sábado, 1 de dezembro de 2012

A crónica de que todos falam

«Após alguma reflexão sobre o assunto, ocorreu-me que talvez fosse importante que alguém apresentasse Vítor Gaspar a um ser humano.
Podia ser um encontro discreto, a dois, só com um terceiro elemento que começasse por fazer as honras: "Vítor, é o ser humano. Ser humano, é o Vítor." E depois ficavam a sós, a conviver um bocadinho.
Perspicaz como é, o ministro haveria de reparar que, entre o ser humano e um algarismo, há duas ou três diferenças. O ser humano comparece com pouca frequência nas folhas de excel, ao contrário do algarismo. E o algarismo não passa fome nem morre, ao contrário do ser humano.
É raro encontrarmos uma lápide, no cemitério, com a inscrição: "Aqui jaz o algarismo 7. Faleceu na sequência de um engano numa multiplicação. Paz à sua alma." Mal o ministro tivesse percebido bem a diferença entre o ser humano e os números, poderia voltar às suas folhas de cálculo. Admito que se trata de uma experiência inédita, mas gostaria muito de a ver posta em prática.
Houve um tempo em que quem não soubesse de economia estava excluído da discussão política. Felizmente, esse tempo acabou. Os que percebem de economia são os primeiros a errar todos os cálculos, falhar todas as previsões, agravar os problemas que pretendiam resolver.
As propostas de um leigo talvez sejam absurdas, irrealistas e inexequíveis. Não faz mal: as do ministro também são. Estamos todos em pé de igualdade.
A realidade não aprecia economistas. Se um chimpanzé fosse ministro das Finanças, talvez a dívida aumentasse, o desemprego subisse e a recessão se agravasse. Ou seja, ninguém notava.
Como toda a gente, também tenho uma sugestão para reduzir a despesa. Proponho que Portugal venda uma auto-estrada para o Porto. Temos três, e não precisamos de todas. Há-de haver um país que esteja interessado numa auto-estrada para o Porto. Não há nenhuma auto-estrada para o Porto no Canadá, por exemplo. Nem na Noruega. (Eu confirmei estes dados.) São países ricos, aos quais uma auto-estrada para o Porto pode dar jeito. Fica a proposta. Não é a mais absurda que já vi.»

Ricardo Araújo Pereira, «Notas sobre finanças (e chimpanzés)»

4 comentários:

Aleixo disse...

Este é um dos problemas do humor, quando associado a coisas sérias

- a tendência para aligeirar a responsabilidade, do sujeito alvo.

Não se pode ser tão benévolo com o Vitor Gaspar.

O problema do Vitor Gaspar, não é a sua competência (???) com os números;

o problema, é a PIMENTA que o Vitor Gaspar produz...

ser para o CU dos OUTROS!

Se a PIMENTA fosse para o CU DELE...

A minha parte da verdade disse...

Como nao existem diferenças nos resultados, entre o chimpanzé e o Vítor Gaspar, então eu voto no símio pois ele é menos arrogante, que o ministro, e o seu staff será certamente mais reduzido o que se traduz numa razoável poupança dos dinheiros públicos.
Se a experiência resultar substituímos o resto do governo e, já agora o zombie de Belém, por amigos e familiares do macaco.
E aí sim começaríamos a ver a luz ao fundo do túnel!

antónio m p disse...

A diferença entre Vitor Gaspar e qualquer deputado ou militante da maioria que apoia este Governo, é menos relevante do que parece. Para já não juntar os respectivos eleitores, excluidos os ingénuos e os estúpidos. Mas que alivia muito a consciência dos apoiantes anónimos, alivia.

Ai estas maiorias silenciosas que nunca mais nos largam...

L. Rodrigues disse...

Na verdade acho que o Chimpanzé teria melhores resultados. Porque esses seriam fruto do acaso e não do preconceito. É a diferença entre errar 50% ou sistematicamente.