sexta-feira, 21 de março de 2014

Um jornal que desarmadilha

[O] salto em frente do comércio livre e do atlantismo pode obrigar os europeus a importar carne com hormonas, milho geneticamente modificado ou frangos lavados com cloro. E pode impedir os americanos de favorecerem os seus produtores locais (Buy American Act) quando afectam despesas públicas à luta contra o desemprego. 

 Encorajados por «estudos» muitas vezes financiados pelos lóbis, os defensores do APT [Acordo de Parceria Transatlântica] são no entanto mais loquazes sobre os postos de trabalho que serão criados graças às exportações do que sobre os que serão perdidos por causa das importações (ou de um euro sobrevalorizado…). O economista Jean-Luc Gréau recorda, contudo, que, de há vinte e cinco anos para cá, cada nova investida liberal – mercado único, moeda única, mercado transatlântico – foi defendido com o pretexto de que iria reabsorver o desemprego. Um relatório de 1988, intitulado «Desafio 1992», anunciava que «devemos conseguir cinco ou seis milhões de empregos graças ao mercado único. Contudo, a partir do momento em que este foi instaurado, a Europa, vítima da recessão, perdeu entre três e quatro milhões de empregos»… 

 Em 1998, um Acordo Multilateral sobre o Investimento (AMI), já então concebido por e para as multinacionais, foi destruído pela mobilização popular. O ATP, que retoma algumas das ideias mais nocivas do AMI, precisa de ter o mesmo destino. 

Excerto, com referências omitidas, do artigo mensal de Serge Halimi no Le Monde diplomatique deste mês. O comércio e o investimento ditos livres são apenas o proteccionismo das fracções mais fortes do capital, o reforço da sua capacidade para gerar e transferir custos sociais para terceiros. Os povos, em especial os periféricos europeus, serão as principais vítimas deste reforço do colete-de forças da globalização, de que a UE realmente existente sempre foi a expressão no continente. Portugal tem beneficiado imenso destes processos de abertura incessante, como se viu, vê e verá, sobretudo quando não tem qualquer voz, nem instrumentos de política para os gerir. Sandra Monteiro, por sua vez, fala-nos de “neoliberalismo eleitoral” na edição portuguesa. Não deixem de ler.

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