quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pelo jornalismo, pela democracia

«A crise que abala a maioria dos órgãos de informação em Portugal pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática.
O jornalismo não se resume à produção de notícias e muito menos à reprodução de informações que chegam à redacção. Assenta na verificação e na validação da informação, na atribuição de relevância às fontes e acontecimentos, na fiscalização dos diferentes poderes e na oferta de uma pluralidade de olhares e de pontos de vista que dêem aos cidadãos um conhecimento informado do que é do interesse público, estimulem o debate e o confronto de ideias e permitam a multiplicidade de escolhas que caracteriza as democracias. O exercício destas funções centrais exige competências, recursos, tempo e condições de independência e de autonomia dos jornalistas. E não se pode fazer sem jornalistas ou com redacções reduzidas à sua ínfima expressão.
As lutas a que assistimos num sector afectado por despedimentos colectivos, cortes nos orçamentos de funcionamento e precarização profissional extravasa, pois, fronteiras corporativas.
Sendo global, a crise do sector exige um empenhamento de todos – empresários, profissionais, Estado, cidadãos - na descoberta de soluções.
A redução de efectivos, a precariedade profissional e o desinvestimento nas redacções podem parecer uma solução no curto prazo, mas não vão garantir a sobrevivência das empresas jornalísticas. Conduzem, pelo contrário, a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia.
Porque existe uma componente de serviço público em todo o exercício do jornalismo, privado ou público;
Porque este último, por maioria de razão, não pode ser transformado, como faz a proposta do Governo para o OE de 2013, numa “repartição de activos em função da especialização de diversas áreas de negócios” por parte do “accionista Estado”;
Porque o jornalismo não é apenas mais um serviço entre os muitos que o mercado nos oferece;
Porque o jornalismo é um serviço que está no coração da democracia;
Porque a crise dos média e as medidas erradas e perigosas com que vem sendo combatida ocorrem num tempo de aguda crise nacional, que torna mais imperiosa ainda a função da imprensa;
Porque o jornalismo é um património colectivo;
Os subscritores entendem que a luta das redacções e dos jornalistas, hoje, é uma luta de todos nós, cidadãos.
Por isso nela nos envolvemos.
Por isso manifestamos a nossa solidariedade activa com todos os que, na imprensa escrita e online, na rádio e na televisão, lutando pelo direito à dignidade profissional contra a degradação das condições de trabalho, lutam por um jornalismo independente, plural, exigente e de qualidade, esteio de uma sociedade livre e democrática.
Por isso desafiamos todos os cidadãos a empenhar-se nesta defesa de uma imprensa livre e de qualidade e a colocar os seus esforços e a sua imaginação ao serviço da sua sustentabilidade.»

Proponentes:
Adelino Gomes – Jornalista * Agostinho Leite - Lusa * Alexandre Manuel - Jornalista e Professor Universitário * Alfredo Maia - JN (Presidente do Sindicato de Jornalistas) * Ana Cáceres Monteiro - Media Capital * Ana Goulart - Seara Nova * Ana Romeu - RTP * Ana Sofia Fonseca - Expresso * Anabela Fino - Avante * António Granado - RTP; Professor Universitário * António Navarro - Lusa * António Louçã - RTP * Avelino Rodrigues - Jornalista * Camilo Azevedo - RTP * Carla Baptista - Jornalista freelancer e Professora Universitária * Catarina Almeida Pereira - Jornal de Negócios * Cecília Malheiro - Lusa * Cesário Borga - Jornalista * Cristina Margato - Expresso * Cristina Martins - Expresso * Daniel Ricardo - Visão * Diana Andringa - Jornalista * Diana Ramos - Correio da Manhã * Elisabete Miranda - Jornal de Negócios * Fernando Correia - Jornalista e Professor Universitário * Filipa Subtil - Professora Universitária * Filipe Silveira - SIC * Filomena Lança - Jornal de Negócios * Francisco Bélard - Jornalista * Frederico Pinheiro - SOL * Hermínia Saraiva - Diário Económico * João Carvalho Pina - Kameraphoto * João d’Espiney - Público * João Paulo Vieira - Visão * Joaquim Fidalgo - Jornalista e Professor Universitário * Joaquim Furtado - Jornalista * Jorge Araújo - Expresso * José Luís Garcia - Docente e Investigador (ICS-Lisboa) * José Luiz Fernandes - Casa da Imprensa * J.-M. Nobre Correia - Professor Universitário * José M. Paquete de Oliveira - Docente, cronista, ex-provedor do telespectador (RTP) * José Manuel Rosendo - RDP * José Mário Silva - Jornalista freelancer * José Milhazes - SIC / Lusa (Moscovo) * José Rebelo - Professor Universitário e ex-jornalista * José Rodrigues – Correio da Manhã * José Vítor Malheiros - Cronista, consultor * Leonete Botelho - Público * Liliana Pacheco - Jornalista (investigadora) * Luciana Liederfard - Expresso * Luís Andrade Sá - Lusa (Delegação de Moçambique) * Luís Reis Ribeiro - DN/Dinheiro Vivo * Luísa Meireles - Expresso * Manuel Esteves - Jornal de Negócios * Manuel Menezes - RTP * Margarida Metelo - RTP * Margarida Pinto - Lusa * Maria de Deus Rodrigues - Lusa * Maria Flor Pedroso - RDP * Maria Júlia Fernandes - RTP * Mário Nicolau - Revista C * Martins Morim - A Bola * Miguel Marujo - DN * Miguel Sousa Pinto - Lusa * Mónica Santos - O Jogo * Nuno Aguiar - Jornal de Negócios * Nuno Martins - Lusa * Nuno Pêgas - Lusa * Oscar Mascarenhas - Jornalista * Patrícia Fonseca - Visão * Paulo Pena - Visão * Pedro Caldeira Rodrigues - Lusa * Pedro Manuel Coutinho Diniz de Sousa - Professor Universitário * Pedro Pinheiro - TSF * Pedro Rosa Mendes - Jornalista e escritor * Pedro Sousa Pereira - Lusa * Raquel Martins - Público * Ricardo Alexandre - Antena 1 * Rosária Rato - Lusa * Rui Cardoso Martins - Jornalista e escritor * Rui Nunes - Lusa * Rui Peres Jorge - Jornal de Negócios * Sandra Monteiro - Le Monde diplomatique (edição portuguesa) * Sara Meireles - Docente Universitária e Investigadora * Sofia Branco - Lusa * Susana Venceslau - Lusa * Tiago Dias - Lusa * Tiago Petinga - Lusa * Tomás Quental - Lusa * Vítor Costa - Lusa.

Este é apenas o primeiro passo duma iniciativa que pretende ser mais ampla.
Nos próximos dias todos os jornalistas, bem como todos os cidadãos vão ser convidados a assinar e a participar.
Pelo jornalismo, Pela democracia.

1 comentário:

Mário Reis disse...

Um rol de gente que sofreu nas últimas décadas de uma espécie de "sindroma do encarceramento": viam, ouviam e sentiam, deviam estar absolutamente conscientes de tudo o que estava a acontecer ao ambiente económico e social, à manipulação que armadilhou as nossas vidas, mas sofreram de uma paralisia quase total. Nada de novo. A natureza de uma classe média que quer tudo e o seu contrário e de uma consciência dita pequeno-burguesa que serviu os poderes até à reconquista da força devastadora que hoje têm.
Apesar de "cansado", estou solidário, porque a alternativa que os carrascos dizem ser única é "a prisão completa".