Não sabemos ainda quando (nem como) sairemos da insanidade em que nos mergulharam. Mas pode dizer-se que entrámos, nas últimas semanas, numa nova fase de evolução da crise: a evidência do fracasso da opção austeritária é cada vez mais indisfarçável e avassaladora. Bem podem os seus arautos e responsáveis continuar a insistir nos «amanhãs que cantam» que já ninguém acredita. Tinham-nos anteontem prometido que cantariam ontem. Tinham ontem prometido que cantariam hoje. E nem um pio se ouviu.
É bem certo que fanáticos, como Gaspar, sempre os teremos entre nós. De pouco importa se o navio que embateu violentamente nas rochas é já só um amontoado de destroços. No seu delírio, continuam a imaginá-lo em impante movimento, a aproximar-se do sonhado horizonte, por mais que este sempre se afaste. Esta é a primeira forma de fuga, a negação, e combina (em doses variáveis) crença com oportunismo: quando confrontados com resultados que escapam às suas previsões, os «austeritários negacionistas» ora respondem com uma fé inabalável e delirante, ora invocam razões obscuras, a que são alheios (vejam por exemplo como - na sequência da mais recente avaliação da troika - tanto Vítor Gaspar, como Abebe Selassie e Passos Coelho falam de «ventos favoráveis e desfavoráveis»: ora para justificar o fracasso a partir de elementos que não controlam, ora para renovar ilusões sem fundamento).
Uma outra forma de fuga corresponde a uma espécie de esquizofrenia inconsequente. Christine Lagarde personifica-a: mostra dar sinais de ter percebido o logro que constitui a receita suicida, referindo-se à «fadiga da austeridade» e reconhecendo os clamorosos «erros de cálculo» sobre os seus impactos na economia, ou sugerindo que o veneno seja tomado em menores doses e por mais tempo. Nada que, contudo, provoque mudanças na «outra personalidade», a que continua a aplicar a receita austeritária de forma impiedosa e implacável.
O chico-espertismo é uma terceira forma de fuga, de que se socorrem seres politicamente medíocres e invertebrados como José Manuel Durão Barroso. É a estratégia de evasão mais cínica e miserável: trata de tentar alijar responsabilidades de uma forma repugnante. Depois de forçar os países sob «intervenção externa», na parte que toca à Comissão Europeia, a aceitar a sangria austeritária (que nunca deixou de enaltecer) vem dizer - assim que começa a farejar o avolumar do fracasso - que afinal tudo não passou de uma maldade que os governos nacionais decidiram infligir aos seus cidadãos.
Imaginem uma unidade de cuidados intensivos onde um paciente é submetido a uma terapia errada, que não só não lhe cura o mal de que sofre como o está a matar. Desafiados a explicar por que razão o paciente não melhora sob os seus cuidados, a Dra. Lagarde diz que as doses de medicação têm efeitos secundários preocupantes e que foram mal calculadas, mas continua a administrá-las da mesma forma. O Dr. Barroso, por seu turno, culpa o doente por ter aceite a medicação que lhe foi prescrita. E o Dr. Gaspar (coadjuvado pelo Dr. Abebe), diz que não há problema nenhum com a prescrição: se não está a funcionar é porque andam uns ventos a soprar lá fora e que o que há que fazer é, seguramente, reforçar a dose terapêutica.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
O tempo da discussão educada terminou. Agora precisa-se é de revolução. Ex-vice-da Moody's
http://expresso.sapo.pt/ex-vice-da-moodys-apela-a-revolucao-na-zona-euro=f758145?fb_action_ids=290284347742341&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582
A Merkel vem a Portugal em Novembro!! Há que organizar uma "recepção" que ela não se esqueça tão cedo...
Lagarde ao falar em erros de cálculo, mostra em certa medida um pequenino recuo; Barroso lava as mãos como Pilatos, mostrando toda a cepa de que é feito, da gente que não presta (lembremo-nos que abandonou o cargo de PM em Portugal, e que foi ele que disse que estava(m) convencido(s) da existência de armas de destruição maciça no Iraque).
Resta-nos este governo cuja legitimidade já não existe, e onde pontifica Gaspar, o “funcionário internacional do frete”…O que é que eles quererão mais, agora, além das privatizações a preço de saldo?
Este governo tem que ir abaixo e é já!
Austeridade = tentar gastar menos do que o que há para gastar para algum dia se conseguir pagar algumas dívidas.
E se / quando a austeridade falhar pela recusa dos viciados no crédito da república em abdicar do vício de décadas... what?
O IVA volta para 17%? Contratamos mais 50 mil professores? Lançamos mais 10 Parques Escolares? Que tal mais umas auto-estradas? Geramos "crescimento" com subsídios e investimento público? "Vai vir charters" de malta disposta a financiar isto tudo? Saímos do Euro e tudo o que consumimos dobra de preço mantendo-se os salários iguais?
Cuidado com o que desejam...
Caro Anónimo,
Com todo o respeito, ainda não percebeu o que aconteceu nem o que se está a passar, pois não?
Cumprimentos
Mas alguma vez alguém podia acreditar que a chamada austeridade iria resolver fosse que problema fosse a não ser lançar os povos na miséria.?
Só os ingénuos, e os maldosos nestes se incluindo, os Passos Coelhos, Gaspares, Portas, e Cª e externamente, as Lagardes, Merkels, Barrosos e outros quejandos.
Todos estes fulanos, pivôs da direita e extrema direita, nacional e internacional, embora apregoem que se preocupam e defendem os mais desfavorecidos e a classe média( paz á sua alma) são isso sim abutres em figura de gente.
Como todos eles bem sabem o que andam a fazer e disso têm intenção, são de facto e de direito pessoas muito perigosas que têm causado e causam grandes e inqualificáveis prejuizos ao ser humano.
Nesse sentido, são autênticos genocidas que um dia, mais cedo do que tarde, pagarão pelo que fazem contra a humanidade.
Durão Barroso, Gaspar e Passos Coelho e toda a sua miserável camarilha, esses, têm a agravante de serem contra a pátria.
A história, de certeza, há-de julgá-los e recordá-los como tal.
O povo Português, estou certo, não irá permitir que os abutres prevaleçam.
Enviar um comentário