sábado, 15 de outubro de 2022

Emergência


Um país que não tem soberania monetária tem de preocupar-se com o que os credores pensam da sua vida orçamental. É certo que há países (caso do RU) que têm soberania monetária mas estão tão imbuídos da ideologia neoliberal que não sabem o que fazer com o seu banco central, muito menos admitem disciplinar os mercados financeiros controlando os fluxos de capitais. Nesses casos, o governo do país está entregue aos especuladores. A democracia tornou-se uma farsa.

Portugal abdicou da soberania monetária e, por essa razão, está sujeito à disciplina do BCE e de Bruxelas. O governo até podia explorar alguma margem de manobra que hoje existe mas não quer. Prefere cultivar a imagem do "bom aluno", do "servo de confiança". Por isso, a inflação (adicionada dos ganhos de produtividade) será sempre superior aos aumentos nominais dos salários e pensões. Teremos perda de poder de compra. Portanto a parte dos salários no Rendimento Nacional continuará a diminuir, ao contrário do que a propaganda anuncia.

Uma economia de salários baixos e emprego precário, uma grande desigualdade e pobreza que se agravam com a perda do poder de compra da maioria da população, um enorme endividamento externo criado depois do euro ... tudo isso num contexto de anunciada recessão mundial com os bancos centrais a quererem combater uma inflação pela oferta através da continuada subida dos juros, reduzindo a procura e, em alguma medida, até agravando a inflação pelo aumento dos custos financeiros. E, desgraçadamente, com uma liderança política determinada a resolver a guerra no campo de batalha.

A CGTP tem toda a razão, estamos confrontados com uma EMERGÊNCIA NACIONAL no quadro de uma emergência internacional. No Porto, a dimensão da manifestação deixou-me satisfeito. Precisamos de mais mobilização política, unitária e plural, para conseguirmos transformar Portugal segundo os valores da nossa Constituição da República.

2 comentários:

Anónimo disse...

"um País que não tem soberania monetária" é mesmo um País?.
As autoridades portuguesas, ao tempo, consumaram uma adesão a esta União política e acrescentaram perca de soberania monetária com a também adesão ao Euro. Poderiam os então responsáveis não ter agido de esta forma?.

Os Orçamentos de Estado, com moeda própria, durante os últimos 20 anos, seriam iguais ou mesmo semelhantes, aos consecutivamente apresentados em Bruxelas e na AR?.
Enfim, as forças políticas locais hoje seriam estas?.

João Manarte disse...

Acho que a utilização da expressão “parte dos salários no Rendimento Nacional”, ao invés de peso dos salários no PIB, merece uma outra crónica (e muito importante).