terça-feira, 9 de outubro de 2012

A Europa caminha para o suicídio. E nós?


A actual política económica da UE está a lançar no desespero milhões de europeus que integram a eurozona. Mais, ao impor uma política económica semelhante à que no princípio dos anos trinta do século passado o chanceler alemão Heinrich Brüning adoptou para enfrentar a Grande Depressão (reduções salariais, aumento dos impostos, redução de apoios sociais), as elites políticas europeias estão a lançar a Europa na recessão e a pôr em risco a economia mundial (ver relatório do FMI).

Entretanto, em Portugal não há um órgão de comunicação social que identifique a génese teórica desta política e documente o seu fracasso histórico. Parece que nada se aprendeu com o fracasso da política económica que precedeu a subida ao poder de Roosevelt nos EUA e de Hitler na Alemanha. Como disse Paul Krugman, a Europa caminha para o suicídio. Com um desemprego de massa produzido por esta política depressiva, o clima social na Europa é cada vez mais favorável ao discurso populista. Sem falar nos países do centro, em Portugal o PS propõe a redução do número de deputados, na Grécia é preocupante a afirmação (legal e ilegal) da Aurora Dourada, na Espanha o discurso anti-políticos cada vez mais enquadra e canaliza a ira popular. É gritante a falta de uma narrativa de esquerda para esta crise que seja simples e intuitiva.

Não sabemos quanto tempo mais a Grécia vai suportar esta política. Mas sabemos bem que Portugal e Espanha (mais adiante a Itália) vão pelo mesmo caminho. E chegará a vez da França que também se propõe equilibrar o défice para acelerar a sua entrada na recessão.

Claro, ainda há quem pense que a UE, persistindo na batalha perdida do equilíbrio dos orçamentos, pode relançar o crescimento económico e evitar a desintegração. Porém, de nada serve fazer planos de melhoria do financiamento das empresas quando não há procura para o que produzem. Lançamento de grandes projectos europeus em diversos tipos de infraestruturas, com financiamento através do BEI por emissão de obrigações, seria interessante para as grandes empresas alemãs, algumas francesas e pouco mais. Mas não se vê em que é que tais projectos beneficiariam as PME portuguesas que vivem do mercado interno e ainda não faliram. A verdade é que o discurso do relançamento à escala europeia, a conhecida "economia da oferta", é uma fuga ao reconhecimento de que só um relançamento da procura interna à escala nacional terá eficácia. E que isso não se pode fazer porque implica a ruptura com a política depressiva e a aceitação do financiamento do défice por emissão de moeda. Uma impossibilidade enquanto aceitarmos a tutela da Alemanha e seus satélites.

Evidentemente, existe outra política económica. Ela começou a ser construída no Congresso Democrático das Alternativas e passa pela denúncia do Memorando e a abertura de um processo negocial com a UE em nome do direito ao desenvolvimento de Portugal. Se desse processo negocial resultar inevitável a saída da eurozona, seja. Os custos serão sempre menores que os de permanecer nesta espiral depressiva. É que no primeiro semestre do próximo ano há mais derrapagem nas receitas fiscais e mais austeridade à nossa espera. E mais gente para desempregar, para além dos que serão despedidos até ao fim deste ano na função pública e nas empresas.

Entretanto, uma pergunta crucial aguarda resposta: quando Paulo Portas saltar do governo, estará já disponível uma alternativa política que dê futuro ao país?

8 comentários:

henriquedoria disse...


A esquerda ( BE e PCP) que se uniu para derrubar Sócrates e o substituir por estes psicopatas, tem o dever moral de se unir numa grande coligação com independentes para construir uma alternativa ao colaboracionismo do PS com a Troyka.
Se o não fizer, coloca-se ao nível moral do PS.

Jorge Raposo disse...

Queria-lhe deixar mais uma alternativa, menos dolorosa, mais rápida, mais estratégica e sustentada, a todos os níveis:
Porque não colocar na ordem do dia a revisão do Tratado de Lisboa, particularmente o artculado que proibe o fianciamento dos paises pelo BCE?
Porque se decidiu institucionalizar a usura no canal internacional de crédito?

Anónimo disse...

E porque não a saída do euro? Essa opção, diziam, representaria uma catástrofe.... A catástrofe está ocorrer, e a dependência económica e financeira não mais vai parar.

Luís Lavoura disse...

Hmmm, então Portugal enceta um processo negocial com a UE com vista, possivelmente, à saída do euro? Quais seriam as consequências do encetamento de tal processo, em termos de fuga de capitais? Já pensou nisso?

Anónimo disse...

Que capitais fugiam sr. Lavoura? Conhece alguém com dinheiro a investir na economia real, a correr riscos, a esperar pela "retorno"?

Manuel Afonso disse...

Concordo totalmente com o primeiro comentário sobre a unidade BE/PCP. Mas não era isso que queria comentar. Estive no debate do CDA sobre o memorando, onde tive até o prazer de intervir. Na intervenção final o Jorga Bateira referiu um documento que na altura me pareceu interessante, embora não me lembre do tema (a memória tem destas coisa). Lembra-se de qual é? Sabe onde o posso encontrar?

Amandio Nogueira disse...

Continuo a pensar que é possível uma AR sem controlo partidário e aberta a cidadãos independentes. Na AR só deve haver cidadãos eleitos e a votarem em consciência e por voto secreto; portanto, partidos FORA da AR! Os partidos (não quero generalizar, mas tb não se deve particularizar)tornaram-se metásteses de interesses vários e alguns inconfessáveis, grupos económicos, escritórios de advogados, banqueiros, maçons, etc. Partidos, fora; cidadãos, dentro! De uma vez por todas: Só bons cidadãos na AR dignificarão os partidos de onde vêm (quem tiver)e não o contrário. Em vez do bla-bla actual "foste tu -foi o teu pai-vocês isto - o teu pai aquilo - e vocês p'rá qui e p'rá li". AR não pode ser tacho, nem carreira, nem dormitório" Cada deputado terá de prestar contas ao circulo por que foi eleito para isso se criando mecanismos de consulta adequados. E isso agora é tão fácil. Até electronicamente. Acabe-se com o Relicário e restaure-se a República. E de uma vez por todas!

Jorge Bateira disse...

Caro Manuel Afonso,

O texto de que falei na intervenção final é um artigo de Wolfgang Münchau no FT: Welcome back to the eurozone crisis.
Tem acesso através do Google.