domingo, 21 de setembro de 2014

Falemos então de emprego

O discurso em torno da suposta recuperação do emprego tem vindo a subir de volume e de entusiasmo. Mas que dizem os factos quando olhamos mais de perto?

Dizia Mark Twain que há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras malditas e estatísticas - presumivelmente ordenadas das menos para as mais nefastas.

A questão não é que as estatísticas sejam sempre mentirosas, ou que as avaliações impressionistas e não-sistemáticas da realidade sejam preferíveis. O que sucede, porém, é que com um pouco de jeito é relativamente fácil utilizar dados estatísticos para passar uma mensagem que não corresponde à realidade, e quando isso acontece a aura de rigor e cientificidade de que as estatísticas se revestem contribui para que o logro seja especialmente bem sucedido - e especialmente perigoso.

Nos dias que correm, o mais mentiroso - e, por conseguinte, o mais nefasto - dos dados estatísticos relativos à realidade socio-económica portuguesa é com certeza a taxa de desemprego. É principalmente com base na redução da taxa de desemprego de 17,5% (no 1º trimestre de 2013) para 13,9% (no segundo trimestre de 2014) que de há alguns meses para cá, entre discursos políticos, declarações em universidades de Verão e análises cúmplices de comentadores, se tem vindo a procurar passar a ideia de um sucesso notável no combate ao desemprego em Portugal, porventura "a mais acentuada redução da União Europeia".

Porém, que encontramos quando olhamos mais de perto e com mais cuidado para a realidade? Será que este entusiasmo é justificado?

Quando olhamos mais de perto, a primeira coisa que descobrimos é que no período da "notável recuperação", o número de desempregados diminuiu muito, mas o número de empregos aumentou pouco. Quando analisamos as tabelas relativas ao emprego do Boletim Estatístico do Banco de Portugal (que compila dados do INE, Eurostat e Bureau of Labor Statistics), verificamos que o desemprego no 2º trimestre de 2014 em Portugal ascendia a 729 mil pessoas, face às 952 mil do 1º trimestre de 2013 - o que é efectivamente um decréscimo impressionante -, mas descobrimos também que o emprego total no mesmo período passou de 4.433.000 para 4.515.000. Ou seja: há 223 mil desempregados a menos, mas apenas 93 mil empregos a mais. Quem são os outros? Os outros - 130 mil neste período - são os que ou emigraram ou passaram a ser considerados inactivos por terem desistido de procurar emprego. Dificilmente serão um grande sinal de sucesso ou renovado vigor económico.

Em segundo lugar, mesmo os 93 mil empregos a mais referidos no parágrafo anterior não devem dar azo a grande entusiasmo, pois estão em causa períodos diferentes do ano, em que o efeito da sazonalidade se faz sentir de modo diferente (há tipicamente picos de emprego no segundo trimestre de cada ano). Quando comparamos o 2º trimestre de 2014 (o dos 13,9% de desemprego) com os segundos trimestres dos anos anteriores em termos de emprego total, a ideia de uma notável recuperação do emprego é adicionalmente demolida: 4.893.000 no 2º trimestre de 2011; 4.688.000 em 2012; 4.506.000 em 2013; 4.515.000 em 2014. E eis como um "sucesso notável" na redução da taxa de desemprego se transforma rapidamente, quando a comparação é feita de forma mais adequada, na criação líquida de meros 9 mil postos de trabalho em termos homólogos no espaço de um ano.

Mas não é tudo. Em terceiro lugar, descobrimos que a maior parte do emprego efectivamente criado no período em questão corresponde a estágios do IEFP e postos de trabalho promovidos pelo Estado no âmbito do chamado "trabalho socialmente necessário" (Contratos Emprego Inserção e Contratos Emprego Inserção +). Nos casos em que estão em causa beneficiários do subsídio de desemprego, estes passam automaticamente da lista dos desempregados para a dos empregados - ainda que a "bolsa mensal complementar" que recebem como contrapartida da participação nestes esquemas ascenda a apenas 20% do salário mínimo nacional.

Estes desempregados ocupados (contabilizados como empregados) eram 79 mil em Janeiro de 2013, mas em Abril de 2014 ascendiam já a 169 mil. Sendo que, em muitos casos, não se trata nem de salários dignos, nem de empregos viáveis - trata-se tão somente de uma forma temporária de maquilhar estatisticamente o desemprego e ao mesmo tempo pressionar em baixa os salários no resto da economia. No que toca a reflectir o dinamismo da economia, a conclusão é que mesmo os 9 mil empregos que haviam restado dois parágrafos acima transmitem, na verdade, uma ideia enganadora porque excessivamente optimista: se retirarmos estes sub-empregos públicos, vemos que a economia continua a destruir emprego.

E finalmente, em quarto lugar, descobrimos que, com ou sem esquemas de emprego público sub-remunerado, estamos longe, muito longe, de começar a atenuar a destruição de emprego produzida pela voragem austeritária dos últimos anos. Isso é especialmente óbvio quando comparamos os 4.515.000 empregos do 2º trimestre de 2014 com os 5.010.000 empregos sustentados pela economia portuguesa em 2008. Mas também o é quando comparamos a situação presente com os 4.890.000 empregos de Junho de 2011, quando se iniciou a vigência do Memorando da Troika e o consulado do actual Governo.

Em relação a esse momento, o saldo é de 375 mil empregos destruídos. São 375 mil trabalhadores a menos a produzir riqueza. Ou 375 mil salários a menos para suprir as necessidades das famílias e alimentar a procura na economia.

Sucesso?

(publicado originalmente no Expresso online)

23 comentários:

Anónimo disse...

Com uma limpidez cristalina

Muito bom

De

Jose disse...

Combater estatísticas com retórica é um meio muito ineficaz e facilmente suspeito.
Com tanta gente a querer demonstrat que a desgraça é bem maior e o governo só faz asneiras, porque não apresentam uma estatística alternativa em vez de um rol de dúvidas.
Uma notícia de última hora - subiu o desemprego entre Julho e Agosto!

Anónimo disse...

Veja-se como à objectividade dos dados e ao rigor do apresentado nada mais resta do que alguns exercícios circulares quase que circenses.
Como a da "estatística alternativa(!) ou a "notícia de última hora" a tentar pelo disparate ofuscar a tremenda clareza deste post.

O governo manipula os dados do desemprego. O governo ( e os partidos que o sustentam) utilizam processos fraudulentos. O governo, os partidos que o sustentam e os media, mentem e sabem que mentem. quando constroem a "sua " narrativa sobre o desemprego

Mais do resto apenas duas notas de roda pé:
- "a desgraça é bem maior".Falso. Nunca o foi. Eis uma espécie de reivindicação do "sucesso" pelo non sense, como se "tanta gente" andasse a desmontar o lodaçal do nosso quotidiano confinada a uma espécie de gozo maldizente não sustentado e não demonstrado.
Os factos mais uma vez são tão poderosos que só resta este caminho de fuga?

-" o governo faz só asneiras".Esta tentativa de vitimizar a governança em curso também não corresponde à realidade.Perguntem aos beneficiários da crise, perguntem aos cada vez mais ricos,perguntem aos bancos para os quais a troika pôs o governo a trabalhar, se este não tem trabalhado bem.Perguntem ao sr passos coelhos se o seu emprego de lobbista não teve resultados surpreendentes no actual processo governativo. Perguntem ao sr gaspar e ao sr catroga e ao sr relvas e aos interesses que todos estes servem se as coisas não se têm passado às mil maravilhas. Já agora também podem inquirir os chefes de gabinete, os secretários dos secretários, os helderes, as merkel os portas, as cristas,...

De

António Pedro Pereira disse...

José:
Detesto ter pena das pessoas.
Faz-me lembrar um olhar de coitadinho lançado sobre os outros.
Lamento dizer-lhe, mas os seus comentários por vezes são tão confrangedores que não nos deixam outra alternativa senão ter pena de si.
O José tresleu o artigo, isto é, leu-o completamente ao contrário.
Não se trata de combater estatísticas com retórica, é o contrário, é combater a retórica do governo (e de todos josés que o apoiam cega e acriticamente), apoiada numa engenharia capciosa da interpretação das estatísticas, com a crueza do que estas dizem.
O que o Alexandre Abreu faz é repor uma interpretação limpa das estatísticas.
Portanto, baseia-se nas estatísticas para combater a retórica governamental manhosa.
É complicado para si, não é?
Eu sempre ouvi dizer que quem não tem dentes não parte nozes.

Jose disse...

Manuel Silva,
Estatísticas são números extraídos de universos definidos e medidos por critérios. Se tais critérios são estáveis e tratados por instituições credíveis, os números comparam-se sem retórica.
Dispenso-o de penas, como me dispenso de as ter por quem se conforta enunciando soluções sem cuidar de garantir a viabilidade dos meios.
Governos a criar empregos temos quase 40 anos de experiência!

Anónimo disse...

Curiosa esta flutuação entre o universo estatístico definido pelo sr jose neste seu último comentário e a "estatística alternativa a substituir o rol de dúvidas (!)" sustentada pelo mesmo jose há bem poucas horitas .

O facto da realidade se impor à retórica neoliberal vazia e oca leva a situações aflitivas para alguns, como a de movimentos de fuga do que se fala (a saber: o emprego, as manipulações dos números, a fraude governamental/neoliberal e o "sucesso" desmistificado em quatro pontos magistrais).

As "soluções sem cuidar de garantir a viabilidade dos meios" foram precisamente as políticas austeritária seguidas obedientemente pela dupla portas / coelho.
(Mas o que é curioso é que não é esse o tema do post).

Quanto aos tais governos a criar empregos desde há quase 40 anos, interroga-se se o nivelar destes 40 anos não será mais uma manobra de desculpabilização de quem o sr jose dizia tanto bem há tão pouco tempo. Ou se não será uma tentativa de esconder os frutos desta política seguida pela UE e pelas troikas em que nos deparamos com uma " UE com 25 milhões de desempregados em termos oficiais, no final de 2012 atingia, em crescendo, 125 milhões de pobres, quase 25% da população; desde a crise a produção industrial caiu 20% e perdeu 4 milhões de empregos industriais."
Ou serão afinal saudades dum tempo miserável, em que o direito ao emprego era tratado de acordo com os interesses de meia-dúzia de donos de Portugal, ao cacete e ao cassetete se necessário fosse, e com uma passagem pelo ultramar para defender os tais donos (curiosamente quase os mesmos que os actuais)?

De

António Pedro Pereira disse...

José:
«Governos a criar empregos temos quase 40 anos de experiência!»
Que saudades do botas que por aí vai.
Nos anos 50, 60 e 70 é que foi criar empregos, não foi?
Na década de 60, aquela em que, devido à mão-de-obra ao preço da chuva e à estratégia de expansão das multinacionais americanas na Europa, Portugal viu instalarem-se tantas como nunca antes (ITT, Stadard Eléctica, etc., lembra-se), a economia portuguesa cresceu, em média, mais do que noutra década qualquer.
E sabe qual foi o resultado no emprego: foi a década de maior emigração portuguesa, só para a França foi cerca de 1,2 milhões, não contando com a Bélgica, Alemanha, Luxemburgo, etc.
Depois, em 1973, aconteceu uma coisa a que o José não dá importância nenhuma (não lhe convém), a crise petrolífera que teve efeitos devastadores nas economias europeias, superdependentes do petróleo.
Daí para cá e história é mais bem conhecida.
Portanto, quando falar de emprego nunca se esqueça dos contextos.
E quando quiser falar de períodos relativamente longos, p. ex. 40 anos, nunca se esqueça de avaliar esses períodos tendo em conta os parâmetros de desenvolvimento humano definidos internacionalmente sobre, por exemplo: água potável; saúde; tratamento de águas residuais; educação, analfabetismo, rendimento per capita; habitação; diferenciação salarial, entre outros.
E procure não fazer figuras demasiado tristes apenas por condicionamentos ideológicos primários!

Jose disse...

Manuel Silva,
Muita retórica para concluir que com todas as medidas e sucessos valiosíssimos dos últimos 40 anos, chegamos à bancarrota (3), desemprego massivo e economia anémica.
Obviamente que sempre o contexto o justifica, ou não fosse o contexto parte essencial da retórica.
Como exercício prático recomendo-lhe contextualize emigração e natalidade no presente e no tempo do botas.
Nota: quando o argumentário inclui a estigmatização sempre desconfio da robustez das convicções.

Anónimo disse...

As coisas são o que são
A robustez das convicções não é argumento para nada.Salvo para colocar na lapela em jeito de medalha de latão nas bulhas dos miúdos da instrução pré-primária.

Tal como a retórica não pode ser usada , no contexto duma retórica que se contradiz nos termos em que é exposta, como elemento pejorativo da contextualização que se exige.

Como elemento prático e teórico o post de João Rodrigues é um portento e permite ver o que está por detrás do tal crescimento anémico, desemprego maciço e bancarrota ( bancarrota? Ainda há dias jose se congratulava com o caso BES , que significaria apenas que o mercado estava a funcionar e que surgiriam compradores para o dito, numa evidente evidência que a bancarrota era um pretexto apenas para a concentração do capital )

Eis o texto de João Rodrigues:

"Um dos negócios de Luís Filipe Menezes que está a ser investigado pela Polícia Judiciária envolve a Suma, uma empresa de recolha de resíduos do grupo Mota-Engil, que estará a lesar ainda a Câmara de Vila Nova de Gaia em vários milhões de euros. Por coincidência, vejam lá, ao mesmo tempo ficámos a saber que o Conselho de Ministros aprovou quinta-feira a venda da Empresa Geral de Fomento (EGF) – o grupo estatal que controla o tratamento de dois terços dos lixos urbanos do país - ao agrupamento Suma, liderado pela Mota-Engil.

Isto está tudo ligado? Como dizia um senhor com barbas, o tempo em que tudo se vende e em que tudo se compra, o tempo da neoliberalização, chamamos-lhe hoje, é “o tempo da corrupção geral, da venalidade universal”.

Brilhante

De

Unknown disse...

Abordar a grande automatização na produção agricola ou industrial, relacionar tambem o efeito web e globalização no ensino, medias,cultura é necessario se não nos chegar acrediatar/duvidar de estatisticas de encher pneus. Soluções vão ter que aparecer, esperemos que antes que muitos mais sofram, mas que o nivelamento entre ganhos dos da UE-EUA-resto do mundo vai levar muitos anos vai, portanto ou os decisores avançam com novas soluções ou os jovens estão fritos.

Juliao Duartenn disse...

Por falar nas mentiras das estatísticas, e sem contestar uma vírgula da posição assumida:

Quando comparamos o número de desempregados com o número de empregos, há que levar em conta não só a criação bruta de empregos como o número de aposentados no período, coisa que não vi feita.

Alguns dos 130 mil terão ido preencher postos de trabalho de gente que se reformou ou simplesmente morreu.

Provavelmente não são a maioria. Provavelmente não alteram o raciocínio. Mas por uma questão de honestidade intelectual, têm de ser contados.

António Pedro Pereira disse...

José (resposta ao comentário das 10:47):
O Jorge Nascimento Rodrigues, que é jornalista especializado em economia e autor e livros fundamentais de análise divulgação económica para o grande público, editou há uns tempos, com outro autor, um livro onde analisam a evolução económica de Portugal desde, salvo erro, o século XIV.
E inventariaram as bancarrotas que Portugal teve, que foram muito mais do que três e não tiveram nada que ver com os tais «malditos» (para si) últimos 40 anos.
Se não quiser perceber o que foi Portugal, as fragilidades que lhe advieram desde a sua formação (centralista, debaixo da mão militar do rei na luta contra os mouros, centralismo que se manteve desde essa altura, pense nos grandes momentos da nossa história: Descobrimentos; comércio da Índia; Estado Moderno Iluminista com o Marquês de Pombal; 2.ª colonização pós Conferência de Berlim; entrada na CEE), que tudo se fez sob a iniciativa e debaixo do controlo do Estado.
Se não quiser perceber que somos periféricos.
Se não quiser perceber que somos pobres em recursos naturais.
Se não quiser perceber que, devido a esta tradição centralista, nunca tivemos elites empreendedoras, antes «mamadoras» dos recursos do Estado.
Se resumir toda a nossa história a 40 anos e toda a culpa aos governantes destes 40 anos, vê-se que, deliberadamente, não quer perceber nada.
Se não quiser perceber que em cima de uma crise de energia em 1973 tivemos o processo abrupto de uma descolonização feita fora do tempo (começou a partir de 1945 e terminou nos inícios da década de 60 na maioria dos países colonizadores).
Se não quiser perceber que tivemos uma revolução fruto do bloqueio do problema colonial.
Se não quiser perceber que entrámos num clube altamente competitivo, a então CEE.
Se não quiser perceber que houve o alargamento a Leste, com pessoas muito melhor preparadas do que o salazarismo deixou as nossas gentes. O grande esforço educativo foi feito pós-25 de Abril.
Se não quiser perceber que houve a globalização a partir do início dos anos 90.
Se não quiser perceber que houve o euro a partir dos anos 2000, uma moeda forte para uma economia fraca.
Paciência!
Se quiser viver embrenhado (e iludido) na luta fanático-ideológica rasteira, viva!
Bom proveito lhe faça.

Jose disse...

Manuel Silva,
Fique-se com a sua narrativa, mas não tenha a ambição de fazer a minha - não me conhece nem me adivinha.
Mas sobre os últimos 40 anos, naõ me venha com essa vitimização nem com tamanha ficção como 'O grande esforço educativo foi feito pós-25 de Abril'; esforço orçamental, esforço em diabolizar o passado, esforço de inventar escolas, professores e metodologias; agora inventarie os resultados, o fim do ensino técnico, a bagunça das passagens administrativas, o experimentalismo facilitista, e tem o mapa da valia criativa de um tempo que pela maior parte foi de irrealismo, oportunismo e confusão.
E é ainda hoje um enorme custo para o país haver tanta gente apostada em tudo branquear na estúpida convicção que só assim podem legitimamente recusar o tempo que antecedu o 25 de Abril.
Talvez estejam à espera do 48º aniversário para se libertarem do passado!

Anónimo disse...

A questão não é recusar o que aconteceu antes do 25 de Abril.Pelo contrário é lembrá-lo e tornar a lembrar.É passar o testemunho dos crimes e dos criminosos.É não pactuar com obscurantismos, com saudosismos e com ditaduras. É dizer definitivamente não à porcaria dos donos de Portugal,cujo cappo maior era o inefável presidente do conselho, antónio oliveira salazar

Os cheiros bafientos ao salazarismo são isso mesmo: bafientos. Também trôpegos. Velhos. Podres. A cheirar aos antepassados dos ricardos salgados e à água benta do cardeal cerejeira. Aos mandantes dos crimes de morte a ao assassínio de Humberto Delgado. À guerra colonial e aos milhares de mortes inúteis.

Mas também ao vero e porfiado esforço "educativo" fascista:
" "Ensinar o povo português a ler e escrever, para tomar conhecimento das doutrinas corrosivas de panfletários sem escrúpulos ou das facécias malcheirosas que no seu beco escuro vomita todos os dias qualquer garoto da vida airada, ou das mentiras criminosas dos foliculários políticos - é inadmissível. Logo, concluo eu: para a péssima educação que possui e para a natureza de instrução que lhe vão dar, o povo português já sabe de mais (…) Um dos factores principais da criminalidade é a instrução". Assim escreve no jornal "A Voz", em 1932 alfredo pimenta, salazarista dos quatro custados.

Infelizmente há mais

De

António Pedro Pereira disse...

Senhor José:
Vê-se como o senhor fala de cor, apenas a partir das narrativas que fazem o percurso no senso comum, introduzidas por agendas bem determinadas nos seus objectivos.
Para não cansar muito o seu cérebrozito poluído com esses lugares comuns, e antes que ele deite fumo pelos ouvidos e pelo nariz, comento apenas uma sua afirmação completamente destituída de verdade, «o fim do ensino técnico», referindo-se encerramento deste ensino no pós 25 de Abril, servindo-me de parte de um texto que elaborei para outra situação: A desmistificação sobre quem matou o ensino técnico: https://www.dropbox.com/s/fe7ccw0rmq1c3qa/Quem_matou_o_ensino_tecnico.docx?dl=0
E sobre a 1.ª parte da sua frase «inventarie os resultados», referindo-se à Educação pós 25 de Abril, deixo-lhe alguns dados, agora de um artigo especializado da imprensa, apenas sobre a evolução da ciência nas últimas décadas, que é o culminar do investimento desde a base, e é o fruto da generalização do ensino (em 1980 só era obrigatório até ao 6.º ano), que finalmente conseguiu meter todos na escola (sem com isto ignorar todos os problemas existentes, sempre existiram problemas e sempre existirão).
A evolução científica das últimas décadas:
https://www.dropbox.com/s/5g7l2bwpuv0x8dt/E_evolucao_cientifica_desde_2000.docx?dl=0
Na década de 60 emigraram quase 2 milhões de portugueses, essencialmente para a Europa, cuja esmagadora maioria era analfabeta ou teria a 4.ª classe, por sorte. Hoje temos países como a Alemanha, a Inglaterra, a Suíça e a Noruega, entre outros, a vir buscar médicos, enfermeiros, engenheiros, entre outras especialidades. Só a Noruega tem há anos o «Programa de Recrutamento Anual de 1000 Engenheiros em Portugal», sabia?
Engenheiros analfabetos, certamente que sim, no tempo do seu querido botas é que era bom, os «engenheiros» emigravam para as minas da Bélgica e para as campanhas da beterraba da França, mas para cavar com uma picareta. Aí é que havia formação a sério, aí é que havia resultados da Educação.
E você vem falar em resultados da Educação depois do 25 e Abril?
É preciso ter topete.
Pergunta pertinente é perguntar porque esta nova geração formada está a ser expulsa de Portugal pelo seu governo.
Quer mais um exemplo da manipulação de que as pessoas são alvo, à semelhança desta do fim do ensino técnico e da ausência de resultados da Educação?
Até antes deste governo tomar posse toda a Direita, liberaloide ou não, clamava contra o privilégio (para os funcionários públicos) da ADSE e dos sistemas públicos semelhantes, ADFA, etc. Baste relera imprensa ou os posts nos blogs. Que era preciso acabar com eles quanto antes, porque era um privilégio, uma discriminação relativamente aos privados que só tinham SNS, etc. Uma vez no poder perceberam que era um excelente veículo de transferência do SNS para os privados. Sabe como? Quem tem esses subsistemas paga de consulta ao SNS, seja clínica geral, seja de especialidades, 7,75 de taxa moderadora. Se for a um privado paga 3,99 e 4,99, respectivamente.
Conclusão: nem tudo o que parece é.
Se embarcamos no que nos vendem passamos a vida a faz «figuras de urso» como o José anda aqui a fazer, defendendo ignorantemente o indefensável apenas por razões de convicção ideológica.

Jose disse...

Manuel Silva,
Entre o que sempre me espanta nos blogues de esquerda é encontrar aí tantos adivinhos e bruxos, que me dizem o que eu penso e quem eu sou com um detalhe admirável!
O que nunca encontro é uma simples tentativa de medida de avaliação entre esforço e resultado, entre custo e benefício.
E isso só o compreendo por disporem de vários remédios para o disparate e o desperdício - o capital, a reacção, o fascismo e o sempre providencial botas!
A brutal dívida está aí a atestar o muito que se fez sem medida razoável, mas estou ciente que tal se deveu ao capital, à reacção, ao fascismo e ao botas!
Quanto ao ensino técnico: se era incipiente em 1974 assim permaneceu com acrescido descrédito; e o que de melhor se fez, foi feito em centros protocolares de formação profissional, com larga indiferença de um bom número dos sindicatos das profussões abrangidas (nada em favor de beneficiar a exploração...).

Anónimo disse...

A questão não é o sr jose nem o espelho onde ele se olha duma forma algo...freudiana.

Eu repito:

A questão não é recusar o que aconteceu antes do 25 de Abril.Pelo contrário é lembrá-lo e tornar a lembrar.É passar o testemunho dos crimes e dos criminosos.É não pactuar com obscurantismos, com saudosismos e com ditaduras. É dizer definitivamente não à porcaria dos donos de Portugal,cujo cappo maior era o inefável presidente do conselho, antónio oliveira salazar.

O mais do resto é o porfiado esforço para esconder uma coisa evidente. Não, a brutal dívida actual não se deve a salazar( esta mania de fuga de nomear os bois e tentar pelo non sense tolo e tonto deitar por terra a realidade dos factos)

Ultrapassemos os saudosismos serôdios.

"A eficiência capitalista é feita à custa da exploração imperialista e da troca desigual, da insegurança dos trabalhadores e da repressão, conduzindo a um processo de irreversível decadência; depredação ambiental e a expansão parasitária, estreitamente interrelacionadas.

As anémicas recuperações são seguidas de recaídas, a pobreza aumenta, os países capitalistas considerados mais ricos são Estados cada vez mais insolventes.

O conceito de desenvolvimento opõe-se ao crescimento capitalista, baseia-se na maximização da eficiência económica tendo em conta os custos e benefícios sociais e não a maximização do lucro, o que só é possível com uma política não capitalista, visando a construção do socialismo".

Os resultados do descalabro da governança neoliberal estão aí à vista. Como há bem pouco tempo escrevia João Rodrigues:
"Isto está tudo ligado? Como dizia um senhor com barbas, o tempo em que tudo se vende e em que tudo se compra, o tempo da neoliberalização, chamamos-lhe hoje, é “o tempo da corrupção geral, da venalidade universal”.

É isto, é mesmo isto que perturba alguns.

De

Anónimo disse...

Mas aproveitemos para desmontar um pouco mais os chavões que replicam os chavões governamento/troikoistas:

A brutal dívida?
"A lógica das oligarquias com os seus "mercados", está em que "controlando a dívida controla-se tudo". Com 94% do PIB de dívida pública diziam que estávamos na "bancarrota", a "5ª coluna" neoliberal tudo fez para a ocupação do país pela troika; agora com 130% festejam o sucesso. O chamado programa de ajustamento serviu apenas para compensar a finança (em primeiro lugar a alemã) dos desajustes provocados pelo euro e pelo seu projecto económico.
A direita teve o sucesso que queria."

De

Anónimo disse...

Mas os dados que a realidade oferece não se compadecem como os slogans propagandistas limitados sobre a "brutal dívida".

"Após a entrada no Euro a dívida publica portuguesa não mais parou de crescer.

Se antes da adesão, a dívida pública portuguesa, em % do PIB, era inferior à dos grandes países da UE, da Alemanha e da França, por exemplo, poucos anos depois já era superior.

Outra conclusão é a de que o memorando estabelecido pelo PS, PSD e CDS-PP com a troika estrangeira, o FMI/BCE/UE, foi para aumentar a dívida portuguesa".

Para justificar o descalabro o governo propala que em 2011 não havia dinheiro para pagar salários e pensões. Em entrevista à Rádio Renascença o Prof Castro Caldas dirá de uma forma lapidar
"O dinheiro que não havia era para amortização da dívida no imediato. O dinheiro da troika permitiu, a bancos europeus, libertarem-se dessa dívida. Foi resgatada a banca portuguesa, que tinha perdido o acesso aos mercados internacionais e tinha entrado numa situação de falta de liquidez. Quem não foi resgatado foi o conjunto dos cidadãos contribuintes portugueses e o conjunto de cidadãos contribuintes europeus."

De

Jose disse...

Grave falha minha!!!!
Esqueci-me de acrescentar ao capital, à reacção, ao fascismo e ao botas, a perversa adesão à UE com os seus maléficos milhares de milhões de subsídios!

Anónimo disse...

Falemos então de emprego?

Não.
Jose faz um pequeno numero e dispara outro slogan ( perdoe-se o termo) em jeito telegráfico , como que alinhavado com os sounds-bytes da propaganda troikista.

Muito já se tem falado sobre este assunto, pelo que não é minimamente honesto tentar reduzir o debate a estes repentes propagandistas que oscilam com silêncios amuados ou comprometidos

Pelo que faço apenas lembrar uma coisa muito simples:

PORTUGAL É CONTRIBUINTE LÍQUIDO PARA A UNIÃO EUROPEIA?
Ou seja, ao contrário da propaganda sobre os milhões que chegam da "Europa" Portugal nos últimos 6 anos viu entrar 25 mil milhões de fundos comunitários e saírem 36 mil milhões em juros à troika.

Há evidentemente muito mais.Mas que me perdoem e ultrapassando a demagogia de alguns ficará para depois.

De

Jose disse...

A perda da noção do ridículo é grau zero do debate.

Anónimo disse...

!"A perda da noção do ridículo é grau zero do debate."????

Não interessa para nada mas exploremos isto em dois pontos:

- As unidades de medida dum debate podem ser vistas de maneira diferente.Em termos de graus ( em função duma determinada escala) parece um tiro ao lado.
Se entendermos como se tratando duma forma de fugir ao tema então jose não está no zero. Está no ponto de fuga da unidade de medida.
(O que abala o sistema é que as escalas a utilizar podem ser múltiplas.Nem vale a pena continuar por esta vertente, mas se for necessário jose pode pedir explicações ao crato)


-Os "esquecimentos" do jose em relação às suas afirmações "reacção , nescio e putrefacto salazar, milhares de milhões" (que parece que encheram os ídolos do jose - relvas, ricardo salgado, cavaco,passos e tutti quanti-) têm destas coisas. Quando em processo de desmontagem tornam-se ponto de aferição do debate para o qual jose contribui atirando ao lado.Não os comentários ao lado, mas sim quem os contesta e os expõe no seu ridículo.

Já vimos algo parecido com aquele artefacto da "estatística alternativa" em processo de apagamento dos dados apresentados. Primeiro a fuga, depois o silêncio

De