segunda-feira, 11 de abril de 2022

Problemas imaginados e problemas reais. Medo e racionalidade


Portugal é um país com fronteiras definidas desde o século XIII, na ponta ocidental da Europa, sobre o qual não pendem pretensões de controlo territorial direto desde o início do século XIX, mas onde se acha imperativo aumentar a despesa pública com as forças armadas, com base na lógica fantasiosa de que Putin "começa em Kiev e acaba no Terreiro do Paço".

Portugal é o mesmo país que viverá um enorme inverno demográfico nas próximas três décadas, desafio que implica um aumento secular dos gastos em saúde e com o setor do cuidado, nomeadamente em equipamentos como lares de idosos e cuidados continuados, mas onde se consentiu que, nos anos antes da pandemia, os gastos em saúde crescessem abaixo do crescimento do PIB e onde não existe uma estratégia de investimento sistemático em serviços universais de terceira idade.

Aumentar os gastos militares não trará nenhuma autonomia estratégica à nossa soberania. Se alguém nos quiser invadir, não é por comprarmos mais uma dúzia de tanques que iremos resistir. É como dizer que devemos tentar usar a nossa última garrafa de água para tentar encher uma piscina, em vez de matarmos a sede. Pelo contrário, alocar gastos e investimento público no setor da saúde e do cuidado será vital para evitarmos uma crise social e de saúde pública no que aos cuidados na velhice diz respeito.

Bem sei que Milhazes não nos inunda os diretos televisivos a falar do segundo problema. Mas não reagir emocionalmente aos temas e manter a racionalidade quanto aos efetivos problemas estratégicos do país é responsabilidade de todos.

2 comentários:

Mozgovoy disse...

Os problemas estratégicos do país - o envelhecimento, a regressão demográfica, a implosão da Educação e da Saúde, o progressivo aniquilamento da (pífia) economia e da (esquelética) produção e a fome que brevemente assolará não pouca parte da população portuguesa - terão fácil resolução: a malta ouvirá continuamente, chorosa e compungida, o hino ucraniano, acenderá velas a esse Santo padroeiro da democracia que é (enquanto vivo e ainda mais será depois de morto às mãos dos seus bonecreiros, os quais dirão que quem o "despachou" - com o mortífero "Novichok", está bem de ver - foi o Putin) o Zelensky e, dedicando-se gostosamente ao canibalismo, comerá tenros "refugiados" ucranianos ao pequeno-almoço, ao almoço, ao jantar e, para quem tiver barriga para tanta fartura, à ceia.
À hora da deita, felizes, contentes e de barriguinha cheia, leremos (com muito prazer e ainda maior proveito), para convocar os angélicos braços de Morfeu, os magníficos e mui veros textos reunidos do Milhazes.
Como certamente dizem os leitores de cristais e "influencers" motivacionais que passam
por elite política e empresarial neste país, os problemas não existem, pois o que verdadeiramente existe (se desejarmos muito, muito, muito e pusermos de lado os "pensamentos negativamente tóxicos") são imaginosas soluções...

TINA's Nemesis disse...

Há por aí uma certa “esquerda”, a “esquerda” que é paga para dizer coisas banais e inócuas para a classe dominante na “comunicação social”, que já não consegue esconder a sua natureza belicista e imperial. É o que receber mesadas ano após ano da classe dominante faz, os ideais acabam nas mais recônditas gavetas.

Neoliberalismo verdadeiramente degradou muito a sociedade, nós devíamos estar melhor do que estamos mas o neoliberalismo não deixou…
Imaginem se a Social Democracia não se tivesse corrompido, se o paradigma limitado mas melhor que antes, e melhor do que o paradigma neoliberal, o que seria a sociedade hoje? Os ganhos que teriam acontecido? Os problemas que teriam sido resolvidos? Quais seriam as discussões hoje para fazer avançar a sociedade?

Neoliberalismo estagnou a sociedade e em alguns aspectos até a fez regredir, não me refiro apenas a questões materiais, desenvolvimento tecnológico e científico, refiro-me também ao pensamento.
As pessoas desistiram de querer fazer melhor tal foi a investida regressiva sufocante neoliberal.
Neoliberalismo não tem capacidade para resolver qualquer problema da sociedade, não criou uma sociedade de pessoas mais livres, criou uma sociedade em que uns quantos têm agora mais liberdade para abusar da maioria.

E mais uma vez digo aqui, a esquerda, a verdadeira esquerda, não pode achar que a palavra “ambição” é uma palavra suja, quem quer mudar o mundo para melhor necessariamente está condenado a ter ambição.