quinta-feira, 7 de abril de 2022

"Armas, armas, montes de armas"


Se não fosse demasiado grave, até parece uma reutilização do guião do famoso filme Matrix.

Keanu Reeves, na personagem do Escolhido Neo, vai entrar no mundo ilusório do Matrix - um sistema software-neurológico criado para deixar os humanos anestesiados enquando as máquinas, para sobreviver, exploram a energia dos humanos. Neo entra nele para salvar o seu companheiro Morfeus das garras dos guardiões policiais do sistema, onde pontua Mr. Smith, um programa de vigilância policial. E quando o operador dos resistentes pede a Neo o que quer para lutar no Matrix, ele responde:

- Armas, montes de armas! (Guns, lots of guns!)

A mesma mensagem tem sido repetida pelo presidente Zelenskii de cada vez que aparece em transmissão video nos parlamentos dos diversos países. Até chegou a pedir repetidamente o "fecho dos céus", o que - como explicou o porta-voz da NATO - isso não era possível porque levaria a uma guerra nuclear entre a NATO e a Rússia (!). Zelenskii já não pede os céus, mas continua a pedir tanques, mísseis, aviões. Mas ontem foi o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros que pediu mais armas quando lhe perguntaram o que era necessário para os ajudar: 

"A minha agenda é muito simples e tem apenas três tópicos: Armas, armas, armas. Acho que o negócio que a Ucrânia está a oferecer é justo. Vocês dão-nos armas, nós sacrificamos as nossas vidas e a guerra é contida na Ucrânia". 

Dada a forma como o governo ucraniano usa a imagem como propaganda, é de acreditar que não foi um acaso a forma como pediu apoio militar.

Esta preocupação aparece sintonizada com os responsáveis da NATO.  

Desde o início que o discurso oficial era o de que a guerra iria demorar. Depois, as negociações iniciaram-se e houve algum optimismo, falava-se já de haver documentos escritos. Sublinhava-se os elogios da Rússia à iniciativa ucraniana (de ceder à sua pretensão de entrar na NATO, de ser neutra, de esquecer a Crimeia por 15 anos, por exemplo), embora houvesse problemas ainda na questão territorial. Mas parecia haver um caminho, mesmo que a guerra prosseguisse, sem cessar fogo.

Mas depois de Bucha, tudo pareceu voltar ao ponto inicial. O presidente Zelenskii disse que, depois do que se viu, as negociações se tornaram muito difíceis. As conversações passaram a ser consideradas como impossíveis. O ministro russo dos Negócios Estrangeiros Lavrov disse que se estavam a torpedear as negociações. A CNN Portugal deu voz a uma deputada ucraniana, não identificada, que rejeita a via diplomática: 

"Só há uma solução nesta fase que é vencer a guerra, militarmente, Para garantir uma solução diplomática, é  preciso confiar na pessoa com quem estamos a negociar. Acho aque ninguém no mundo pode dizê-lo que confia em Putin presentemente. Em segundo lugar, o que ele nos pede nós não somos capazes de dar. Anexar parte do território, com pessoas, isso é inaceitável". 

Depois de Bucha, a NATO enfatiza "os crimes de guerra" e volta a apostar - de novo - na continuação da guerra, num prolongamento da guerra por "muitos meses e até anos". A ideia parece ser a de esgotar os recursos russos, esvaí-lo, para forçar a Rússia a ajoelhar. O tempo jogaria contra a Rússia.

 

E em sintonia com a NATO, o Pentágono que não conseguia se pronunciar sobre o caso de Bucha entretanto já fala de uma vitória militar na Ucrânia. Tudo indica, pois, que a NATO e os Estados Unidos adoptaram a preocupação de ganhar esta guerra militarmente, e só entrar em negociações apenas quando estiver na mó de cima. Teme-se, pois, o pior. 

Longe, muito longe das preocupações oficiais iniciais, fica a vida dos inocentes cidadãos ucranianos que ainda vão sofrer muito mais com o prolongamento da guerra.

A guerra não deveria ter nunca acontecido. Mas os argumentos que a condenaram deveriam também  servir para condenar o seu prolongamento. Fornecer armas será a melhor solução para terminar uma guerra, sobretudo uma guerra com um país que tem bombas atómicas? Passou a preocupação agora a ser outra? 

Sinta. Mas depois pense, antes de responder. 

P.S. Sobre o que é a guerra, por favor ver este video com soldados ucranianos a matar soldados russos. Não estou a falar de crimes de guerra: apenas da morte. Do horror da guerra.

14 comentários:

Anónimo disse...

Registá-mos as suas críticas. Mas mais importante que isso, é sabermos o que propõe para terminar a guerra de invasão e destruição da Ucrânia. O que, na sua opinião, VZ deveria ter feito e não fez, é passado. Qual é a sua solução?

João Ramos de Almeida disse...

Caro anónimo,
A guerra na Ucrânia parece ser uma guerra por procuração em que a Ucrânia aceitou arriscar ser peão de um interesse mais alto, ainda que benignadamente se possa dizer em busca da sua segurança. Foi isso que se passou, como corolário do desenrolar dos acontecimentos desde 1999.

Ora, antes das manobras militares da NATO/Ucrãnia na fronteira da Rússia ou da colocação de tropas russas na fonteira da Ucrânia; antes da invasão da Crimeira em 2014 e da guerra que se seguiu; antes da revolta de Maidan; antes de... Bem, já nem se falo disso, Digo: No momento em que o primeiro tanque entrou na Ucrânia, alguém deveria ter tomado a iniciativa de fazer encontrar-se, ao mais alto nível, representes da NATO, Rússia, Ucrânia - ou mais alargada - e negociar. E encontrar uma solução de bom senso, que desse segurança a todos. Era forçoso para impedir aquilo que o Papa designa por matança.

Dirá: nessa altura já não era possível chamar essas partes à razão e a iniciativa militar prova essa possibilidade. Mas se assim é, tudo deveria ter sido feito para impedir que se chegasse a este ponto. Foi isso que foi feito?

Dirá: mas mesmo isso, nada justifica a invasão. E tem razão. A guerra é algo que não deve existir. Mas existe. E há homens que são capazes de a decidir, que são capazes de colocar valores de defesa de um país, acima da vida as pessoas. E esse deve ser sempre um elemento a ter em análise. Porque certos actos têm consequências e deve-se sempre esperar o pior. Ora, se assim é e se a guerra é horrível, tudo deveria ter sido tratado com pinças. E não foi.

Eis o tempo de voltar à mesa e discutir tudo, tudo aquilo que não se fez.

Anónimo disse...

Mais uma tentativa de evacuar comandantes da OTAN de Mariupol por mar falha Ontem, comandos especiais conjuntos dos Navy Seals, os Estados Unidos e os britânicos do SBS (Special Boat Service) tentaram apreender o navio de comando da Marinha ucraniana Donbas para evacuar os oficiais da OTAN cercados no porto de Mariupol. https://mpr21.info/fracasa-otro-intento-de-evacuar-a-los-mandos-de-la-otan-de-mariupol-por-via-maritima/

Anónimo disse...

Caro Anónimo das 16:24 as pessoas têm de ser responsáveis pelos seus actos e pelas suas omissões, os senhores que decidem a guerra têm de sofrer as consequências da mesma seja do lado de cá ou de lá, a vida dos povos não pode ser moeda de troca de nada, proponho numa primeira fase acabar com os offshores e de seguida impor controlo dos lucros das empresas para garantir equilíbrio e redistribuição, e há muito mais a fazer...

Anónimo disse...

Zelenski cede la palabra a un neonazi del batallón Azov en su discurso frente al Parlamento de Grecia (...) a parlamentaria Olga Gerovasili, secretaria de Syriza, afirmó que lo sucedido fue "un gran error". "Es inaceptable que hoy se haya dirigido al Parlamento griego, junto con el presidente Zelenski, un miembro de la Orden Azov", señaló en una nota de prensa, donde informó que "pedirán explicaciones" al presidente del Parlamento, Kostas Tassoulas, para esclarecer si estaba al tanto y de acuerdo con lo sucedido. https://actualidad.rt.com/actualidad/426278-zelenski-ceder-palabra-neonazi-batallon-azov-parlamento-grecia

Anónimo disse...

E quem deveria ter sido chamado à razão?

Miguel disse...

«há homens que são capazes de a decidir, que são capazes de colocar valores de defesa de um país, acima da vida as pessoas.»

Sim, mas não só. Também há homens que são capazes de colocar os valores ideológicos e imperiais que perfilham acima da vida das pessoas atacando um país. Pronto, assim ficamos com os pontos nos iis e os traços nos tts.

Anónimo disse...

A seguir, a China, é o freguês que se segue:
NATO accuses China of issuing 'challenge'
Beijing's refusal to condemn Russia presents a challenge to the bloc, the secretary general says
Vai tudo a eito ! https://www.rt.com/news/553490-nato-stoltenberg-china-challenge/

Anónimo disse...

Opinião de Boaventura Sousa Santos:

https://estatuadesal.com/2022/04/07/a-europa-e-seus-cem-anos-de-solidao/

Anónimo disse...

Gostava de saber onde está publicado o discurso citado do ministro ucraniano de Estrangeiros Kuleba - não encontrei (na totalidade) - obrigada!

Joaquim Claro disse...

Apetece-me dizer: "Até tu, ladrão de bicicletas?". O que seria a satisfação de muita gente, não tão boa quanto se querem fazer, é que pura e simplesmente a Ucrania se rendesse. Mas a propósito de quê o teria de fazer? A Ucrania é um país soberano que foi invadido por um imperialista assassino e, como tal devem ser rechaçados sem dó nem piedade. A guerra, que conheço de muito perto, por que já fui interveniente, é horrivel, mas mais horrivel é cruzar os braços perante os algozes que dizimam o nosso povo, põêm o nosso país a ferro e fogo, assassinando indiscriminadamente civis, incluindo mulheres e crianças. Morrer com honra e não dobrar a cerviz tem, inevitavelmente de ser a palavra de ordem do povo ucraniano, ao qual se deve proporcionar todos o meios que lhe permita manter a integridade do seu território, usurpado por Putin e a sua camarilha, ao arrepio das leis internacionais e do próprio povo russo que, na sua maioria desconhece a realidade e as camadas mais jovens, mais informadas pelo acesso às redes sociais, que contestam a GUERRA, são violentados pelas autoridades russas ao serviço do fascimo/nazismo instalado no Kremelin!

João Ramos de Almeida disse...

Caro Joaquim,
Julgar um conflito no campo dos princípios é a forma mais fácil de ganhar uma guerra. O problema é que a guerra - como disse conhecer - se passa a outro nível. Parafraseando um dos militares que ouvimos na televisão e que, creio, não queria empregar todo a violência das palavras: "Os cães é que vêem a preto e branco; a vida é a cores".

E aqui o que interessa é saber como se pode encontrar a paz e uma convivência em paz, de forma prolongada. E aí, sinceramente, não me parece que o prolongamentoda guerra seja a solução. Quem aposta nessa possibilidade - ou no esvaimento de um dos contendores, ou na viragem da opinião pública ou num desequilíbrio da correlação de forças do ponto de vista militar - está a pedir que morram muitos e muitos milhares de pessoas. E sem resultados práticos.

Exigir à Rússia que se retire, não faz sentido, porque ela não se retirará assim. A solução tem de passar, sim, por uma solução política. Por garantias mútuas e um acorddo firmado.

Um conflito militar é um conlito político por outra forma. É necessário regressar à forma política que falhou. E que não se procurou encontrar. Já é tempo! E não é entre a Rússia e a Ucrânia. Veja quem são os militares ocidentais que estão na Ucrânia e verá que já se trata de um comflito mundializado. É tempo de parar antes que seja tarde.

Mozgovoy disse...

O conflito terminará quando aquilo que Vladimir Putin e o Governo da Federação Russa disseram serem os seus objectivos - a desmilitarização e a desnazificação da Ucrânia - for atingido.
O intuito dos EUA e dos seus lacaios - a UE e a OTAN - é o de prolongarem a guerra batendo-se bravamente até à última gota de sangue do derradeiro ucraniano banderista. As geniais "elites" ocidentais pensam estar a meter as forças russas num novo Afeganistão... Enganam-se redondamente: nem o Afeganistão foi aquilo que eles pensam que foi para a URSS, nem a planíssima Ucrânia é o acidentadíssimo Afeganistão, nem, tão pouco, a tecnologia militar actual da Federação Russa é a da antiga URSS.
No entretanto da inexorável marcha da destruição completa das forças armadas ucranianas, as únicas vitórias ucranianas-atlantistas a que vamos assistindo são as da mais abjecta propaganda: dos assassinados que aparecem nas ruas três depois de os seus supostos assassinos terem evacuado os subúrbios de Bucha (curioso topónimo, fácil e inconscientemente assimilado na esfera da descerebrada opinião pública anglo-saxónica com o nome "butcher"), sem que, nos três dias entretanto decorridos, alguém (nem o Presidente da Câmara...) tenha dado pela sua conspícua presença, ao míssil "russo" que mata 50 cidadãos numa estação ferroviária, mas cujo número de série - ele há coisas do diabo! - pertence a um míssil Toshka-U que só é utilizado pelo exército ucraniano e que constava do seu inventário de mísseis, das dezenas e dezenas de tanques "russos" diariamente calcinados pelos maravilhosos MANPAD´s otânicos fornecidos à Ucrânia, até às centenas de lindíssimas meninas ucranianas (ele sempre é mais agradável ouvir petas do tamanho do mundo ditas por um palminho de cara do que escutar verdades evidentes proferidas por gente feia e de voz grossa) que constantemente nos lembram nas redes sociais que os russos têm cornos, cheiram a enxofre, comem criancinhas ao pequeno-almoço e têm por "hobby" favorito violar mulheres, ele é um universo de "vitórias" que nos levam a crer que os ucranianos estão às portas de Moscovo.
De uma coisa podemos ter a certeza: a derrota da OTAN, de Zelensky e das suas hordas neonazis estará tanto mais próxima quanto mais histérica for a vozearia dos "Amigos da Ucrânia" na divulgação de "massacres" de civis ucranianos e de rijas vitórias ucranianas que matam russos aos centos de cada vez.
Depois, quando a poeira baixar, restará a crua realidade: a propaganda não ganha guerras, nem, tão pouco, sopra vida no cadáver putrefacto do Ocidente que está morto há (para ser generoso) 80 anos sem que por tal tenha dado.

Mozgovoy disse...

O conflito terminará quando aquilo que Vladimir Putin e o Governo da Federação Russa disseram serem os seus objectivos - a desmilitarização e a desnazificação da Ucrânia - for atingido.
O intuito dos EUA e dos seus lacaios - a UE e a OTAN - é o de prolongarem a guerra batendo-se bravamente até à última gota de sangue do derradeiro ucraniano banderista. As geniais "elites" ocidentais pensam estar a meter as forças russas num novo Afeganistão... Enganam-se redondamente: nem o Afeganistão foi aquilo que eles pensam que foi para a URSS, nem a planíssima Ucrânia é o acidentadíssimo Afeganistão, nem, tão pouco, a tecnologia militar actual da Federação Russa é a da antiga URSS.
No entretanto da inexorável marcha da destruição completa das forças armadas ucranianas, as únicas vitórias ucranianas-atlantistas a que vamos assistindo são as da mais abjecta propaganda: dos assassinados que aparecem nas ruas três depois de os seus supostos assassinos terem evacuado os subúrbios de Bucha (curioso topónimo, fácil e inconscientemente assimilado na esfera da descerebrada opinião pública anglo-saxónica com o nome "butcher"), sem que, nos três dias entretanto decorridos, alguém (nem o Presidente da Câmara...) tenha dado pela sua conspícua presença, ao míssil "russo" que mata 50 cidadãos numa estação ferroviária, mas cujo número de série - ele há coisas do diabo! - pertence a um míssil Toshka-U que só é utilizado pelo exército ucraniano e que constava do seu inventário de mísseis, das dezenas e dezenas de tanques "russos" diariamente calcinados pelos maravilhosos MANPAD´s otânicos fornecidos à Ucrânia, até às centenas de lindíssimas meninas ucranianas (ele sempre é mais agradável ouvir petas do tamanho do mundo ditas por um palminho de cara do que escutar verdades evidentes proferidas por gente feia e de voz grossa) que constantemente nos lembram nas redes sociais que os russos têm cornos, cheiram a enxofre, comem criancinhas ao pequeno-almoço e têm por "hobby" favorito violar mulheres, ele é um universo de "vitórias" que nos levam a crer que os ucranianos estão às portas de Moscovo.
De uma coisa podemos ter a certeza: a derrota da OTAN, de Zelensky e das suas hordas neonazis estará tanto mais próxima quanto mais histérica for a vozearia dos "Amigos da Ucrânia" na divulgação de "massacres" de civis ucranianos e de rijas vitórias ucranianas que matam russos aos centos de cada vez.
Depois, quando a poeira baixar, restará a crua realidade: a propaganda não ganha guerras, nem, tão pouco, sopra vida no cadáver putrefacto do Ocidente que está morto há (para ser generoso) 80 anos sem que por tal tenha dado.