segunda-feira, 9 de julho de 2018

Leituras jacobinas


Vale a pena ler os artigos de Catarina Príncipe – O mito português – e de Nuno Teles – A ilusão portuguesa – na já indispensável Jacobin. Cada um à sua maneira, contrariam uma certa narrativa internacional em torno da limitada solução governativa nacional, no que tem sido uma espécie de equivalente político de um certo olhar turístico sobre um país de sol, praia, boa comida e gente simpática. De facto, a Jacobin não é o The Guardian.

Entretanto, e graças a uma série de escolhas, este governo parece-se cada vez mais com “um governo minoritário do PS”. Estamos assim cada vez mais perante um governo na esteira dos de Guterres e de Sócrates, mas inserindo-se numa forma de economia política ainda mais periférica e dependente, simplesmente porque já levamos mais anos no plano inclinado de um mercado e de uma moeda desenhados para destruir a social-democracia.

4 comentários:

Jaime Santos disse...

Era previsível, mas não deixa de ser interessante notar como quem sempre teve reserva mental relativamente à atual solução governativa começa progressivamente a arreganhar os dentes. Claro, as eleições são daqui a, o mais tardar, um ano e picos e é preciso marcar posição e as devidas distâncias (que são sempre culpa dos outros).

Eu só espero é que vamos todos a votos bem mais cedo do que isso e depois que cada um assuma as suas responsabilidades, eventualmente de fazer regressar a Direita ao poder. Logo veremos como os eleitores reagem...

Jose disse...

Uma nota –agora que se fala em habitação – para o mantra enunciado pelo Nuno Teles: driven locals away to the suburbs.
Recordemos que esse movimento foi massivo muitos anos atrás e só não é tratado como residual porque as outrora desertas ‘Baixas’ estão a bombar e atraem gente que quer casa de baixa renda.
Recordemos que muito do alojamento local está instalado em edifícios de ‘Serviços’ e não de ‘Habitação’ e em que a qualificação para habitação é problemática senão economicamente impossível com os regulamentos em vigor.
Como sempre, a pronóstica esquerdalhada, finge não entender que a Lei do Alojamento Local do PPC foi o mais inteligente contributo para o turismo e o investimento interno e consequentemente para o investimento estrangeiro.
Mas dêem-lhes tempo e acabarão por transformá-la numa qualquer trampa progressista.

Anónimo disse...

No passado dia 28 de Junho, foi publicado no DN um artigo do líder parlamentar do BE (https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/pedro-filipe-soares/interior/antonio-virou-as-costas-a-geringonca-9521196.html) onde se pode ler o seguinte:

"A ausência histórica de entendimentos à esquerda não foi defeito da esquerda. Foi feitio do PS. E só aconteceram em 2015 porque a esquerda teve força para os impor e o PS não teve força para lhes resistir".

Acrescento que "o PS não teve força para lhes resistir" por várias razões que convém não esquecer:

a) O PS, que nem sequer conseguiu mais deputados eleitos que o PSD nas legislativas de 2015, ficou nessas eleições bastante longe da coligação eleitoral PSD/CDS (e ainda mais longe da maioria absoluta).

b) A coligação eleitoral PSD/CDS não conseguiu a maioria absoluta, pelo que só poderia continuar a governar se o PS deixasse.

c) O povo português pode ser maioritariamente "sereno", mas a verdade é que estava mesmo farto da governação PSD/CDS.

d) Logo na noite eleitoral, enquanto uns choravam a derrota e outros festejavam a "vitória", apareceu nas televisões um sereno Jerónimo a sentenciar que o PS só não formaria governo se não quisesse.

Nas próximas eleições legislativas - antecipadas ou não - o PS não deverá chegar à maioria absoluta, mas é de prever que consiga eleger mais deputados que o PSD, com o duo PSD/CDS em minoria absoluta (mesmo que consiga ultrassar o PS em número de deputados). Costa, líder do partido maioritário, será encarregado de formar Governo pelo presidente Marcelo. Tentará uma governação do tipo da que Guterres conduziu entre 1995 e 1999, contando com o PSD e/ou o CDS para lhe aprovarem orçamentos de estado (e não só) em conformidade com as "regras europeias" e capazes de garantir a "confiança dos mercados". Tal como Guterres, convidará gente com imagem de esquerda para uma ou outra pasta (que não as das Finanças, dos Negócios Estrangeiros, da Defesa, da Administração Interna, etc.); talvez o Rui Tavares ou a Ana Drago aceitem um convite desses, mesmo que o Livre volte a conseguir zero deputados nas eleições.


A. Correia

Anónimo disse...

Uma análise bastante lúcida de A. Correia