esquerdalhas.

Nuno Serra disse...

Faça umas pesquisas que encontra quem considera tal coisa, José. E se procurar bem, até vai encontrar uns estudos e tudo, que os seus amigos não brincam em serviço.

Anónimo disse...

O pior é isso mesmo, caro Nuno Serra. É a saída da zona de conforto de quem usava esta expressão até à exaustão.

O mais do resto é esta pesporrência do linguarejar costumeiro (("esquerdalhas"?). Sublinhe-se a vacuidade argumentativa de quem assim se expressa, reduzido a esta condição de "mobilizador" bafiento e macilento. Mas em que sobressai igualmente a impotência de quem se rege por missas e por missais como justificação da sua ideologia "caracteristica"

Anónimo disse...

Pelos vistos e´ todo um Pais embrulhado nas Brumas da Memoria. Depois invejam os alemães por serem os motores da Europa…
Falta de firmeza na administração da cultura portuguesa e´ o que e´…Ao longo dos últimos
40 Anos, raro foi o ministério que tutela as escolas publicas e privadas que não tocasse na legislação de âmbito escolar.
“Parece que tememos empreender um ensino duradouro e Nacional.”
´O ensino foi comercializado, da´ dinheiro´… e etc. e tal.
Em minha opinião falta a coragem para sair da modorra em que entramos por descuido, Ou…
Depois são os laços familiares pouco sólidos, a não-formação dos professores e auxiliares de instrução os bodes expiatórios, como se estes não fizessem parte do todo. Finalmente, com tanta gente sabia neste pais, muitos ate são protegidos e ungidos pelas massas, porque continuamos nisto? E´ dificil!
de Adelino Silva

Anónimo disse...

cagalhão zé a defender não aquilo que está mais que provado mas aquilo que povoa o seu oco crânio
a velha sebenta sebosa dos corruptos e seus acólitos -
- só és pobre porque queres
cagalhão zé---come-te!!!

Daniel F. disse...

Por falar em igualdade de oportunidades:

http://www.dn.pt/portugal/interior/manuais-vao-ser-dados-aos-alunos-mas-e-so-um-emprestimo-por-um-ano-5071212.html

"a tutela recorda que também a partir do próximo ano os alunos do 1º ano já não pagarão pelos seus manuais escolares (...) mas a ideia é que os pais devolvam os livros no final do ano, permitindo assim a sua reutilização."
"De fora desta oferta ficarão as crianças que frequentam o ensino privado."

1º ponto: é praticamente impossível reutilizar livros do 1º ano, uma vez que a maior parte do trabalho é feito nos próprios livros.
2º ponto: porque a medida não abrange as crianças do ensino privado?

Anónimo disse...

A reutilização de livros escolares é uma boa prática, uma prática que deve ser promovida em defesa não só da bolsa dos cidadãos como do planeta Terra.

E como tal deve ser implementada sem ceder a chantagens nem de Lobbies nem de processos manhosos já denunciados há muito sobre a desculpa do trabalho ser feito na sua maior parte nos livros escolares.

Anónimo disse...

Aquilo que se sabe sobre a medida aprovada pode-se ler aqui:

No segundo dia de votações do Orçamento do Estado foi aprovada a proposta do PCP que garante que no inicio do próximo ano lectivo de 2016/2017 serão distribuídos gratuitamente os manuais escolares [ver proposta] a todos os alunos do primeiro ano do primeiro ciclo.

Esta importante medida, para além de contribuir para aliviar financeiramente as famílias portuguesas, servirá também para combater o insucesso escolar e melhora ra qualidade global do ensino. A proposta do PCP determina ainda que até ao final da legislatura o Governo implementará progressivamente um programa de aquisição e reutilização de manuais escolares e recursos didácticos.

Anónimo disse...

A proposta aprovada está aqui:

http://www.pcp.pt/sites/default/files/documentos/2016_proposta_lei_oe2016_196.pdf

A questão da escola pública/ escola privada pode ser discutida. Mas a trajectória da evolução deste problema está no bom caminho

Anónimo disse...

e onde vamos enquadrar o fator motivação. pode sim um individuo que nasce numa família não letrado que possa ter uma formação acadêmica sem reprovações. é um estudo e ciência faz-se a base que hipóteses. ( estudante do curso de Psicologia clínica da Universidade Católica de Angola, estou a preparar a minha o trabalho final de licenciatura, com o mesmo tema sucesso e insucesso escolar)