Estar sob tutela externa e ter um governo que não faz nada para defender a capacidade negocial externa do país fazem com que os interesses dos credores e dos seus representantes políticos tenham prioridade até na prestação de contas. Só hoje começamos a conhecer os novos contornos de uma austeridade já familiar nos seus efeitos recessivos. Perante a informação de que o Estado cortou 13 mil milhões de euros desde 2010 na sua despesa, uma quebra de 16%, ao mesmo tempo que os encargos com o serviço da dívida crescem sem cessar, José Alberto Carvalho, um jornalista respeitável, em entrevista a um Carlos Moedas que não tardará a regressar aos “mercados” de onde veio, afirmou que o ajustamento das famílias foi ainda mais violento do que o do Estado, levando até Moedas a dizer qualquer coisa mais ou menos verdadeira como o Estado somos todos nós e todos nós estamos a ser “esmifrados”. Este todos é um ficção num pais tão desigual, claro.
Confirma-se assim que há quem não tenha percebido, por distracção e/ou por interesse, um ponto em que aqui temos insistido: o Estado não se pode tentar comportar como uma família em crise, e tentar aumentar os seus “rendimentos” e cortar nas suas “despesas”, sem afectar as famílias realmente existentes com quebra dos rendimentos, salariais e de prestações sociais, sem pôr em causa os serviços públicos que cuidam e qualificam, sem travar o investimento público que liga e cria actividade. O problema central é a quebra de procura e a austeridade só agrava este problema por todos os lados. O Estado só ajuda quando faz o contrário e contraria a quebra da procura. O inevitável défice em contexto de recessão é um horizonte que serve neste contexto para desmantelar, ou seja, para atrofiar as capacidades dos cidadãos.
Tudo neste enquadramento monetário externo contribui para fazer com que o Estado se comporte como se fosse uma família em crise, aprofundando a crise realmente existente. Uma nova ronda de austeridade garantirá que a taxa de desemprego ultrapassará os 16,4% previstos por um sempre optimista Gaspar para 2013. O dobro da taxa de desemprego no último programa do FMI, quando tínhamos moeda própria nos idos de oitenta. O Estado soberano é um país distante? É o que dá acreditar, como Gaspar, no equilíbrio em vez de aceitar que existem causalidade cumulativa e círculos viciosos, que existe um euro disfuncional que foi e é a expressão das suas ideias fracassadas.
Que fazer? Começar a pensar em sacudir a tutela externa, através de um acto soberano democrático que consiste na denúncia do memorando, dizendo à troika que assim não dá, e abrindo um processo negocial que terá de passar pela reestruturação da dívida. Por muitas divergências criativas que possam existir a jusante, é aqui que se tem de fazer toda a unidade democrática contra esta destruição do país. O congresso democrático das alternativas é já depois de amanhã.
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1 comentário:
«...abrindo um processo negocial que terá de passar pela reestruturação da dívida...»
UMA ESPERANÇA:
-> Precisamos de Manifestações à Islândia: a revolução censurada pelos Media, mas vitoriosa!
Resumo (tudo pacificamente):
- Renegociação da dívida;
- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais;
[uma sugestão: blog «fim-da-cidadania-infantil»]
- Prisão de responsáveis pela crise;
- Reescrita da Constituição pelos cidadãos.
{Obs: Quer nos países com mais habitantes... quer nos países com menos habitantes... os políticos, e os partidos políticos (vão ter que se aguentar), têm de passar a ser muito mais controlados pelos cidadãos... consultar o know-how islandês poderá ser muito útil}
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