Excerto de um artigo de Martin Wolf no FT (Lições da História sobre dívida pública; minha tradução):
O Reino Unido emergiu da primeira guerra mundial com uma dívida pública de 140% do Produto Interno Bruto e os preços tinham mais do que duplicado relativamente ao nível anterior à guerra. O governo decidiu então regressar ao padrão ouro mantendo a paridade anterior à guerra, o que fez em 1925, e pagar a dívida pública para preservar a sua credibilidade. Aqui estava um país à medida do Tea Party.
Para alcançar os seus objectivos, o Reino Unido implementou políticas, orçamental e monetária, contraccionistas. O excedente orçamental primário (sem contar com o pagamento de juros) foi mantido perto dos 7% do PIB durante os anos 20. (…) Entretanto, em 1920 o Banco de Inglaterra aumentou a taxa de juro para 7%. O objectivo era apoiar o regresso à paridade anterior à guerra. Com a consequente deflação, as taxas de juro reais tornaram-se extraordinariamente elevadas. Foi desta forma que os loucos hipócritas das classes dominantes da Grã-Bretanha saudaram os sobreviventes da guerra infernal.
Então como é que funcionou este compromisso com a fome orçamental e a necrofilia monetária? Mal. Em 1938 o produto real estava pouco acima do nível de 1918, com um crescimento médio anual de 0,5%. Isto não era apenas o resultado da Depressão. Em 1928 o produto real também era inferior ao de 1918. As exportações eram persistentemente frágeis e o desemprego persistentemente elevado. Um elevado desemprego era o mecanismo destinado a fazer baixar os salários nominais e reais. A finalidade era partir a espinha aos sindicatos. Estas políticas deram origem à greve geral de 1926. Elas espalharam uma amargura que se prolongou por décadas após a segunda grande guerra.
Independentemente dos seus enormes custos económicos e sociais, estas políticas falharam segundo os seus próprios critérios. Para o seu bem, o país abandonou o padrão ouro em 1931. Pior, a dívida pública não baixou. Em 1930 tinha atingido 170% do PIB. Em 1933 alcançou os 190% do PIB.
2 comentários:
http://www.rascunho.org/2012/10/22/sondagem/
Será que a despesa do Estado Português com a educação do "benemérito" e "filho pródigo" não foi suficiente para que este pudesse ter umas leituras de mesa de cabeceira - depois dos catecismos da Escola de Chicago - sobre os ensinamentos da história - e este aqui referenciado é só mais um exemplo entre vários. Bom, dado que o Vítor Gaspar demonstrou publicamente e de sorriso mal disfarçado a sua aversão a estudos de escritos "facebookianos", qual será a melhor forma de garantirmos que, mesmo que o FT lhe chegue ao seu mais que provável "austero gabinete", ele não faça uma qualquer ginástica visual e ludibrie o artigo que funda o presente post? É que absolutamente saturado de ser ludibriado pelos seus elogios ao "melhor povo do mundo" em formato Excel anda o povo português, no qual humildemente me incluo.
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