domingo, 9 de dezembro de 2012

Minhoquices?


Na sua coluna semanal, Octávio Teixeira defendeu esta semana, mais uma vez, a reestruturação da dívida e a denúncia do memorando como elementos de um programa mínimo de esquerda. Para ser consistente, este programa tem de colocar a hipótese de saída do euro, um dos cenários possíveis, até pela dinâmica política e económica que será potencialmente suscitada, por exemplo, pela necessidade de instituir controlos de capitais para fazer face à fuga dos mesmos ou pela necessidade assegurar o funcionamento do sistema financeiro em caso de reestruturação da dívida e de retaliação a um governo de esquerda neste país. Este é um cenário que, com várias configurações potenciais, Octávio Teixeira não recusa, muito pelo contrário, já que considera a saída do euro desejável.

Entretanto, parece que há quem, como João Valente Aguiar (JVA), insista em afirmar que uma desvalorização cambial, por exemplo de 30%, se traduz numa desvalorização salarial equivalente. O que conta para os trabalhadores é o poder de compra dos salários na moeda em questão e este é influenciado pela evolução dos salários reais, ou seja, pela diferença entre o crescimento dos salários nominais e dos preços. Quando Octávio Teixeira, num excelente contributo sintético a que cheguei via JVA, assume que uma desvalorização cambial do novo escudo de 30% contribuiria para um aumento da taxa de inflação, que passaria para 8%, por via sobretudo do aumento do preço dos bens importados, então essa taxa de inflação reduziria os salários em 8% anualmente, mas só se a taxa de crescimento dos salários nominais fosse nula, hipótese pouco plausível, e ponto final. Isto é bastante claro no texto de Octávio Teixeira.

De facto, não há qualquer desvalorização adicional de 30% dos salários por via da desvalorização cambial. A não ser que se assuma que os trabalhadores portugueses vão pegar no seu salário e trocá-lo por euros, se ainda existir moeda única, ou por qualquer outra moeda forte, para comprar caramelos no estrangeiro, em turismo. As pessoas que aqui vivem compram as coisas por aqui, com o dinheiro daqui, sejam produzidas aqui ou lá fora. A desvalorização serve, entre outras coisas, para aumentar a procura externa, vulgo exportações, e basta ver como estas reagem a tímidas desvalorizações do euro, e para desviar a procura interna das importações, agora mais caras, para a produção daqui, ou seja, para ajudar a resolver os défices externos, acumulados desde que se decidiu aderir a este projecto monetário disfuncional. Sair do euro implicaria também uma reestruturação da dívida, até por via da passagem de parte substancial da dívida para a nova moeda, e permitiria recuperar instrumentos perdidos de política industrial, monetária e de crédito.

Um exemplo com as pessoas que vivem na Islândia e que têm a mania de comprar as coisas na Islândia. Nos últimos anos, este país conheceu uma útil desvalorização cambial nominal de 50%, que permitiu aumentar exportações e diminuir importações, o que, conjuntamente com controlos de capitais e a transferência de partes dos custos do ajustamento para os credores, assegurou uma notável recuperação económica e do emprego. A taxa de inflação anual andou no mesmo período pelos 12% ao ano e os salários nominais cresceram 8% ao ano, o que significou uma desvalorização salarial real de cerca 4% ao ano no período de ajustamento, em vias de ser rapidamente revertida.

Neste contexto, o ajustamento é mais rápido, menos destrutivo em termos de emprego e logo impede que haja grandes recuos no campo social e na relação das forças sociais. Portugal, com uma taxa máxima de desemprego de 8% antes de aderir a esta utopia monetária, até sabia como as coisas se faziam. Agora vai chegar a 2013 com os trabalhadores depenados, com a taxa de desemprego a aproximar-se do triplo do máximo histórico antes do euro, com uma economia incrivelmente mais dependente, com um Estado social escavacado, com regras laborais incomparavelmente menos favoráveis a quem trabalha e com uma democracia largamente esvaziada. Para quê?

Dizer só mais umas duas ou três coisas em jeito de conclusão. JVA tem todo o direito de ignorar a literatura de economia política e de política económica sobre a saída do euro ou sobre a importância da política cambial, do controlo de capitais e da política industrial (impossíveis por definição neste contexto de integração) para o desenvolvimento, mas não tem é o direito de dizer que não existem análises e estudos. Há uma obsessão com fantasmas nacionalistas de esquerda em certas franjas da opinião que é favorável a todas as distorções e amalgamas, mesmo do pensamento daqueles que, como Octávio Teixeira, têm provas dadas de análise e de acção política comprometida, da sua participação na nacionalização da banca às suas qualificadas intervenções na AR, incluindo os alertas atempados para o desastre do euro, para os desequilíbrios externos agora identificados e que foram gerados pela política interna do euro. Leia-se também outro perigoso nacionalista, para não sairmos da mesma área política, que dá pelo nome de Agostinho Lopes. De resto, a saída do euro irá tornar-se um elemento que não pode ser evitado numa aposta democrática de esquerda, plausível e popular, basta andar atento, e para a contrariar é preciso mais do que andar à caça de fantasmas ideológicos, ainda por cima com armas que também parecem ter influências monetaristas.

14 comentários:

Anónimo disse...

sim.. saímos do €.. mas e as retaliações da europa? não iriamos ficar com as exportações todas bloqueadas para a Europa?

Anónimo disse...

Excelente comentário.Os pontos nos is com a clareza própria de quem sabe o que está a escrever.Parabéns
De

Bafo de onça disse...

Talvez o principal problema do Sr. Aguiar seja o seu enorme ego e a recusa de debater com quem não lhe agrada. Como é evidente os textos devem ser moderados mas censurar liminarmente o texto que lhe enviei para o 5 dias e no qual nem sequer contestava frontalmente as suas teses revela muito da pessoa.

O texto é este:
"Uma das coisas que aprecio nos textos do Sr. Aguiar é a recusa de aventureirismos e de avançar alegremente rumo ao que se desconhece. Já aqui intervi com alguma dureza relativamente aos que viam a revolução ao virar da esquina na Grécia, com o social democrata do Tsipras como profeta.
Conheço os riscos tremendos da saída do Euro que me parece não poder ser encarado isoladamente por nenhum país. Mas o Euro é a morte lenta para um país como Portugal , habitado por seres humanos que sofrem saliente-se, e o assunto deve ser debatido fundamentadamente e não devem nem podem ser excomungados ou fulminados os hereges que defendem que tal é inevitável a prazo. E sobretudo devem ser debatidas as modalidades possíveis de saída mesmo que seja pecado.
Não podia estar mais de acordo com este texto "Ninguém vai empurrar ninguém para fora do euro. Ou melhor a linha actualmente hegemónica só usa isso como ameaça e chantagem, não como objectivo. Eles sabem muito bem quais os custos de tal aventura."
Mas uma coisa não entendo. Se os custos, da saída do euro, vão ser pagos pelos trabalhadores e não pelos capitalistas como diz, quem deve defender o euro é o capital não o trabalho. Ou sou muito burro ou o Sr. Aguiar como explicador deixa algo a desejar...
Uma das coisas que mais me irrita no Sr. Aguiar é a sua resposta do alto da cátreda, pronta e desdenhosa a quem se atreve fundamentada ou infundamentamente a discordar das suas teses. Um blog como o cinco dias é um espaço de diálogo e desabafo para muitos e não perceber isto e armar-se em doutor com quem não acredita, mesmo que apenas por ideologia, nas suas teses, não lhe fica mesmo nada bem.
Mas o que de tudo mais me irrita é a publicação de respostas, moralistas ainda por cima, a textos que o proprio censurou! Se não temos o direito de conhecer os textos censurados, por que raio é que temos que aturar os ralhetes aquela gente inqualificável, no critério do Sr. Aguiar, que teve o desplante de se lhe dirigir em termos que ele não considera apropriados.
Conheci a censura antes do 25 de Abril mas nunca tinha visto censurar desta maneira requintada.
Bem sei que só me resta ser fulminado pela douta sapiência do Sr. Aguiar ou o que é mais natural ser liminarmente censurado e depois levar com uma descompostura que ninguém vai perceber!"

Vá lá, assim sempre escapei do ralhete!

fec disse...

numa coisa Trotzky tinha razão

e vocês escamoteiam sistemáticamente esse facto

Excerto de uma palestra dada por um trotzkista australiano, Nick Beams, secretário nacional do Partido da Igualdade Socialista (Socialist Equality Party—SEP) da Austrália em 2007:

"Para Trotsky, porém, o importante não era simplesmente observar as conquistas da economia soviética, mas prever novos problemas e perigos e apontar para os meios de os superar.
A questão crucial, dizia Trotzky, não era a relação entre o Estado e a indústria privada dentro da União Soviética — por mais decisivo que isso fosse — mas a "bem mais importante" questão da relação entre a economia soviética e a economia mundial como um todo. À medida que a economia soviética entrava no mercado global, não aumentavam apenas as esperanças mas também os perigos.
Isto porque a superioridade fundamental dos Estados capitalistas estava no baixo preço de suas mercadorias — a expressão de mercado do facto de que tinham uma maior produtividade do trabalho. E seria a produtividade do trabalho que determinaria, em última análise, se seria vitorioso o capitalismo ou o socialismo.
"O equilíbrio dinâmico da economia soviética não deveria de forma alguma ser considerado como o equilíbrio de uma unidade fechada e auto-suficiente," escreveu Trozky. "Pelo contrário, conforme passar o tempo, a nossa economia interna será mais e mais mantida pelas conquistas do balanço das nossas importações e exportações. Este ponto deve ser sublinhado pelas suas importantes consequências: quanto mais entrarmos no sistema da divisão internacional do trabalho, mais aberta e diretamente os elementos da economia soviética dependentes do preço e da qualidade de nossos produtos serão afectados pelo mercado mundial." (1925, Leon Trotsky, Towards Capitalism or Towards Socialism? p. 327)

por outras palavras: se as condições de competitividade não se alterarem rapidamente andamos sempre uns passos atrás a empobrecer alegremente até termos o destino da URSS e da Albânia

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João Rodrigues,

não vou entrar na discussão técnica dos seus argumentos económicos - até porque não disponho de formação específica nessa área.
De qualquer modo, a questão é, no fundo, política, e é como tal que avançarei algumas objecções esquemáticas à sua tese.

1. À partida e em princípio, haveria condições menos más para travar as políticas austeritárias através da conjugação de esforços dos seus adversários na zona euro, do que isoladamente. Se V. responder que isso não é possível dado o apoio maioritário, em termos eleitorais, que tais políticas têm na Alemanha e noutros países, a resposta é que o mesmo se passa, até ver, em Portugal - onde são os partidos do arco austeritário que, a crer nas sondagens, voltariam neste momento a ganhar as eleições.

2. A posição do Syriza parece-me, sobre a questão do euro, bastante mais razoável: não sair do euro, resistir às ameaças de expulsão, apelar aos trabalhadores e cidadãos comuns europeus contra as decisões dos governantes - em suma, uma atitude a que chamarei de "exportação da luta" e dos conflitos.

3. No entender de Agostinho Lopes e para a sua área política, a saída unilateral do euro é manifestamente o primeiro passo de um objectivo geoestratégico que visa a implosão soberanista da UE, a par da reciclagem de um modelo próximo e herdeiro do outrora chamado "socialismo real". Ora, a implosão da UE e a sua desagregação acarretariam uma regressão política e civilizacional enorme não só para Portugal, mas para todos os países que a integram, e não só. Balcanização, regimes ditatoriais, militarização da vida económica e social, belicismo. Não vejo que mudanças económicas implementadas por um "Estado estratego" poderiam compensar o desastre. Em contrapartida, vejo bem que a todo este cenário só poderia corresponder uma degradação agravada das condições de vida da grande maioria dos portugueses (e, de novo, não só…).

4. Assim, a tese de que, não sendo possível combater a austeridade governante da UE, federando as lutas e a resistência, resta a restauração da soberania plena e a via da "independência nacional", parece-me ou uma confissão de impotência, ou uma profissão de fé ideológica autoritária e antidemocrática.

Cordialmente

msp


Anónimo disse...

Os trabalhadores não trocariam o seu salário por Euros...mas pouco faltaria para isso, em virtude da necessidade que temos de importar entre 70 a 80% de tudo quanto consumimos. E o mecanismo da desvalorização monetária, ao embaratercer as exportações tem o efeito colateral de tornar mais caro tudo quanto é importado, mas não podemos evitar importar. A correcção dos enviesamentos da economia portuguesa e a reconstrução (?) do seu aparelho produtivo seria necessariamente um fenómeno lento. Desvalorizações monetárias de 30% e inflacções de 8% parecem-me números absolutamente irrealistas. Não vale a pena pintar isto como uma coisa fácil e rápida porque não o vai ser.

Anónimo disse...

Ao Miguel Serras Pereira: no que é que a UE foi um avanço civilizacional? A UE não é mais que um império multinacional governado por uma tecnocracia insensível à vontade dos seus povos. Dentro do grande império há tantas vontades que todas podem ser ignoradas na segurança que nenhuma ten influência suficiente para ameaçar as carreiras dos tecnocratas. E assim se neutraliza a democracia.

Já houve outro império parecido na Europa moderna, chamava-se Império Austro-Húngago. De crise em crise acabou por se desmoronar, o seu fim não foi um processo bonito, nas fez parte do progresso da Europa. Agora quer que se acredite que o progresso é retonar aos impérios kafkianos do passado? Porque é isso mesmo que esta UE pretende ser: basta ver a expressão máxima actual das suas politicas: "troikas" de tecnocratas a ditar política governativa.

A UE, como todos os impérios, promove o sentimento de impotência entre os seus governados. Restaurar as soberanias, e com isso as democracias, nacionais, deve ser objectivo de qualquer pessoa com alguma fé na humanidade.

António Carlos disse...

Caro João Rodrigues,

Não sou economista mas parece-me que avaliação do impacto da desvalorização cambial na inflação deve ter em consideração a estrutura das importações, nomeadamente,que tipo de bens importamos, qual a elasticidade do seu consumo, e em que quantidades (valor) importamos.
Assim, sem conhecer a realidade Islandesa, posso imaginar um cenário em que uma forte redução dos bens importados naquele país não teve um impacto forte na satisfação de necessidades energéticas e alimentares (pouco "elásticas").
Será esse o caso Português?

António Carlos disse...

Complementando o meu comentário anterior com um exemplo.

Considerando esta página (http://www.indexmundi.com/trade/imports/?chapter=27), e pedindo desde já desculpa por não utilizar uma fonte mais fiável e actualizada, verifica-se que no que diz respeito à importação de "mineral fuels" a posição de Portugal e da Islândia é a seguinte (2010):
29 Portugal $9,419,627,579
106 Iceland $49,983,837

Será que, face a estes dados, uma desvalorização cambial de 30% tem o mesmo efeito na inflação nos 2 países?
Ou Portugal, num cenário de desvalorização cambial drástica vai diminuir drasticamente a sua importação de "mineral fuels"?
Nesse caso, com que custos sociais?
E qual o impacto nos preços de exportação que poderiam beneficiar da desvalorização cambial?
E em outros tipos de bens igualmente "sensíveis"?

Anónimo disse...

"Um dos símbolos da nossa unidade é a moeda da nossa União Europeia. Nós defendê-la-emos”, declarou Durão Barroso.
Percebe-se que a luta de Serras Pereira passe por aqui.De facto ele é coerente com a defesa dessa medida "revolucionária" que é a eleição do agente de serviço por via eleitoral directa. O circuito mediático trazido para algo que é tão caro aos grandes países europeus a sonhar com sonhos imperialistas. Parece que Serras Pereira não tem argumentos económicos e utiliza argumentos políticos.Pena é que confluam nos interesses de Barroso e parceiros.JVA esse parece que falha os argumentos económicos e não sai,qual menino birrento em vésperas de formar qualquer formação "revolucionária" salvadora, do argumento "nacionalista" com que ele disfarça a impotência das suas teses.Pelo meio ficamos a ver o comboio rolar.E a "apelar ao comum dos cidadãos contra a decisão dos governantes".Teria piada se não fosse trágico.Não é colaboracionismo mas parece.

Luis Pereira disse...

Para além duma falta de debate, acho que a mensagem peca por falta de honestidade porque começa por citar que OT "defende a reestruturaçao da divida e a denuncia do memorando" mas nao cita o que de facto JVA defende.
Cita os meios e os fins de OT mas apenas cita os meios de JVA e nao os seus fins.

João Valente Aguiar disse...

Caro João Rodrigues,

agradeço a sua crítica educada e séria. Neste contexto faz falta este debate e congratulo-o por isso.

Por falta de oportunidade ainda não tive tempo de lhe responder. Espero conseguir fazê-lo no final desta semana.

Entretanto só uma nota muito rápida.

1) creio que você leu apenas o que está no 5 dias que não passa de uma introdução e de um conjunto de excertos. Ora, no Passa Palavra (http://passapalavra.info/?p=68594) está um artigo muito mais extenso sobre o assunto e a minha tese fundamental não é saber se vamos perder x ou y com a desvalorização mas debater os pontos de partida de enorme debilidade da economia portuguesa que, no caso de uma saída do euro, redundariam num agravar da actual situação deficitária.

Cumprimentos,
João

Bafo de Onça disse...

Num comentário assinado por Alexandra Marreiros no 5 dias,em resposta a Miguel Serras Pereira, é exemplarmente exemplarmente rebatido o encanto federalista de alguns que acreditam que está aí a grande oportunidade para combater eficazmente as politicas austeritárias que, particularmente no Sul da Europa, nos são impostas. O texto parcial é este:

"O que mais me surpreende na sua fé na opção federalista é que espera dela, por qualquer razão mirífica que não logro descortinar olhando para os caminhos até agora trilhados pela UE, (espera dela, dizia) que vá ao arrepio de tudo o que até agora foi e está a ser feito. Ou seja: a política económica da UE é neoliberal; a política comercial da UE é neoliberal; a política agrícola da UE é neoliberal; neoliberal é também a sua política monetária e orçamental; e por aqui poderíamos continuar (investigação, saúde, etc, etc.). Neoliberais são os seus tratados, o seu código genético. O avanço da integração (que se deu a par do acentuar do pendor federalista) conduziu-nos sempre a avanços neoliberais. Se quiser, sendo mais rigorosa, a avanços para o capital e a recuos para o trabalho.
Mas eis que, por qualquer passe de mágica, a integração fiscal e política nos levariam agora por outro caminho, ao arrepio de tudo o que foi feito até agora. Compreende que não possa deixar de lhe chamar uma “questão de fé”…
Insisto: avanços federalistas e correspondentes limitações da soberania dos Estados é o que têm vindo a defender há muito as organizações do grande patronato europeu e as forças conservadoras e da social-democracia (vergonhosamente, no caso destas últimas) que têm defendido os seus interesses. Por alguma razão o fazem. Um rápido passar de olhos pela constituição portuguesa deixa-o perceber facilmente, mesmo aos mais distraídos.
Confesso que não percebo muito bem esse fantasma a que chama de “implosão soberanista da UE” e os cenários apocalípticos que descreve. Parece quase que acha que não há opção progressista possível fora do quadro da UE. Surpreendo-me, devo dizer, porque me parece razoavelmente claro é que dificilmente haverá opção progressista no quadro desta UE. Com estes tratados. Com estas políticas. Com a “livre concorrência no mercado único”. E com esta moeda única.
Olho a UE e o mundo e é isto que vejo. Sinceramente, não creio que se trate de alguma “profissão de fé ideológica autoritária e antidemocrática”, como o Miguel sentencia, sem justificar. Com satisfação acolherei evidências empíricas e argumentos que me mostrem ser outro o caminho. Estarei sempre disposta a reconsiderar. Mas não me convenço com fantasias nem tampouco com prontas sentenças ou rotulagens de “nacionalismo” ou quejandas…"

Permito-me um comentário. Mas porque é que será que quando o Partido Comunista começou a falar e com prudência dos maleficios do euro, logo apareceram estas denúncias da desgraça que é sair do euro e da terrível ameaça do nacionalismo.
Uma ultima nota. Poderão perguntar-me porque é que não dei opinião no 5 dias e venho para os ladrões? Pura e simplesmente porque o Sr. Aguiar aqui não pode censurar-me.

ZNM disse...

Duas questões:

1. A primeira é relativamente a este excerto: "A desvalorização serve, entre outras coisas, para aumentar a procura externa, vulgo exportações, e basta ver como estas reagem a tímidas desvalorizações do euro, e para desviar a procura interna das importações, agora mais caras, para a produção daqui". Pergunto: que produção? Existirá uma real possibilidade das necessidades primárias serem satisfeitas por via de uma «produção daqui»?

2. O aumento de exportações gerado pela desvalorização cambial da Islândia dever-se-á apenas a uma questão de preços ou também ao tipo de produtos em causa?