segunda-feira, 20 de abril de 2009

Sair do euro?

Que a inserção de Portugal na moeda única foi mal conduzida é algo que se defende por estas bandas desde Abril de 2007. No entanto, é surpreendente como a recente discussão sobre cortes salariais se baseia nos desequilíbrios que a entrada na moeda única trouxe ao nosso país e como a solução tradicional da desvalorização monetária é hoje impossível. De repente, o quase unanimismo em que vivíamos desapareceu. Como desafia Pedro Lains, está na altura de pesar os prós e contras de uma eventual saída de Portugal.

Acho que esse debate vale a pena. Não tanto pela hipótese de uma saída real do nosso país. Portugal não seria, com certeza, o primeiro país da lista de candidatos potenciais. A existir um dominó de saídas, o euro não teria futuro, por mais marginal que fosse o peso das economias que optassem por essa via. Contudo, não me parece que voltarmos à situação “ex-ante” de um alinhamento, com ajustamentos pontuais, das moedas nacionais com a moeda alemã seja desejável. A autonomia na política monetária para um país pequeno como Portugal é ilusória. Estaríamos muito vulneráveis à instabilidade cambial internacional nascida do fim de Bretton Woods.

Penso que vale, sim, a pena repensarmos esta arquitectura monetária europeia. A situação de economias em divergência com o todo do seu espaço monetário não é nova. Basta pensarmos no nosso país no tempo do escudo. As regiões do interior eram (e são) claramente menos competitivas e deficitárias em relação ao litoral. A estrutura das suas economias locais não necessitou, no entanto, que se criassem, por absurdo, moedas locais que se iam desvalorizando em função das necessidades. Porquê? Porque existiu (e existe) um Estado central que age como redistribuidor do rendimento no espaço monetário. Por exemplo, dada a sua estrutura económica mais frágil, todos os salários na cidade de Viseu deveriam ser substancialmente menores do que os de Lisboa. Em termos médios é isso que acontece na realidade, mas todos os funcionários públicos que trabalham em Viseu recebem o mesmo que os de Lisboa. A economia desta região sai redinamizada por esta redistribuição de rendimento, beneficiando mesmo os trabalhadores do sector privado. Por outro lado, esta região beneficia de investimentos e discriminações positivas por parte do Estado Central que, ainda que sejam insuficientes, permitem almejar alguma convergência real com as zonas mais ricas do país. A região de Viseu nunca teria a capacidade fiscal autónoma para financiar tais investimentos.

Este exemplo serve grosseiramente para percebermos o que tem de mudar na U.E. Além das necessárias mudanças de política monetária repetidas ad nauseaum neste blogue (ver aqui, por exemplo), a UE necessita de um verdadeiro orçamento federal capaz de corrigir assimetrias entre as suas regiões como também aqui já assinalámos. Actualmente este orçamento, sem capacidade de emitir dívida pública, é de 1% do PIB europeu, face aos quase 30% do orçamento federal norte-americano. As desigualdades são menores nos EUA do que na UE como um todo. Só com um reforço substancial do orçamento comunitário, capaz de uma política redistributiva robusta e de políticas contra-cíclicas direccionadas, pode a moeda única sobreviver no longo prazo.

Que tal perguntar aos nosso candidatos ao Parlamento Europeu o que pensam sobre o assunto?

4 comentários:

Anónimo disse...

Acho que sim. Vamos saír do euro. Podia-lhe dar para pior... saímos do euro, e saímos de circulação. Nesse dia, já agora, façam um favor, comprem o caixão para enterrar este rectângulo a que se chama portugal.
Se os disparate, em portugal, pagasse imposto, teríamos uma grande superavit e não déficit. Fica aqui a idei para um futuro governo

Anónimo disse...

Bela solução. Já não bastava termos que pagar a divida pública portuguesa, ainda teríamos de passar a pagar a divida pública da EU. Isso é o que queriam os burocratas de Bruxelas e Estrasburgo. Ter mais dinheiro alheio para gastar consoante as suas preferências e lobbies. E a cereja no topo do bolo seria o acréscimo de inflação que vinha de braço dado com os défices federais, que não tardariam a se acumular para gáudio dos keynesiamos iluminados. Ainda não perceberam que o homem é um mágico em vez de economista: Cria prosperidade ao toque da impressora.

Anónimo disse...

Anónimo

Realmente há analises surpreendentes.Dizer que teríamos de pagar a dívida pública da UE. Realmente é preciso ter lata. Portugal que só recebe dinheiro há não sei quantos anos, e que sim, contribui para a inflação europeia devido aos deficites estruturais sucessivos.

Pedro

Pedro

Anónimo disse...

Para o menos informado Pedro:

O orçamento comunitário é comporto por receitas diversas: desde direitos aduaneiros; dos direitos niveladores agrícolas e das quotizações da Política Agrícola Comum; de recursos provenientes do IVA e de transferências do produto nacional bruto de cada Estado-membro.

E fique sabendo que todos os países membros contribuem com aproximadamente 0,75% e 0,9% do PNB. (pelo menos assim era da ultima vez que vi) Obviamente que países como Portugal recebem uma % maior do "bolo" do que aquilo que paga, mas não deixa de pagar na mesma uma parte.

O que quero dizer aqui é que estes keynesianos todos acham que mais endividamento é a solução para tudo.

Novidade para eles: estamos aqui hoje por excesso de divida. E dizem-nos que agora que o sector privado vê a capacidade para se endividar reduzida, os Estado devem compensar com mais despesa e mais défice. E quem é que vai pagar isso?? Eu suspeito que sejam as moedas fiat a pagar através da sua desvalorização (chama-se inflação para os menos entendidos).