quinta-feira, 18 de abril de 2013

A austeridade destrói-se


A política económica de austeridade de Vítor Gaspar, o tal Ministro das Finanças da troika, consistiu, segundo João Pinto e Castro, na “queima” de cerca de 12000 milhões de euros. Uma performance sem paralelo e sempre aplaudida pelas pessoas muito sérias e que o mostram pelo número de vezes que apelam ao consenso com a política económica de Gaspar, agora também em versão amanhãs europeus que cantam pela voz de Poiares Maduro, o Gaspar do direito.

A economia política da austeridade, por sua vez, baseia-se na crença de que fazer com que os custos salariais diminuam internamente é decisivo também para aumentar as exportações. O detalhe, como sublinha o insuspeito Manuel Caldeira Cabral, um dos que aliás tem de vez em quando dado para o peditório intrinsecamente contraditório da austeridade inteligente, é que o crescimento destas últimas, apesar da descida acentuada dos custos unitários de trabalho, é cada vez menor. E quanto ao argumento de que descer salários, diminuindo no fundo o seu peso no rendimento nacional, é a melhor via para criar emprego? A própria Comissão Europeia, ou melhor quem redigiu um seu relatório sobre “emprego e desenvolvimentos sociais”, tem dúvidas, devido aos efeitos perniciosos na procura, identificando, pelo contrário, uma “correlação positiva entre o crescimento médio do custo real do trabalho e o do emprego, no período 2001-2011, sugerindo que os desenvolvimento do lado da procura dominaram os efeitos no lado da oferta” (via William Mitchell).

Todos os mitos da austeridade, que as pessoas dos consensos papagueiam, têm sido intelectualmente desfeitos com maior ou menor facilidade. A reconstrução política pós-austeritária será muito mais difícil, até porque a troika e suas forças internas não parecem responder a argumentos racionais. À força da razão terá de se juntar a razão da força de uma maioria democrática soberana.

1 comentário:

João Carlos Graça disse...

"À força da razão terá de se juntar a razão da força" (João Rodrigues)

"A arma da crítica não poderá nunca substituir a crítica das armas" (adivinhar quem)