segunda-feira, 18 de abril de 2022

Um jornal com alternativas


[A]s empresas, em particular as que têm visto os seus lucros crescer nos últimos anos (Galp, REN, EDP…), em contracorrente com a crise que atingiu tantos outros sectores, deveriam, pelo contrário, ser tributadas com um imposto sobre os lucros extraordinários. Essa receita fiscal permitiria ao Estado financiar políticas redistributivas (ver, nesta edição, o artigo de Vicente Ferreira, centrado na análise da energia e dos combustíveis). Não basta, contudo, um outro olhar sobe a fiscalidade, por importante que seja aumentar a sua progressividade e a incidência sobre os rendimentos do capital. Será preciso actuar, a montante, sobre a fixação de preços. Isto aplica-se à electricidade, com a fixação de preços máximos para as famílias e microempresas, sem dúvida, mas devia aplicar-se também aos preços da habitação e dos bens de consumo essenciais, como os alimentos que fazem parte do cabaz de compras de qualquer família. O Estado tem de ter instrumentos para agir sobre a formação dos preços no mercado, mesmo quando alienou (erradamente, mas não irreversivelmente) a propriedade de sectores estratégicos.

Sandra Monteiro, O preço dos lucros, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Abril de 2022.

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