segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Política soberana


Não, não iríamos dar a Espanha ou a qualquer outro país – e aos Estados Unidos anda menos que aos outros – a satisfação de inspeccionarem o nosso avião. Defenderíamos a nossa dignidade, a nossa soberania e a honra da nossa pátria, da nossa grande pátria. Nunca aceitaríamos esta chantagem.

Evo Morales, “Eu, presidente da Bolívia, sequestrado na Europa”, Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Agosto de 2013.

Excerto de um admirável artigo do Presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, que tem o condão de sintetizar claramente, a partir das lições de um episódio lamentável de subserviência de países europeus ao bem vivo imperialismo norte-americano, muito do que a esquerda precisa também deste lado – uma política multi-escalar de imbricado recorte patriótico e internacionalista. Como Morales no fundo assinala, só essa combinação, que também é feita de valores básicos como honra, dignidade e coragem para recusar a chantagem, é capaz de forjar solidariedades anti-imperialistas fortes e consequentes, de pugnar pela soberania dos Estados, sem a qual não há democracia, e de cultivar valores que são também universais, dos multidimensionais direitos humanos, concretizados pelas lutas democráticas das forças que aspiram a conquistar o poder nos Estados a um direito internacional que requer a cooperação entre Estados verdadeiramente soberanos. Realmente, a maioria das derrotadas esquerdas europeias, enredada numa armadilha política e intelectual euro-imperialista da qual não aparenta conseguir sair, tem hoje muito mais a aprender do que a ensinar. Como Morales assinala, tem também muito que recordar: “um neo-obscurantismo ameaça os povo de um continente que, há alguns séculos, iluminava o mundo com as suas ideias revolucionárias e suscitava a esperança”.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando assisto a posições como a de Evo Morales e outros dirigentes sul-americanos, pergunto-me a mim mesmo: Será que a suposta civilização ocidental está destinada a criar e a fazer proliferar "cidadãos" sem dignidade e amorfos, a troco de sossego e algumas benesses?