terça-feira, 16 de abril de 2013

Leituras

«Há mais de dois anos, os líderes europeus têm forçado os países em dificuldades, como Portugal, Espanha e Itália, a aceitar um cocktail de austeridade fiscal e reformas estruturais, prometendo que este será o tónico certo para curar os seus males económicos e financeiros. Mas as evidências mostram que esta medicina amarga está a matar o paciente. (...) Era claro, desde o início, que a austeridade económica (cortes na despesa pública e no Estado Social) e as reformas estruturais (flexibilização das leis laborais e privatização das empresas públicas) não poderiam ser concretizadas em simultâneo num contexto de profunda depressão. E essa realidade dolorosa está em curso, sem fim à vista. (...) Os líderes europeus vão ter muita dificuldade em admitir que a sua escolha foi errada. Mas deveriam perceber que prosseguir na estratégia actual significa minar a confiança no euro e no próprio projecto europeu. E se eles deixam que essas dinâmicas se tornem ainda mais fortes, será bem pior para todo o continente, e não apenas para os portugueses ou os italianos.»

The New York Times, O remédio amargo da Europa (editorial de 14 de Abril)

«Desde que Portugal pediu um resgate financeiro, exactamente há dois anos atrás, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho tem sido um dos mais acérrimos europeus defensores da fé em que a austeridade vai gerar crescimento - e de forma relativamente rápida. Depois de ganhar as eleições, em Junho de 2011, disse que um "rigoroso programa de austeridade e de reformas estruturais" se traduziria em "dois anos terríveis", de profunda recessão e desemprego, mas que poriam o país a crescer e a recuperar a confiança dos investidores internacionais. A sua previsão de dois anos de sofrimento foi absolutamente certeira. Mas em vez da prometida recuperação, os portugueses confrontam-se hoje com uma recessão muito mais profunda e prolongada do que aquela que o governo e os credores internacionais tinham previsto. O doloroso Programa de Ajustamento português nem sequer permitiu atingir o objectivo da consolidação orçamental, que Passos Coelho estabeleceu como pré-condição para o "crescimento sustentável, a competitividade e a criação de emprego". O défice orçamental passou de 4,4% do PIB em 2011 para 6,4% no ano passado.»

Peter Wise, O plano de austeridade português não resulta

«Este estado de guerra está a dizimar as populações do Sul - a taxa de desemprego em Portugal é histórica e na Grécia ainda vai chegar aos 30% - e essa guerra está a ser vencida pelo Norte, com a cumplicidade de uma “quinta coluna” robusta em países como Portugal. Aqui, Vítor Gaspar é o líder dessa quinta coluna incapaz de colocar os interesses nacionais - não implodir o país através do aumento do desemprego, por exemplo - à frente dos interesses dominantes na troika e no Norte. Essa quinta coluna não só partilha a teologia da austeridade com mais fanatismo do que os seus Papas como tem uma ideologia de classe evidente - enquanto o accionista Estado se abstém na atribuição dos prémios milionários aos gestores da EDP, prepara-se para cortar nos mais fracos, os doentes e os desempregados. Há uma destruição (...) em curso - provocada por um governo obediente, venerador e obrigado a políticas europeias devastadoras, mas dificilmente reversíveis. Acreditar numa mudança radical na Europa - onde Hollande se passeia a fazer figuras tristes - já começa a ser equivalente a acreditar nos amanhãs que cantam.»

Ana Sá Lopes, O estado de guerra e a quinta coluna

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