quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Entre a democracia e a ditadura 2

Tirado do sítio do BCE

Sobre o tema do anterior post, os comentadores ouvidos pela RTP - Helena Garrido e Manuel Carvalho, director do Público - acharam "natural" esta ênfase do BCE na subida brutal das taxas de juro, dada a sua missão independente do poder político. Dizem eles: como o único instrumento que o BCE tem para cumprir a sua única missão - que é a de controlar a inflação (porque não é a de garantir o pleno-emprego?) - então o BCE só pode fazer subir a taxa de juro. "Subir a 2% não é dramático", diz o director do Público. Os governos - como diz o BCE -  "têm é de fazer políticas selectivas, não para toda a gente", diz Manuel Carvalho. Não há nada a fazer, dizem, mesmo que o BCE dê cabo da economia e da vida das pessoas. Sim, mas "controlar a inflação gera sempre dor", frisa Helena Garrido! 

Onde foi que já ouvimos isto (e até na voz de Helena Garrido?). 

Ah! Foi em 2010. Nessa altura, Helena Garrido defendia os efeitos benéficos de uma "boa recessão"!... Na realidade, a política seguida - elogiada por Helena Garrido - viria a provocar uma taxa de desemprego em sentido lato de 25% da população activa!   

 

Jornal de Negócio 22/4/2010  - Portugal precisa de uma boa recessão 

Os excessos financeiros [de quem?] [só?!] se resolvem com uma recessão económica que agrava a situação financeira e lança o pânico entre os credores. Quando não se tem uma garantia financeira. É este o problema de Portugal, como o da Grécia e de Espanha.

(...)

Não é a primeira vez que os portugueses [quais portugueses? O sector financeiro?] enfrentam a dura realidade de serem mais pobres do que pensavam depois de euforias consumistas [euforias?! de quem?]. Nos dois últimos episódios, o Fundo Monetário Internacional entrou pelo País a dentro e determinou as medidas para garantir o financiamento da divida. [e com muito sucesso sempre, trazendo por arrasto uma agenda condicionada bem clara de desvalorização salarial e desarme do Estado Social!]

A grande diferença em relação ao tempo do Fundo é o euro, que nos deu mais tempo para fazer asneiras [quem fez asneiras? Os portugueses?] e que agora nos [a todos, não é?] vai fazer pagar caro os disparates [de alguns]. Fomos avisados, é verdade que baixinho, por muitos economistas quando entrámos no euro e enquanto fomos alimentando alegremente a nossa fúria consumista [de Portugal que tem... 4 milhões de pobres!]. Mas, como os mercados, ninguém queria ouvir. Como a dívida [pública ou do sector privado?] que o uso irresponsável do euro permitiu, é mais elevada e como não temos menos instrumentos de reequílibro que no passado [mas não foi anunciado como uma vantagem?], a resolução do problema vai ser muitíssimo mais dolorosa [para todos, não é?]. E só não é mais grave porque vamos [quem?] apanhar boleia da Alemanha, tal como os gregos [que viveram felizes para sempre, como se viu...]

Se hoje fôssemos deixados ao abandono, entraríamos em colapso financeiro à islandesa , contagiando toda a Zona Euro [e lá se fechavam uns bancos]. E os bem comportados [?!] do euro, como os alemães [?!], pagavam também parte da factura do nossa [nossa?] irresponsabilidade [?!]. Incentivar a irresponsabilidade dos almoços grátis ou condenar o País ao colapso financeiro e desacreditar o euro é o dilema que enfrenta a Alemanha [?! o dilema era outro: deixar ou não falir os bancos alemães e franceses enterrados em Portugal - ver aqui, aqui e aqui]. Factura por factura, contamos que saia mais barato a Berlim ajudar as irresponsáveis [ou os seus bancos, colocando todos os portugueses a pagar esse esforço por uma dívida que não era sua]

O que se está a passar expõe a fragilidade da arquitectura da moeda única. Como disse o presidente do Banco Central Europeu, à UEM falta o E de Económica, um E que imponha a disciplina financeira e que retire soberania aos irresponsáveis. Quando um país fica sem financiamento externo, o FMI troca a sua garantia de crédito pela imposição de medidas duras de correcção dos desequilíbrios. É este o poder que tem de se dar às instituições europeias. Quem não é responsável tem de ser tratado como irresponsável. 

O melhor que poderia acontecer a Portugal era um plano à FMI imposto pela União. Em vez desta morte lenta, teríamos uma violenta, boa e rápida recessão. Para voltarmos de novo a crescer com saúde.

 

E aí está! A "boa" solução para todos!  

 

5 comentários:

Anónimo disse...

Se querem preços estáveis, que os tabelem!

Anónimo disse...

E voltámos a crescer com saúde? Como é que um país que na segunda metade do séc XIX era dos que mais crescia a nível mundial, sendo comparado com os 3 tigres asiáticos, passa de bestial a besta? (https://preview.redd.it/bor4xe9qwkp71.jpg?auto=webp&s=0adba341a79512dd958862a2737110a4446eeba8)
Se bem me lembro de uma aula na faculdade um professor fazer uma declaração "chocante", que a austeridade tinha começado bem antes de 2011.
Tudo tem uma explicação o euro. Quem foram os irresponsáveis? As famílias e PMes? Ou os (ir)responsáveis que nos prometeram prosperidade no mercado único e no "pelotão da frente"?

jose duarte disse...

Passados 12 anos, a comentadora continua na mesma onda: será que não aprendeu nada com a "boa recessão" de então? Ou antes, acredita mesmo no pai natal?
O escrito transcrito é uma verdadeira peça sobre como não funciona a economia e como não funciona uma política monetária como instrumento fundamental de controlo das crises financeiras.
Eu até diria que o comentário sobre escrito é: "sem comentário" ponto.

Anónimo disse...

Estes são os comentadores de serviço da Televisão Pública...............

TINA's Nemesis disse...

A necessidade de vingança sobre a maioria do povo português, o notório tom anti-democrático, o claro desconhecimento sobre matérias de que supostamente é conhecedora neste texto da Helena Garrido demonstra bem a mente de uma pessoa que tem mau caráter e que não devia ter acesso ao palco que tem.

Helena Garrido não é uma pessoa moderada, é uma extremista que embrulha o seu discurso extremista em conversa pseudo-técnica e num coletivismo hipócrita oportunista para fazer passar as culpas para todos e, assim, desresponsabilizar a eurocracia, governos, partidos, neoliberalismo e oligarquias.

Helena Garrido, Manuel Carvalho, etc. fazem muitas vítimas. Muita gente ainda olha para a TV, jornais de “referência” e seus propagandistas como sendo gente séria, é por isso que esta gente tem que ser denunciada e ridicularizada, para que as vítimas consigam identificar seus agressores.

Lá no fundo Helena Garrido, Manuel Carvalho, etc. sabem quem verdadeiramente servem, sabem o que têm que fazer para manter as posições que ocupam e sabem que têm que ir para a TV sem contraditório, não vá alguém ter a coragem de os denunciar como fraudes e pilantras.

Quando fiz um comentário no Público online a constatar o óbvio, de que Manuel Carvalho não sabe de economia, a minha conta foi bloqueada. São os míticos "valores democráticos" euroliberais realmente existentes!