sexta-feira, 3 de abril de 2009

Os ‘camaradas’ do G20

Baralhar e voltar a dar, pois claro.

1. Reforma do sistema bancário e OCDE fará a lista dos paraísos fiscais que não cumprem as regras da transparência
Levantamento do segredo fiscal significa que deixam de ser paraísos judiciais, mas não significa que deixem de ser paraísos fiscais. É o reinado dos “offshores à Madeira”. Afinal, para quando a eliminação do sistema financeiro sombra? Será difícil pedir que passem a integrar um sistema financeiro onde se cobram impostos e se registam os movimentos da banca? Passinhos de bebé…

2. Recapitalização do FMI
O FMI, cuja sobrevivência depende da sangria económica de uns, volta a encher o balão. Não há mudanças na estrutura de voto nem nas relações de poder no interior da organização; não se muda a receita; mantém-se a ortodoxia neoliberal. Em nome da ‘ajuda’ do FMI, cumprem-se as regras do FMI: contracção salarial e reforço das desigualdades. Sabemos por experiência própria os custos da intervenção do FMI: mais para a política neoliberal, menos para a intervenção Estatal. Ou não foi isso que se andou a fazer? Ou não foi isso que produziu estes resultados? Resolve-se o problema recapitalizando-se uma das instituições que tem feito parte dele.

3. Comércio internacional, liberalização das trocas e criação de fundo de garantia às exportações e importações
Liberalização do comércio? Para quem? Para as economias emergentes, para os grandes exportadores. Mau para quem? Para quem não está no G20 e para os países que nesta divisão são sobretudo importadores.

4. Não “premiar o fracasso”, regular os prémios dos gestores
Nada a apontar do ponto de vista dos princípios. Os Estados assumem-se como os árbitros do "bom capitalismo"! O problema não é o "fracasso" de determinadas gestões, é a imoralidade do sistema de acumulação capitalista.

5. Ajuda aos mais pobres
FMI poderá vender parte das suas reservas de ouro para financiar a ajuda ao desenvolvimento dos países mais pobres, “os países ricos não passarão ao lado” dos que mais necessitam. É quase comovente, mas não engana. De repente, os países ricos descobriram que precisam de mais mercados. Um sinal mais importante do G20 seria um compromisso dos próprios Estados em cumprirem as metas definidas pelas Nações Unidas – e que esses Estados ratificaram – de dedicarem 0,7% do PIB em Ajuda Pública ao Desenvolvimento. A um ano do prazo para o cumprimento das metas não seria pedir muito. Andamos pelos 0,45% e a tendência é decrescente. Em Portugal andamos pelos 0,21 ou 0,22%. O cumprimento da meta dos 0,7% implicaria que o Estado português tivesse de despender metade do valor que a Caixa Geral de Depósitos avançou no caso BPN.

O problema da crise é o da vida das pessoas. A vida das pessoas deveria ter sido o centro desta Cimeira. O sinal político forte desta Cimeira deveria ter sido a justiça mundial.

O G20 é menos mau do que o G8 ou o G7, mas chapéu-de-chuva é o mesmo, só um bocadinho mais largo. A esmagadora maioria do mundo continua de fora.
Angela Merkel ficou contente porque as “duras” divergências entre aqueles que defendiam um plano de estímulo da economia e os que defendiam a regulação dos mercados financeiros se resolveram devido a “um verdadeiro espírito de camaradagem”. Foi esta camaradagem que nos conduziu ao ponto que chegámos. É esta camaradagem que é preciso perturbar. O mundo não se resume a este círculo de “camaradas” e nem pode ficar dependente deles.

8 comentários:

CS disse...

Apesar de tudo, o FMI já não é o mauzão que era. E foi bonito voltar Obama sorrir enquanto os rostos do poder se fechavam:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/g20-o-sorriso-de-obama-no-fim-do.html

Rui Santos disse...

Sem eu poder provar os meus argumentos creio contudo que as expectativas de grandes alterações a nível do paradigma de funcionamento da economia mundial não se poderão esperar simplesmente pela constatação de uma crise maior ou menor. O que permitiu e provocou as alterações no modo de lidar com os problemas económicos depois da crise de 1929 e no pós-guerra não foi simplesmente as ideias de Keynes ou de qualquer outro economista não adepto do “laissez-faire”, mas igualmente a força dos movimentos de esquerda da época, desde os EUA onde os movimentos comunistas tinham uma capacidade de mobilização que só estancado com a caça às bruxas e com o progressivo avançar da ditadura de Estaline, até à Europa onde no pós-guerra, os partidos comunistas em Itália e em França eram os principais partidos de oposição. Em França apenas nos anos 70 o Partido Socialista conseguiu inverter a correlação de forças com o PCF. Em Itália foi preciso esperar pela própria fragmentação do PCI.

Luís disse...

Xiça!
O pessoal ainda nem sequer acabou de digerir bem o chanpanhe e já vem pra ki a Marisa dar pancada no pessoal!

Tamos mesmo em campanha!

O mundo é redondo; o valor a sair deste cenário hollywoodesco só podia ser redondo também ele; "one trillion"! Não se apoquentem; os economistas de serviços vão já nos explicar como se decompõe tão conspícua quantia; quanto vale de RECURSOS; de D.E.SAQUE; de AJUDA AO COMERCIO (SEGUROS)!

Finalmente os pobres vão ter o que merecem e pela mesma mão daquele (Fmi) que há uns anos lhes impunha os ajustamentos "estruturais" a reorganizações "empresariais" e as culturas "exportadoras"!
Bem agora. O $$ chega para todos! E a prova disso é que Champanhe continua a produzir! !!

Claro que gostei daquela tirada; que o problema não são os bonús mas a imoralidade da acumulação;! que belo! e dito; assim sem adorno na blogosfera; mas daí acho que este blog merecia uma revisão do conselho editorial! Por essa tinhas o meu boto.

E tb concordo com aquela de que o que se devia discutir era a vida das pessoas; essa é que é a vdd crise; pois é! Mas q caralh* tem isso a ver com os direitos de voto internos do FMI? Senhoraa: ou esparguete ou caviar! Agora as duas coisas (juntas) nunca exprimentei.


Mas a Econónomica (e o seu orgão de suporte que é a Econometrica - sejamos claros) conseguiram mais uma vez mostrar bons resultados em poucas horas. Inda deu para especular se foi a rainha que apalpou a Michelle; ou se foi a primeira dama que a apalpou a ela.
Verdade agora é que a ajuda vai chegar em notas verdes! Esperemos é que peguem(!) lá para os lados africanos e não só - era uma batalha ganha por uma humanidade bem nutrida (!); porque senão temos um boom, mas é na inflação! Rezem já para boa colheita no próximo ano; que as alterações climáticas amenem e que especial a el ninha não faça das suas: quero dizer - tanto na Lapa como no Pacífico Sul; sabem depois como o mundo tá globalizado: um peido da Francisca no eléctrio 25 » um surto inflacionário no Delaware!


Falta falar dos off-shore; para ver como isto foi tudo show-off! Atão os off-shores continuam, mas agora há aqueles transparentes e os outros não transparentes,não cooperantes? Mas que é dito do abaixar da taxa de imposto nesses territórios; olha, a Madeira por exemplo; e depois; afinal o pessoal vai continuar a pôr lá o dinheiro sujo, só precisam é que ninguém do exterior comece a fazer perguntas! Olha; a montanha pariu um rato; mas parece até que a sanedoria popular perdeu cotação de mercado nestes últimos tempos.

Tudo para a blogosfera! A revolução vai partir da blogosfera! VIVAM os nossos argonautas do século XXI!

Miguel Fabiana disse...

Exmo Senhor Rui Santos,

"desde os EUA onde os movimentos comunistas tinham uma capacidade de mobilização que só estancado com a caça às bruxas"

Oi...?!?!?

Sem outro assunto de momento, subscrevo-me atenciosamente.

Miguel

Miguel Fabiana disse...

"O problema não é o "fracasso" de determinadas gestões"...sim...o problema é quando nos perdemos em avaliações moralistas do género "imoralidade do sistema de acumulação capitalista".

Cada um pode desenvolver o seu sistema moralista, basta para isso ... querer desenvolver o seu sistema moralista! ...e PIMBAAAAA lá vai outra vez o Bebé com a água do banho!!!

Tudo em ordem, mas juízos de valor fazem-me lembrar ... ordens religiosas e ... supranumerários/as e... enfim cousas do mundo profano !

Rui Santos disse...

Para esclarecimento de algumas duvidas, a "caça às bruxas" é a designação convencional para o Maccartismo no pos-guerra nos EUA, e pelas referências que tenho consultado nos anos 30 de facto o partido comunista americano (não sei se era apenas um partido ou se eram vàrios) tinha um relevância politica significativa.

Anónimo disse...

Com Obama ou sem Obama a tirania e a imoralidade continuam a fazer o seu caminho incólumes.
Afinal,se alguém pensa que isto vai finalmente mudar, bem pode tirar daí o sentido.
Obama, tal como Bush, faz parte integrante do sistema e de modo algum foi deixado eleger para acabar com o dito.
Que ninguém se iluda.!!!

Miguel Fabiana disse...

Caros,

Por acaso dei por mim a estranhar a ausência dos vossos comentários/posts sobre a cimeira dos G20 - dá e vai dar pano para mangas...

Coragem & Força!

Miguel