terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Nacionalizar


Na semana passada ficámos a saber que, se depender dos CTT, 48 municípios ficarão sem estações de correio. A pergunta não desaparece mesmo: como se destrói um Estado nacional, uma comunidade política com instituições inclusivas?

É por estas e por muitas outras que, para lá do “vírus do proteccionismo”, o “vírus do nacionalismo” também se espalha: nacionalizar é preciso, afinal de contas. Se o primeiro vírus atingiu este blogue, contrário à globalização neoliberal, desde o início, o segundo vírus, na sua versão cívica e democrática, o melhor contra-fogo às outras, atingiu o que vou escrevendo por  aqui e por ali  mais ou menos a partir de 2013:

Está prometida a privatização dos CTT – Correios de Portugal, entretanto já amputados das suas “lojas” menos rentáveis. Uma das instituições públicas seculares, que deu densidade ao território nacional, que garantiu com segurança o acesso a um bem social fundamental, que em suma criou comunidade será entregue a uma empresa privada, provavelmente estrangeira, que cuidará de outros interesses que não os que estão associados a uma necessidade dos cidadãos que aqui vivem. Uma comunidade nacional não é só um produto, maleável e mutável, socialmente imaginado, ainda que este imaginar seja decisivo, bem como a luta pela sua hegemonia. Uma comunidade nacional ganha densidade material através de instituições como os correios, a escola pública, o serviço nacional de saúde ou a segurança social e é letalmente ameaçada pela destruição do que é de todos, dos serviços públicos universais que são um dos momentos em que se conjuga, com validade, uma politicamente poderosa primeira pessoa do plural, um “nós” com implicações igualitárias. O socialismo democrático sempre dependeu desta conjugação, o que de resto não passou despercebido, por exemplo, a Friedrich Hayek, um dos seus adversários e defensor de um regime pós-nacional, de tipo federal, como melhor garantia de uma democracia limitada e de fraquíssimo alcance redistributivo, até porque necessariamente desprovida da noção de “comunidade de destino”.

4 comentários:

Anónimo disse...

é o que dá andar uma geração a gastar o que não tinha. Agora choram porque há que pagar o que se deve!!! Haja LATA!

Jose disse...

Que os CTT usem e ajudem a pagar os funcionários públicos que sobram por todo o lado.
Agora mais um couto de funcionários públicos, cruzes canhoto!

Daniel Ferreira disse...

Este é daqueles serviços que, sendo público, pode ser um privado a fazer.
Educação através de escolas associadas, Saúde através de prestadores privados, Transportes através de operadores privados...
A ideia de que sectores estratégicos têm de ser prestado pelo sector público não me parece de todo obrigatório! O que é preciso é reguladores públicos fortes, não capturados por aqueles prestadores privados

Sobre os CTT, veja-se a última intervenção (tardia!!) da ANACOM
https://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=1465894

Anónimo disse...

A direita deve-se, pois... avenças são avenças
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