terça-feira, 9 de abril de 2013

Venceu

Margaret Thatcher venceu porque tinha uma ideologia clara ao serviço de forças sociais claras – “a economia é o método, mas o objectivo é mudar a alma” –, ou seja, uma certa economia, reconfigurada por impulso estatal centralizado feito de privatizações e de desregulação, que foi até onde a correlação de forças permitiu (não conseguiu destruir o Serviço Nacional de Saúde), ao serviço da promoção do individualismo possessivo – “a sociedade não existe, só existem indivíduos e as suas famílias”. Venceu o organizado operariado britânico, desarticulando-o e às suas comunidades, deixando o desemprego mais do que duplicar para valores só vistos na Grande Depressão e quebrando a espinha aos sindicatos: o novo trabalhismo, que incorporou o fundamental do neoliberalismo que instituiu, foi de facto o seu maior sucesso político e nasceu desta imensa derrota da classe operária britânica e das suas organizações. Quem mais perdeu e quem mais venceu? A taxa de pobreza era de 13,2% quando conquistou o poder e atingiu 22,2% quando o abandonou, deixando uma sociedade infinitamente mais desigual. Milhões de crianças, que cresceram nas novas famílias pobres e numa sociedade com menos mobilidade social e com divisões de classe mais endurecidas, foram as grandes derrotadas. A City londrina, colocada no indiscutível posto de comando de uma economia desindustrializada e financeirizada, foi a grande vencedora. A crise fez com que este modelo implodisse, mas as forças sociais que dele beneficiaram ainda estão no poder e no controlo firme dos aparelhos ideológicos e aproveitam para repetir receitas de austeridade. Thatcher também venceu porque numa era de globalização neoliberal, que as suas políticas decisivamente construíram, soube mobilizar um nacionalismo agressivo e militarista para manter um bloco social que foi amplo o suficiente para vencer quando as coisas pareciam periclitantes. De resto, os seus discípulos ainda andam por aí, a inventar histórias sobre a sua heroína e a garantir a continuação do seu legado: uma maciça redistribuição dos rendimentos e da riqueza da base para o topo, ao mesmo tempo que repetem o “não há alternativa”, a sua fórmula de sucesso. Vencerão?

4 comentários:

Anónimo disse...

Que pena.! E que Deus não tenha a sua alma em descanso, tanto e tanto mal esta fulana causou ao seu país e ao mundo.
Que faça má viagem e se junte no Inferno ao seu grande amigo Ronald Reagan.

Anónimo disse...

Daqui a pouco estará a defender a estratégia de Estaline...
Também ele defendia uma solução nacionalista, centralizadora e desenvolvimentista. Ou estarei errado?

Nuno

Vasco Pereira disse...

Um dos sinais de vitória da ideologia da Margaret Thatcher é sem duvida o New Labour que marca o paradigma de um consenso de direita na politica do Reino Unido. Citando o Fawlty Towers "Don't mention the war". E nem é preciso.

O partido que foi o responsável pela criação do NHS, do Welfare State, quando regressou ao poder em 97 continuou o legado da Thatcher através da continuação da introdução de privatização do NHS, a introdução das tuition fees no Ensino Universitário, o chamado light touch regulation, a mesma demonização dos desempregados e membros mais vulneráveis da sociedade; etc. Foi este o partido que fez o outsourcing da auditoria de saúde para o pessoal a inválido para a Atos cujo desempenho tem sido absolutamente atroz na sua incompetencia. Este é o partido cujas conferencias são patrocionadas por empresas como a Pricewaterhouse Coopers que têm sido arquitectas em inumeras maroscas offshore.

Quando os três partidos principais do Reino Unido subscrevem à mesma ideologia, então realmente There is No Alternative. O Nye Bevan ficaria horrorizado com o actual ambiente politico no Reino Unido

Anónimo disse...

"Nacionalismo agressivo e militarista"? Estamos a confundir com a ditadura argentina, certo?