segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Eric Hobsbawm (1917-2012)
Ainda assim, não desistamos, mesmo que os tempos sejam insatisfatórios. A injustiça social precisa de ser denunciada e contrariada. O mundo não se tornará melhor por si só.
Assim termina a autobiografia de Eric Hobsbawm, o historiador marxista que dizia pertencer “à era da unidade antifascista e da Frente Popular”, que “continua a determinar o meu pensamento estratégico em política”. Também por isso era um dos meus intelectuais de eleição.
Um historiador comprometido com tudo o que é humano, sem separações artificiais, cruzando várias disciplinas, incluindo a economia política, e explicações. Um historiador com atenção às palavras, às inventadas logo nas primeiras décadas do século XIX, “que são muitas vezes testemunhos mais vivos do que os documentos”, como afirmou no início de A Era das Revoluções - “classe operária”, “capitalismo”, socialismo”. Palavras que ainda andam por aí.
Fixou quatro Eras, num trabalho de quatro volumes, ao longo de três décadas, e analisou-as – das Revoluções, do Capital, do Império e dos Extremos –, da geopolítica internacional às músicas que se tornaram populares, sem perder o fio materialista à meada. Continuou a escrever depois de A Era dos Extremos. A história não tinha acabado, mesmo que as derrotas tenham sido bem pesadas, e a força da razão também não.
Escreveu sobre os de cima e sobretudo sobre os de baixo, até porque na era das revoluções se ficou a saber que os “pobres existiam como uma classe independente das classes dirigentes”. Escreveu sobre bandidos, sobre revolucionários, os de “serviço revolucionário obrigatório” e os imprescindíveis, e também sobre jazz.
Contaram-me um dia o seguinte: quando veio a Portugal, depois do 25 de Abril, para lá de uma conversa com Cunhal, pediu para visitar uma cooperativa na zona da reforma agrária. Sempre a história da “gente comum”, dos que fazem o melhor de que são capazes nas circunstâncias que são as suas.
Viveu em tempos interessantes e pensou estrategicamente sobre eles. Morreu aos 95 anos. De facto, “o mundo não se tornará melhor por si só”.
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1 comentário:
Ele está de parabéns por não ter deixado de lado seu papel de intelectual, vide o Como mudar o mundo, mesmo no fim da vida.
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