sexta-feira, 25 de julho de 2014

As narrativas sobre as origens da crise e suas implicações (ontem, em Loulé)

Ontem, na terra do poeta António Aleixo, juntou-se meia centena de pessoas que não desistem de pensar e discutir o que nos trouxe a esta crise e como podemos construir um futuro sustentável para o nosso país.

Com o devido reconhecimento à audiência pela atenção e o empenho, fica aqui a minha apresentação.

Porque o povo diz verdades,
Tremem de medo os tiranos,
Pressentindo a derrocada
Da grande prisão sem grades
Onde há já milhares de anos
A razão vive enjaulada.
 
António Aleixo

13 comentários:

Mário Estevam disse...

Foi ao lado RPM... O António é da Vila, Vila Real de Santo António.

Ricardo Paes Mamede disse...

Pode ser, mas os louletanos tratam-no como um deles (talvez o facto de o Presidente da Câmara ser neto do poeta ajude). A estátua do Aleixo no centro de Loulé não fica a dever à do Pessoa no Chiado. Em qualquer caso, obrigado pelo reparo.

Luís Lavoura disse...

A apresentação não poderia estar num formato mais legível? pdf, digamos...

Ricardo Paes Mamede disse...

Em pdf aqui: https://drive.google.com/file/d/0B-dRP0BTLu01dkZ3OXRsb3dxUHc/edit?usp=sharing

Acácio Pinheiro disse...

Ricardo
Esta é, creio, que a 3ª versão da apresentação. Parabéns pois tem vindo a melhorá-la. Mas quanto aos desafios estruturais eu creio que ela ainda só promete. Não quer explicitar a sua explicação para o fraco crescimento do PIB na década 2000/2010 e o elevado defice externo durante esse período?

Rui Monteiro disse...

Meu caro,
Excelente reflexão. Somos vítimas das debilidades estruturais da nossa economia. A financeirização só acelerou o processo. A solução sabemos todos qual é: a saída do euro. O problema é que não se pode sair sozinho. Tem que se sair acompanhado.

Mais tarde ou mais cedo os franceses vão descobrir que isto não pode continuar. Nem eles aguentam. Todos nós compramos automóveis alemães quando, ainda há poucos anos, só comprávamos automóveis italianos e franceses.

Nessa altura, os países vão descobrir o que já sabem: o euro foi uma construção trágica. Nessa altura procedem ao seu desmantelamento. A solução, a mal ou a bem, será política. Ninguém sabe no que isso possa resultar. Espero que se tenha aprendido alguma coisa com o pós-primeira guerra.

Um abraço

Ricardo Paes Mamede disse...

Caro Acácio Pinheiro,

não é algo que se explique num comentário a um post. O que defendo está desenvolvido no primeiro capítolo deste livro: http://www.tintadachina.pt/book.php?code=898f0d4070975451850a7c2a6c3ec993&tcsid=849605f06e35866a8b0568bd8d5834ec.

De forma resumida, podemos dizer que houve uma conjugação de factores: uma liberalização financeira profunda e acelerada (que esteve na base das distorções hoje visíveis no Sistema financeiro português), ineficácia da supervisão financeira, expectativas de crescimento elevado que contribuiram para um nível de endividamento que viria a revelar-se excessive (penalizando o consume e o investimento a partir de 2000), grande exposição à concorrência das economias emergentes a partir de 2000 (adesãoda China à OMC e alargamento da UE a Leste), grande vulnerabilidade da estrutura produtiva nacional à forte apreciação do euro face ao dólar entre 2002 e 2008 (e à forte subida do preço do petróleo no mesmo período), políticas orçamentais pró-cíclicas (nos dois sentidos, antes e depois de 2000), ...

Acácio Pinheiro disse...

Ricardo
Agradeço o comentário. Conheço o livro bem como outros documentos que tem subscrito. Mas julgo que ainda subsistem questões pouco elucidadas, nomeadamente as causas da estagnação pós 2000 e uma eventual sobrevalorização das consequências da moeda única. Ora estes aspectos são determinantes quando se procura encontrar caminhos para o crescimento ou avaliar as eventuais vantagens de uma saída do euro.

Ricardo Paes Mamede disse...

Acácio Pinheiro,

estou de acordo que ainda não existe uma história bem sustentada sobre as origens da crise. É para mim claro que uma tal história tem de integrar dois aspectos centrais, entre aqueles que referi no comentário anterior (tenho estado a trabalhar no desenvolvimento destas ideias):

(i) o forte aumento do endividamento privado na segunda metade dos anos noventa (que deixou as empresas e as famílias muito vulneráveis à crise económica da viragem do milénio e à subida da taxa de juro após 1999);

(ii) o choque concorrencial decorrente dos acordos com a China e do alargamento da UE a Leste, associado à acentuada apreciação do euro face ao dólar a partir de 2002 (cujos efeitos são muito visíveis na evolução da indústria transformadora).

Quanto à relação destes factores com o debate sobre uma eventual saída do euro, a questão é mais complexa. Do meu ponto de vista, mais do que uma solução certa para os problemas que nos trouxeram até aqui, o desmantelamento do euro como existe actualmente é um cenário que não pode ser excluído e, por conseguinte, tem de ser acautelado.Mas isto daria pano para mangas.

Em qualquer caso, não creio que se possam sobrevalorizar as consequências da moeda única. A adesão de Portugal à UEM teve implicações múltiplas e profundas (que vão muito além da apreciação cambial e suas implicações para a competitividade-preço dos sectores de produtos transaccionáveis). Mesmo que se conclua que essas implicações servem mais para perceber o passado do que para preparar o future (o que não corresponde ao que penso), tal não retira importância à decisão que foi tomada de aderir à UEM no tempo e no modo em que ocorreu.

meirelesportuense disse...

Caro RPM:
Acha que a Europa ganhava em organizar a sua Economia penalizando os bens que viessem do exterior?...Para mim, a deslocalização dos Meios de Produção para outros Países está na origem desta crise, pelo menos no que se refere à Europa e não podia deixar de ser de outra forma, saiem os meios de produção e também os meios financeiros a isso associados, ficam outras actividades mais activas financeiramente, mas incapazes de criar riqueza sustentada.

Ricardo Paes Mamede disse...

O problema é pior que isso. É que alguns países da UE ganham de facto com os acordos comercais com o exterior. Isto aplica-se a economias especializadas em tecnologias de produção (muito procuradas por economias emergentes) e em bens de luxo (cuja procura não depende da evolução cambial), bem como grandes empresas que estão em condições de tirar partido de grandes mercados (o que implica um músculo financeiro significativo).

Na UE de hoje, os benefícios e prejuízos da politica comercial estão longe de ser equitativamente distribuídos.

Ricardo Paes Mamede disse...

O problema é pior que isso. É que alguns países da UE ganham de facto com os acordos comercais com o exterior. Isto aplica-se a economias especializadas em tecnologias de produção (muito procuradas por economias emergentes) e em bens de luxo (cuja procura não depende da evolução cambial), bem como grandes empresas que estão em condições de tirar partido de grandes mercados (o que implica um músculo financeiro significativo).

Na UE de hoje, os benefícios e prejuízos da politica comercial estão longe de ser equitativamente distribuídos.

Acácio Pinheiro disse...

Ricardo
Julgo que é hoje consensual, entre quem tem publicado sobre este período, que o défice comercial, pós 2000 e até 2010, é estrutural, e que o agravamento do défice da balança corrente se deveu mais à alteração do saldo da balança de capital. Assim, um primeiro desafio que se coloca, nomeadamente a quem assume que as correcções pós 2011 não são estruturais, é como se reequilibra o saldo externo no futuro. Como já o ouvi dizer, e concordo plenamente, falar só sobre a divida não é sério, pois a divida é uma consequência, não uma causa. Por outro lado, parece-me evidente que a rigidez da procura interna face a produtos importados e também a rigidez das exportações, quero dizer a pouca resposta da produção nacional face a uma alteração dos preços, não asseguram que a desvalorização seja uma estratégia que garanta o equilíbrio interno. Então há que esclarecer quais as politicas conducentes a um crescimento que possibilite a absorção do desemprego actual bem como dos novos activos e, em simultâneo, o equilíbrio das contas externas.