quarta-feira, 6 de abril de 2022

Proibido por inconveniente

«Só existe aquilo que o público sabe que existe» (Salazar)

«Um dos grandes sucessos da Censura foi criar uma imagem de Portugal pacificado, inerte, pouco conflitual, sem grandes violências, mais de bons costumes do que de maus, que foi eficaz mesmo com aqueles que lutavam contra a ditadura. E continua eficaz quando se lê o que se escreve hoje em dia sobre os malefícios da democracia, em particular a corrupção, com a sugerida e às vezes explícita ideia de que nada disto com esta dimensão existia antes do 25 de Abril. (...) Neste sentido, a Censura foi talvez a mais eficaz arma do regime da ditadura, cujos efeitos ainda hoje estão submersos no nosso quotidiano. Muito mais do que a subversão do “político” o que a Censura protegia era o poder, todas as hierarquias que dele emanavam, exigindo mais do que respeito, “respeitinho”. Em 48 anos, em que não houve um único dia sem censura, foi este o seu legado» (José Pacheco Pereira)

Organizada a partir do espólio do Arquivo Ephemera, a exposição de materiais de censura do Estado Novo, «Proibido por inconveniente» está patente, entre 7 e 27 de abril, das 11h00 às 18h00, na antiga sede do Diário de Notícias (Avenida da Liberdade, 266, em Lisboa).

1 comentário:

Jose disse...

A banalização e judicialização dos maus costumes é uma das conquistas democráticas, e essa é uma clara oposição aos princípios que integraram a herança da censura.

Se à comunicação social sempre se lhe supõe subjacente um qualquer compromisso ético e existe mesmo uma tal ERC - Entidade reguladora da Comunicação Social, que mais não é que uma intervenção institucionalizada nessa área, há que considerar que associada à publicidade e subsídios com origem em entidades em que o Estado está presente ou é próximo, permanecem meios de intervenção pública em termos de comunicação social.
Daí decorre que nas acções de protecção do poder é muito mais nítida uma herança dos princípios orientadores da censura.

Na componente diversidade de opinião expressa, da proibição/linguagem de subentendidos para a liberdade/corretês, não sei de padrão de medida adequado.