quarta-feira, 22 de abril de 2009

É o tempo da corrupção geral?

João Cravinho, uma das figuras mais conhecedoras da actual situação e mais inconformadas com a persistente impotência pública, considera que a corrupção política não pára de crescer no nosso país. Muitos dizem que isto é o resultado do peso excessivo do Estado. Trata-se de um diagnóstico tão previsível quanto preguiçoso. Se estivesse correcto, outros países europeus, com os países escandinavos à cabeça, seriam os mais corruptos e os menos transparentes. Nada é mais errado, como o leitor bem sabe. A corrupção não se combate pelo esvaziamento do Estado, mas sim pelo encolhimento das possibilidades que o dinheiro tem de influenciar o processo democrático de definição das regras e da sua aplicação. A corrupção tem, entre outras, causas institucionais, intelectuais e morais complexas. Defendo que a neoliberalização do Estado português está hoje no seu centro. O resto do meu artigo no Jornal de Negócios pode ser lido aqui.

Sobre a relação entre a desigualdade de rendimentos e a corrupção ver isto. Sobre o perigo da consolidação, em Portugal, de um Estado predador e sobre a alternativa de um Estado estratega ver isto e isto. Em Supercapitalism, Robert Reich desenvolve um argumento interessante: a intensificação das pressões concorrenciais levou as grandes empresas a procurar influenciar o inevitável processo político de estruturação das «regras do jogo» nos mercados em expansão de forma a conseguirem alcançar condições mais vantajosas para os seus negócios que passaram a depender cada vez mais da forma como os arranjos de mercado são definidos. Assim, não é de admirar que o processo político de expansão dos mercados ou a entrada das empresas privadas em áreas onde os mercados concorrenciais não passam, apesar da enganadora retórica dominante, de uma ficção, tenha originado um incremento generalizado do investimento das empresas e dos capitalistas no processo político, traduzido num exponencial crescimento dos grupos de pressão e do financiamento privados e num aumento das oportunidades para a corrupção. Isto é para os EUA. Será que não existem processos semelhantes em Portugal?

26 comentários:

Bruno Silva disse...

Obrigado por destacar a teoria Neo-liberal como uma solução contra a corrupção. Gostaria de enunciar três pressupostos:
- O ser humano não é perfeito
- Não podemos dar todo o poder ao estado
- Não podemos abolir a concorrência

Concordo com a lógica que um dos principais drivers da corrupção é o facto de existir concorrência, mas viveríamos melhor sem concorrência ou com menor índices de concorrência? Tem mesmo a certeza que isso diminuiria a corrupção? Vamos ao extremo, nos estados comunistas não havia concorrência e havia corrupção. Um bocado de bom senso nas ideias que se quer passar, pode ser?

A corrupção não se elimina nem nunca se eliminará, isso é uma utopia.. A função do estado aqui é simples, punir severamente quem é corrupto, desenvolver as melhores ferramentas anti-corrupção e promover, tal como cada uma das pessoas, uma mentalidade Anti-corrupção.

Achar, ou tentar passar a ideia que a corrupção é uma das principais causas das desigualdades em Portugal é simplesmente errado. As desigualdades nascem da manifesta falta de INVESTIMENTO em várias áreas. Falta de investimento das empresas (o custo do trabalho foi desmesuradamente aumentado de forma artificial com subsídios e contribuições sociais), falta de investimento das constantes fornadas de jovens que desperdiçam o ensino público que os mais velhos lhes construíram e pagam e, ainda, falta de investimento dos trabalhadores em formação contínua por iniciativa própria, agarrados à extrema inflexibilidade da lei laboral. É a incerteza quanto ao estado do tempo que leva as pessoas a investirem em guarda-chuvas, se vem o estado dizer que assegura, através de leis, o bom tempo para o resto da vida, os imprudentes não compram guarda-chuvas (gastam o dinheiro noutras futilidades), depois quando eventualmente chove... mais gente sai molhada!

L. Rodrigues disse...

"(o custo do trabalho foi desmesuradamente aumentado de forma artificial com subsídios e contribuições sociais)"

Esta teve graça. Vivemos no mesmo país?

Miguel Fabiana disse...

Caro João,

"A corrupção tem, entre outras, causas institucionais, intelectuais e morais complexas" e inclusivamente podemos encontrar uma JUSTA "relação entre a desigualdade de rendimentos e a corrupção" entre muitas outras relações mais ou menos evidentes, mais ou menos justas.

Só que a corrupção não é a verdadeira causa ou a origem correcta do problema. Se nos distanciarmos dos moralismos e abordagens moralistas, poderemos ver a corrupção como um, entre muitos outros pragmatismos de gestão - remeto para H. Mintzberg em "A Crisis of Management not Economics" http://tinyurl.com/MITZBRG1.

Em "How Productivity killed American Enterprise" http://tinyurl.com/MITZBRG2 , H. Mintzberg fala em "Legal Corruption" : ...the tip of the iceberg, the illegal corruption that, once revealed, could be dealt with in courts of law. Far more pervasive, and insidious, was the LEGAL CORRUPTION underneath..."

É esta "corrupção legal" que esteve e (ainda) está a envenenar as comunidades (empresarial, governamental...) e a Sociedade.

Agora é no suporte aos pragmatismos de gestão que devemos actuar positivamente: mostrando e demonstrando a superioridade da Civilidade e do Conhecimento!
Para isso temos que conseguir mudar o focus do pensamento, ie devemos demonstrar que é possível acabar com a "obsession with measurement that inevitably puts quantity ahead of quality" (como diz H. Mintzberg em "How Productivity killed American Enterprise"), porque já há receptividade às ideias que enquadram a NOVA ECONOMIA: uma Economia feita de Seres Humanos (em vez de recursos humanos ou COISAS), feita "em Comunidade" em vez "de organizações"; na antítese do focus do passado recente onde "the corporations had become persons while the persons had become resources" (H. Mintzberg).

"corporations had become persons while the persons had become resources" e esta é, para mim, a "Corrupção Legal" que fala o Prof. H. Mintzberg !!!

Quando o Indivíduo se coisifica e perde a sua Humanidade, não são precisas motivações muito elaboradas/complexas para que o Indivíduo se relacione com o "Outro" como uma Coisa entre outras Coisas.
Só assim se explica e se entenda "natural" (pelos corruptores e corrompidos) que hajam "grandes empresas a procurar influenciar o inevitável processo político de estruturação das «regras do jogo» nos mercados em expansão de forma a conseguirem alcançar condições mais vantajosas para os seus negócios".

Como me explicava (o que tinha aprendido com um exemplo dado numa aula) um amigo que é MBA por Cranfield:
... Katie Couric, while interviewing a US Marine sniper, asked: "What do you feel when you shoot a terrorist?" The Marine sniper shrugged and replied: "Recoil.".

Diz-me a experiência de vida e de trabalho que não devemos actuar sobre as consequências mas sobre as causas de um problema.

Podemos diminuir o "aumento das oportunidades para a corrupção" intervindo e impedindo a "entrada das empresas privadas em áreas onde os mercados concorrenciais não passam, apesar da enganadora retórica dominante, de uma ficção" ou seja, substituindo os Tribunais, com medidas sociais ou socializantes, para acabar com a "Corrupção ilegal". Ficará a faltar uma intervenção Civilizacional onde ainda existe a "Corrupção Legal" e esta é mais profunda e necessita de Pensamento, mais do que Pragmatismos (de gestão, políticos, sociais...); precisa de Cientistas Sociais, mais do que de Economistas; precisa de abordagens qualitativas mais do que abordagens quantitativas...sem Moralismos; nem novos nem ...antigos !

Actuar sobre a "Corrupção Legal" não é apregoar novos moralismos; é criar as fundações para a NOVA SOCIEDADE pós-capitalista, desejada por TODOS (de esquerda e de direita) desde Outubro de 2008.

A Revolução já está em marcha ! Duvidas?!?...eu não !

Coragem & Força,
Miguel

Bruno Silva disse...

Um pouco de informação para quem certamente criou ou geriu um empresa por mais pequena que seja:
A lógica basilar do salário é ser a remuneração do trabalho. Ou seja, os trabalhadores são vendedores do trabalho e os empregadores são os compradores. Por razões de estabilidade social, que não estou a contestar, essa relação foi tornada mais vinculativa do que uma mera relação comercial.

Mas vejamos o quão distante da mera relação comercial se tornou:

Os trabalhadores "vendem" 11 meses do seu serviço pelo salário acordado por ano e cujo valor depende, como qualquer serviço, da sua escassez face à sua procura.

Os empregadores pagam (cenário para uma trabalhador que ganhe 600€):
- 12 salários
- 2 subsídios (2 salários)
- 23,75% (agora 22,75%) para a segurança social (+/- 3 salários)
- Subsídio de alimentação (2 salários)
------------------------------
Total: quase 19 salários por apenas 11 meses de trabalho... conhece agora a realidade do empresário no seu/nosso país?

Os salários devem subir!! Mas não por leis, sim pela diferenciação ou pelo aumento da procura do mesmo (investimento), que certamente não aumenta se a respectiva remuneração for altamente prejudicada em nome de uma pretensa política social desmesurada.

Miguel Fabiana disse...

Bruno,

Essas contas ( "quase 19 salários por apenas 11 meses de trabalho" ) são ... coiso...ie são feitas com excel ou com lápis e papel ? é que não acrescentam nada de novo nem explicam coisa nenhuma.

"certamente não aumenta se a respectiva remuneração for altamente prejudicada em nome de uma pretensa política social desmesurada" - pois...e o que é uma "política social desmesurada" e depois o que é "uma pretensa política social desmesurada" ? o que é que "certamente não aumenta"?

Não me leve a mal, mas não percebi a sua criptografia?

MF

Bruno Silva disse...

Desculpe mas estes cálculos não devem de todo ser desvalorizados, porque estão os empregadores e os consumidores (muitas vezes estrangeiros e que facilmente optam por outros produtos/serviços, mais baratos, de outros países) a pagar um custo que não reflecte em a real produtividade do valor acrescentado pelos trabalhadores.

Numa economia de mercado, o valor é o que é, é aquilo que as pessoas estão dispostas a pagar, depende da procura vs. oferta, podemos gostar ou não, mas isso não mudo a sua realidade. Portanto, aquilo que é inteligente, não é focar na mera convergência artificial de rendimentos líquidos, mas na convergência de produtividade enquanto valor. Explico, em vez de nos preocuparmos em utilizar leis para tirar a uns e dar a outros, ou tirar muito mais a uns e menos a outros (não digo que não tenha a sua utilidade até certo ponto), devíamo-nos focar nas leis do mercado (não é perfeito, mas nada no mundo o é. Certamente estará a par da lei da procura e da oferta, logo, para aumentar ao valor dos salários tem que se diminuir a sua oferta (através da diferenciação) e aumentar a sua procura, ou seja, promovendo o investimento. O investimento é feito numa lógica de risco/ retorno e de custo de oportunidade, se o retorno for artificialmente diminuído, para o mesmo risco, as pessoas não investem! só investiriam em negócios de menor risco, de maior valor acrescentado, mas não têm mão-de-obra para isso, porque ou não é formada ou é formada em áreas não focalizadas no mercado (grosso modo).
Se deixar o mercado funcionar, este fará com que as taxas de lucro desçam devido à entrada de novos concorrentes, ou seja, MAIS EMPREGO, se os lucros baixarem apenas pela ânsia da redistribuição cega, o investimento desce, assim como a procura por mão-de-obra e, consequentemente, baixariam os salários, como por lei não podem baixar só pode haver uma consequência, desemprego.

Miguel Fabiana disse...

O Bruno deixa aqui um potencial de debate que eu não tenho tempo, tendo (confesso) pouca vontade de explorar - sendo o mais politicamente correcto que consigo ser, com o que expôs acima!

"pagar um custo que não reflecte a real produtividade do valor acrescentado pelos trabalhadores"... não percebi !

O segundo (e extenso) "parágrafo" que propõem a debate, está repleto de fait-divers e se quiser algo dentro da sua linha, melhor escrito, mas igualmente vazio de intenção e cheio de ...bull-sheet, aqui vai:

"A economia é um sistema. Como qualquer sistema complexo tem um “mecanismo de correcção de erros”, que serve um propósito de “auto-preservação” do sistema. Para quem não está a acompanhar, pensem no vosso corpo. Os vossos nervos servem esta função. Quando algo está errado e coloca em causa a “estabilidade estrutural” do mesmo, sentem dor. O sistema nervoso é o vosso sistema de correcção de erros.
Mesmo que não saibam que lume queima, se lá meterem a mão vai-vos doer, e instintivamente vão aprender: quem brinca com fogo queima-se. Agora, hipoteticamente, imaginem-me a mim (o “economista ao serviço da causa pública”) com uma seringa com uma dose bem grande de morfina. Começa a dor, mas eu digo-vos “não te preocupes… toma lá um pouco de morfina”. A dor desaparece, e vocês continuam lá com a mão alegremente.
Obviamente que daqui, depois de algumas injecções - a morfina só dura certo tempo - vocês vão “viciar”, e vai perder efeito. A única questão que resta descobrir é: querem mãozinha bem ou mal passada?
O economista com a morfina chama-se “politica monetária estabilizadora do ciclo”. Ou seja, eu dou-vos morfina. Baixo os juros. Injecto capital a custo zero. Mantenho o sistema a correr. Estou, para todos os efeitos, a eliminar o processo de correcção de erros: a recessão. (em troca, sou eleito para ministro das finanças, FMI, BCE ou qualquer tacho… quando o efeito passar, eu já cá não ando… pensem “Greenspan” e percebem o que estou a tentar dizer!).
A única questão que sobra é: “querem a economia bem ou mal passada?” - Guilherme Diaz-Bérrio, Economista.

Usando as palavras deste econom(etr)ista: quer bull-sheet bem ou mal passada?

Bruno Silva disse...

A sua resposta foi completamente descontextualizada.. ou aliás, foi extremamente bem contextualizada.. dando-me razão A MIM!! Onde é que eu falo de Morfina? o que eu falo é exactamente do contrário! Falei em política económica? pronto, falei de política fiscal, mas criticando-a! ou seja, só sofrendo a dor é que as pessoas se mentalizam que têm de fazer pela vida! E é esta soma de todos os esforços individuais que dinamiza a economia e gera a diminuição de gaps entre procura e oferta.. não é certamente os analgésicos que o estado permanentemente dá.

Faz sentido que os vendedores de morangos venham para a rua exigir que as pessoas consumam mais morangos ou paguem um preço mais elevado por estes? Ou os vendedores de carros, de carne, ou de peixe, ou de computadores façam o mesmo? Então porque raio é que, economicamente, faz sentido que os “vendedores de serviços profissionais por conta doutrem” o façam? Diferenciem o seu produto! Como os outros...

Anónimo disse...

Caro Miguel

O parágrafo que voçê classifica de bullshit por acaso até explica muito bem (ainda que de forma simplista) o que se tem passado nos últimos anos e que nos trouxe onde estamos agora.

Porque é que diz que é tudo treta?
A mim parece-me uma boa analogia.
É daqueles que acha que imprimir dinheiro cria automaticamente riqueza e prosperidade?

Carlos

Miguel Fabiana disse...

Bruno,

Só ao ler o seu primeiro parágrafo, o que me configura mais próprio e adequado à qualidade do seu raciocínio é: TEM TODA A RAZÃO e eu é que estou perdido e "descontextualizado" ! Leva lá a bicicleta, mamen !

"só sofrendo a dor é que as pessoas se mentalizam que têm de fazer pela vida" - nem com os meus animais de estimação eu tive ou tenho tamanho desprezo ! Quanto mais pelas "pessoas" como tu as chamas (mas não as pensas nem as respeitas como tal) ! Mas deves estar certo e com TODA a razão (se eu soubesse que a "razão"era a única coisa que procuravas, tinha-me abstido de debater contigo).

Foi com a tua linha de pensamento que chegámos onde chegámos: deitámos fora o bebé com a água do banho! "esta soma de todos os esforços individuais que dinamiza a economia" quais "esforços individuais"? se me disseres que são esforços egoístas eu ainda aceito a parte do "esforço"! "dinamiza a economia" qual ECONOMIA?!?!?! aquela que está em crise, em recessão, em depressão ou a que errou ?!?! que economia que foi dinamizada e por quem? a dos EUA, da China, da India, da UE...? e por quem?

"vendedores de serviços profissionais" é o ...agora apetecia-me ser vulgar...mas não sou ! Estás a falar de pessoas, não estás a falar de coisas - em vez de eu começar a invocar vernáculo, proponho que leias o meu primeiro post e eu prometo que vou tentar perceber o que queres dizer; ok?

Carlos,

Antes de mais não sou daqueles que acredita/defende que "imprimir dinheiro cria automaticamente riqueza e prosperidade" ! ok? Os meus conceitos de "riqueza" e "prosperidade" NUNCA passaram por algo que seja adquirido por moeda; lamento desiludir-te, mas não me revejo no conceito de "consumidor", nem numa perspectiva economista ou economicista (metam os consumidores e o consumo no sítio mais escuro que encontrarem) ... que eu não vou nesses grupos; isso mete lâ a mais para o meu gosto !!! meeeeee...tás a ver a cena?!

"O parágrafo que voçê classifica de bullshit por acaso até explica muito bem (ainda que de forma simplista) o que se tem passado nos últimos anos e que nos trouxe onde estamos agora"

A esse parágrafo eu chamo de pensamento-dentro-da-caixa, fala/escreve muito elegantemente (???) mas não resolve nada porque "funciona" (???) numa framework de pensamento que demonstradamente (ida do A. Greenspan ao Congresso dos EUA, em OUT08) esgotou a sua capacidade de compreender a realidade - só é possível numa dimensão fantasiosa dessa realidade e em total denegação (negando a sua negação da realidade). "Explica bem", mas não ajuda em nada nem serve absolutamente para ...nada ! é como ler Newton: é elegante mas não explica as leis do mundo Físico !

Antes de me dedicar a estudar economia de uma forma autodidacta, cada vez que lia um documento sobre teoria económica lembrava-me sempre do Asterix "estes romanos são loucos" e achava que aquilo não era ciência...era astrologia; agora ...cada vez que leio um documento neoclássico, só me lembro de manga japonesa e kamikases...não acredito em ficção-científica embora haja uma matemática "elegante" a enfeitar as fantasias que (desc)escrevem!

Carlos, eu acredito na tua ingenuidade, generosidade e vontade em perceber a perspectiva económica da trapalhada/realidade actual (para onde fomos TODOS atirados - TODOS!) e eu gostava de te ajudar nessa tua caminhada, mas não sou eu o mais indicado para isso. Convido-te a estares presente, com o espírito aberto que tens e que já demonstraste, nos cursos (os Ladrões de Bicicletas podem atribuir-te uma "bolsa de estudo" à tua medida...digo eu!) em http://pt.mondediplo.com/spip.php?article475 - lá podemos trocar umas impressões e procurar algumas explicações, se conseguires a tua "bolsa de estudo"! Open Mind?!?

Cmpts,
Miguel

Bruno Silva disse...

Que jogo sujo...
A tentar entalar-me com as alegoria que você mesmo criou.. não descontextualize as coisas!!

Não, você é que desvaloriza as pessoas! Direitos, como você diz até um animal tem, a valorização de alguém dá-se pelos deveres, pela responsabilidade e, consequente, responsabilização.

Você claramente não sabe do que o Neo-Liberalismo trata, nem sequer o entende para o criticar, se formos pragmáticos, vemos que estas crises, a económica, a financeira e a interna, têm todas uma explicação plausível segundo lógicas Neo-Liberais.

Inteligente não é quem pensa que a política de maior relevância e mais eficaz é a de agir sobre os efeitos (redistribuição de riqueza, aproximação artificial de preços, injecção de moeda), inteligente é quem percebe friamente a realidade e não vai em facilitismos ou pela beleza dos argumentos, vai actuar sobre as causas, e nas causas todos nós, todos o indivíduos que tiveram, mais ou menos oportunidades, têm responsabilidade!

E na história recente do país, quase todos tiveram oportunidades, mas nem todos as aproveitaram!!
Eu sou economista, mas sou o primeiro a dizer que o futuro da economia está muito mais dependente das acções individuais das pessoas, do que das políticas de gabinete.

Bruno Silva disse...

Vou deixar aqui uma história que já deixei noutro post..

A história do Manuel e do Quim. Ambos nasceram na mesma freguesia em famílias pobres e humildes estudando apenas até a 6ª classe. No início dos anos 80, o Manuel teve a perspicácia de identificar a emergência do sector têxtil em Portugal, o que fez? foi ao banco e arriscou atravessar-se arranjando um empréstimo para comprar 4 máquinas de costura, as quais pôs na sua cave. Assim criou uma pequena confecção que com muito esforço, dedicação e dores de cabeça fez crescer, sendo hoje uma empresa com 150 trabalhadores.
O Quim, que nunca arriscou nada na vida, empregou-se como motorista de outra pequena empresa, ganhando ainda hoje o salário mínimo (há muitos com qualificação para esse serviço).

Enquanto o empreendedorismo do Manuel, apesar de não ter lá grande visão estratégica, de por vezes ser grosseiro com os seus colaboradores e até não ter facturado tudo que vendeu, durante 25 anos gerou milhões de peças de roupa, milhões em exportações, milhões em salários, milhões em impostos, milhões em contribuições para a SS, milhões em lucros com os quais comprou coisas a outros ou pôs no banco para outros investirem.
O Quim, porque sempre ganhou o salário mínimo, nunca investiu em formação complementar, nunca investiu um euro em capital, quase nada contribuiu para o IRS e tem exactamente os mesmo direitos públicos dos restantes contribuintes.

PORQUE RAIO É QUE NO FINAL DA HISTÓRIA VÊM UNS PSEUDO-INTELECTUAIS DIZER QUE A CULPA DA CRISE É DO MANUEL E A VÍTIMA É O QUIM???

Tiago Santos disse...

Porque o Manuel dependeu de centenas de pessoas como o Quim para fazer o que fez?Porque o sistema favorece quem tem o merito de saber negociar mas não favorece o homem que não sabendo negociar foi sempre mais altruista, bom pai, que esteve sempre disposto a ir mudar as cortinas da vizinha idosa e etc...

Anónimo disse...

Bruno Silva:

«a valorização de alguém dá-se pelos deveres»

Proponho a escravatura para si , irá ser muito valorizado por alguns então, sobretudo se forem oportunistas..


«Você claramente não sabe do que o Neo-Liberalismo trata, nem sequer o entende para o criticar, se formos pragmáticos, vemos que estas crises, a económica, a financeira e a interna, têm todas uma explicação plausível segundo lógicas Neo-Liberais.»

Pois, tem todas uma explicação plausivel.. as soluções para elas (as crises)é que não surgem...
Repare nesta ultima crise nos EUA a desregulamentação neoliberal fez grande borrada e teve que se socorrer do estado. E não venha dizer que a intervenção é que é o problema, porque quem a pediu foram os bancos em falencia, e o estado evitou a intervenção até à ultima .. não queria intervir... mas foi só experimentar um pouco a destruição criativa e deixar cair o 1º banco e mudámos "todos" logo de ideias.. excepto outros alguns que entraram, em minha opiniao, em processo de negação.


António

Wegie disse...

O Bruno tá mesmo a precisar duma drive nova coitado. Devia dedicar-se à "indústria textil emergente" ou ao cultivo emergente de batatas. Aposto, já que diz que é um economista, que tirou o curso duma dessas tascas privadas tipo Independente ou Lusíada.

Bruno Silva disse...

Um desafio então:

Digam-me um único livro, escrito por um professor de doutrina Neo-Liberal (Um dos principais, Milton Friedman por exemplo), onde estejam lá defendidos offshores ou produtos financeiros puramente especulativos.. um..

Adam Smith, pai do Liberalismo, dizia logo no primeiro capítulo do livro Wealth of Nations que era imperativo um estado que regulasse aquilo que não poderia ser deixado ao interesse privado, se percebem um pouco de economia saberão que o Neo-Liberalismo é uma evolução do Liberalismo que vem reforçar as responsabilidades e funções do estado.. claro que até um certo limite.. se não sabem isso.. se querem a toda a força arranjar um bode expiatório.. então não merecem tanta notoriedade..

Digam-me uma coisa.. para se investir é preciso ir à banca, para se ir à banca é preciso dar garantias, nossas garantias, pergunto, algum de vocês já se atravessou na banca movido apenas pela solidariedade?? O que vocês dizem é tudo muito bonito.. mas ainda ninguém refutou nada numa base "Não Bruno, o que tu dizes não é assim porque X e Y, e se fizemos Z é que teria resultados, porque tal e tal..." Mas não, só sabem dizer que os meus argumento são "feios"... o que vale é que o mundo é bonito..

Miguel Fabiana disse...

Bom Dia Bruno!

Não vou comentar o "...jogo sujo..." . O calor do debate por vezes leva-nos para sítios onde a razão tem dificuldade em sobreviver e a emoção e os impulsos bestiais dominam. O seu "...tentar entalar-me..." fez-me lembrar aquela frase: "Não vemos as coisas como são: vemos como somos".

Outra solicitação que faço é que deixemos o "Você" para Brasileiros ou para brasonados; é deselegante (em Portugal continental e Ilhas) - não se trata de uma questão estética; trata-se de uma razão civilizacional.

"Você claramente não sabe do que o Neo-Liberalismo trata" - pois ... possivelmente não sei e confesso que "isso" não me preocupa muito. O "Isso" refere-se á minha tranquilidade e aceitação de que não sei tudo e do pouco que sei, tenho consciência de que sei muito pouco. Apesar disso, estou tranquilo mas não consigo rever a mesma tranquilidade no Bruno.
A intranquilidade do Bruno faz-me duvidar de tanta bondade da sua parte em relação a algo (Economia e pensamento económico) que me parece ser-lhe externo a si mesmo? Logo parece-me que não estamos a debater Economia ou pensamento económico - a sua onda é, claramente, diferente da minha! ...daí a nossa dessintonia, mais do que intelectual, emocional !

"inteligente é quem percebe friamente a realidade"...pois percebo... MAS a realidade não é fria ! A realidade é muito mais quente do que o Bruno eventualmente gosta. Remeto para o Prof António Damásio ("O Erro de Descartes" entre outros). Um dos problemas dos neoliberais/neoclássicos é que arrefeceram de tal forma que agora têm MUITA dificuldade em tomar a verdadeira temperatura à REALIDADE !

Meu caro Bruno, eu não sei que pseudo-intelectuais o Bruno conhece mas ... gente que anda "culpar" o Quim zé ou o Cajó ou o Manél pela "crise".... a cena da culpa é uma cena ....pesada! Isso remete para outros foruns e para outros temas das áreas sociais, mas garantidamente fora da área económica.

M. Friedman participou, ajudou e esteve presente no Chile de Pinochet e inclusivamente alguns de seus ex-alunos chilenos ocuparam ministérios no governo Pinochet - se Offshore é crime ou como diz o Prof. H. Mintzberg "corrupção legal" e o Bruno acredita que M. Friedman não as defendee por escrito, como é que a sua perspectiva moralista-científica qualifica o envolvimento deste com o regime de terror de Pinochet e com a ditadura Brasileira ? não falando de outros "envolvimentos" igualmente menos civilizados.

O pensamento de Adam Smith tem mais de 200 anos e o Bruno ainda anda a falar dele!?...se eu andasse a fazer engenharia com as teorias e as fórmulas de Newton...estava ....desactualizado (no mínimo) !

"só sabem dizer que os meus argumento são "feios" "
Bruno, qual argumento ?

Não se trata de uma questão estética; trata-se de uma razão civilizacional e humanista !

Quando era mais novo, um colega na escola que me dizia que não "gostava do 25 de Abril" porque o Pai dele tinha sido Almirante da Marinha Portuguesa e com o 25 de Abril o Pai dele tinha perdido todos os empregos que tinha fora da Marinha e tinha sido passado compulsivamente à reserva - dizia o meu colega que depois de 25 de Abril de 1974 ele e a família tinha passado dificuldades porque eram 8 irmãos e as origens familiares desse meu colega, eram pescadores; o Avô do meu colega foi pescador. Eu na altura, entusiasta e voluntário, disse ao meu amigo e colega que ele não podia ver a Revolução de Abril de 1974 e a democratização da sociedade Portuguesa apenas baseado nos eventos que condicionaram o "bem estar" familiar (independentemente do compromisso ou do envolvimento que o Pai dele teve com o regime fascista de salazar e de caetano). Agora o que é que isto tem a ver com o tema em debate? Nada, ie, o mesmo que a história do Quim e do Manuel tem a ver com Economia e com pensamento económico... "inteligente é quem percebe friamente a realidade"...vale a pena perceber friamente a realidade? qual a realidade que é assim tão fria que mereça ser percebida ... friamente ?

Queres debater comigo sobre o tema deste post, na boa!!! Sem stresses - com temperatura... na boa !!! Queres partir pedra com histórias de Quim Zés e Maneis ...mamen, 'tou noutra onda ! Sorry, mas é o que há e do que há nada falta !


Tout façon, um abraço!
Miguel

Bruno Silva disse...

Friedman era o primeiro a dizer que o regime de Pinochet não era democrático.. mas das duas vezes que as políticas que ele aconselhou foram aplicadas pelos "Chicago Boys", apesar dos custos sociais iniciais, despoletaram dois BOOM's na economia chilena..

Ambos temos o mesmo objectivo, melhorar a vida de todos, mas simplesmente o processos que defendemos são diferentes..

Mas vou-lhe contar mais histórias:

Cenário A: A empresa A investe num sector e está a ter elevadas taxas de lucro. O sentimentalismo leva a que se aumentem os impostos, se reivindiquem melhores salários, se baixem os preços.. tudo bem.. no curto prazo todos beneficiam tirando os "porcos capitalistas".

Cenário B: A empresa A está no sector e a ter elevadas taxas de lucro, o que se faz? nada.. deixa-se assim.. o que acontece? Alguém vê a elevada atractividade do sector e investe nas empresas B e C que passam a ser concorrentes da A. Resultado os preços também diminuem, as taxas de lucro também diminuem, os impostos também aumentam em termos nominais, mas há uma grande diferença aumenta o número de postos de trabalho, de produção real de riqueza e aumenta a procura por mão-de-obra o que gera um impulso positivo na subida dos salários.

Isto não é teoria, isto também não é a realidade, é a conjugação de ambas.. e basta olhar para o mundo real para se aperceber de que, apesar de poder dar exemplos que a contrariam, são esmagadoramente mais os exemplos que corroboram..

A economia não pode ser discutida apenas dentro do âmbito da economia, se não era uma ciência exacta, mas não, é uma ciência social, abarca a sociologia, a psicologia, a filosofia, etc...

Há maus gestores? há certamente.. mas são o dinamismo e a competição as melhores formas de premiar os melhores e punir os piores, certamente toda a gente prefere trabalhar com gestores melhores, mas para isso têm de haver mais, para haverem mais tem de haver mais investimento, e, grosso modo, quando o estado mete a mãozinha o investimento sai prejudicado.. não defendo posições extremas, mas defendo o bom senso..

Ok, o Homem é quente e altruista, então diga-me, no seu mundo perfeito, o que leva ao Homem investir em negócios de risco, muitos deles tão úteis à sociedade?

Quer o paraíso ou um mundo perfeito? Dê um tiro na cabeça e peça a alguém para rezar por si..

Miguel Fabiana disse...

ups...time out !

Bruno disse...

Ups.. Check Mate!

croky disse...

"Achar, ou tentar passar a ideia que a corrupção é uma das principais causas das desigualdades em Portugal é simplesmente errado."

Sabe que Romano Prodi uma vez disse que a injustiça na legislação laboral é um dos principais factores no aumento das desigualdades sociais ?

Seja honesto e pergunte-se porque ...

Talvez Prodi não conhecesse Bagão Felix, mas a verdade é que o código laboral de 2001 deste douto senhor é não mais que uma limitação imposta ao empregado para conseguir fazer valer os seus direitos. E olhe quem fala é alguém que passou pelo sistema ... para quem percebe do assunto, pense no que se perdeu com a extinção da regulamentação dos salários em atraso, em favor de uma lei mais geral e descaracterizada.

"Mas prontos" , talvez se Bagão não fosse ele próprio patrão, ele faria uma lei mais justa. Mas só mesmo Portugal para ter árbitros a roubar à descarada e ministros do trabalho a fazer leis que descaradamente beneficiam o patronato. "Corrupção ? Qual Corrupção ?"

Meu caro, pergunte a qualquer advogado consciente da lei laboral para que lado pende a balança da justiça ?

Bruno Silva disse...

Se o Romano Prodi diz.. quem sou eu para contrariar.. o Romano Prodi nem tem de agradar aos eleitores nem nada.. E dizer o que é bonito nem sempre é dizer o que é eficaz..

Mas ninguém aqui está a defender salários em atraso, as obrigações são para ser cumpridas. Desculpe-me mas está a ver só um lado, a lei também protege muitos maus trabalhadores, que se regem pela lei do menor esforço, do mínimo indispensável.. não vale a pena negar por que isto acontece. Porque é que o cidadão A, que contratou o cidadão B, porque precisava de alguém para fazer uma determinada tarefa (como você requer os serviços de um canalizador, p.e.) quando já não tem trabalho para ele é obrigado a continuar a pagar-lhe o salário? Porque é que o cidadão A é obrigado a endividar-se para pagar o salário ao cidadão B não havendo perspectivas de curto e médio prazo de que ele volte a ser produtivo devido à falta de encomendas? Não pense apenas nas grandes empresas, pense na realidade das PME´s portuguesas.
Mas você diz e eu concordo, as empresas têm de ter uma responsabilidade social, então vem o estado e diz, querem contratar, tudo bem, mas vão ter de pagar 23,75% acima do salário de cada trabalhador para a segurança social, para que em caso de despedimento o estado lhe possa pagar um subsídio e mais tarde a reforma.. e as empresas pagam.. mas depois quando querem accionar o despedimento, algo pelo qual já incorreram num custo social bastante considerável, vem o estado, o cobrador do outro imposto, meus amigos, desculpem-me mas afinal se quiserem despedir têm de pagar indemnizações (que para os trabalhadores mais antigos, chegam a atingir fortunas).

Meu caro, todos nós queremos que haja mais emprego e melhores salários, mas não é a agarrarmo-nos a uma "pseudo-estabilidade" garantida por lei que se garante o futuro. Ser patrão pode significar ou não um bom retorno, mas implica sempre risco, se se começa a cair no exagero de lhes por as responsabilidades de tudo e todos, eu certamente nunca vou querer ser patrão, mais me vale ser um bom empregado com um bom salário e sem dores de cabeça, você a mesma coisa e toda a gente também.. perde-se o empreendedorismo, perde-se a criação de riqueza e, inevitavelmente, a economia ressente-se...

Miguel Fabiana disse...

Bruno,

"Dê um tiro na cabeça e peça a alguém para rezar por si.." não é "Check Mate" é mais do género: "ando a comer peixe com elevados níveis de mercúrio"...'tas a ver a cena, mamen ?!?

Se quiseres um debate mais livre de exposição pública (não vamos aborrecer terceiros com os nossos humores!) escreve-me para a minha mailbox - estou disponível para concretizar esse debate no local, formato e conteúdo mais adequado às "ideias" que pretendes concretizar.

'bora?!?

Miguel

croky disse...

"Se o Romano Prodi diz.. quem sou eu para contrariar.. o Romano Prodi nem tem de agradar aos eleitores nem nada.. E dizer o que é bonito nem sempre é dizer o que é eficaz.."

Sim, sim. Mas não é lógico também deduzir que um insuspeito está a constatar um facto ?

Bonito, eficaz .. tou baralhado. Parece querer comparar alhos com bugalhos. A justiça nem tem que ser bonita nem eficaz - até o pode ser, no entanto - tem é que ser justa e razoável.

A eficácia depende da forma como o Estado a aplica. A beleza, no meu ponto de vista, depende de uma democracia produtiva - não confundir com o conceito do "Socas" - , portanto da capacidade dos legisladores em criar leis. No entanto a lei em si, na sua essência só tem que ser justa dentro de uma razoabilidade que pode ser cultural e social. No entanto o que hoje acontece é uma justiça que tenta ser razoável do ponto de vista económico, pondo de lado - cada vez mais - os factores sociais.

Meu caro, você pode argumentar - muito empiricamente, diga-se - sobre patrão vs. empregado. Mesmo assim, e volto a repetir, pergunte a qualquer advogado consciente do direito laboral para que lado pende a balança.

Você apresenta vários cenários que querem fazer passar os patrões como coitadinhos. E às vezes até o são, também existem maus funcionários, os impostos são altos para as empresas, etc. Até concordo consigo. O que você parece não querer entender, e este é o ponto objectivo do argumento, é que a legislação laboral continua a ser muito mais favorável ao patronato do que aos trabalhadores. A lei pode estar mal feita de várias maneiras, e está ! Mas está mais mal feita para um dos lados.

croky disse...

"Ok, o Homem é quente e altruísta, então diga-me, no seu mundo perfeito, o que leva ao Homem investir em negócios de risco, muitos deles tão úteis à sociedade?"

A utilidade social, embora sirva de certo modo par justificar o risco, não justifica a forma pouco igualitária de como o lucro é distribuído. O patrão corre risco, é certo. Mas até que ponto a criação do lucro pode ser quantificada para ser distribuída de uma forma razoável.

Entenda-se como razoável a capacidade de discernir a divisão do lucro entre o risco e a capacidade efectiva de produção do factor trabalho.

Meu caro, patrões e trabalhadores são seres humanos com necessidades
, ambições e realizações. A crítica surge quando a distribuição do rendimento se torna díspar, desfasada da realidade quantificada do lucro na sua divisão.

Aqui surge a necessidade, de análise multidisciplinar - como refere - , de perceber a origem da atitude humana perante a desigualdade na distribuição do lucro. Será o risco assim tão caro ? O que é a liberdade de acumulação de capital sem a responsabilidade da igualdade social e o bem-estar comum ?

Bruno Silva disse...

Caro "croky",

Agradeço a sua intervenção pois finalmente alguém me vem contra-argumentar de forma construtiva e não meramente com floreados.

Na minha opinião, você e os seus parceiros de ideiais estão a misturar coisas.

Siga o meu raciocínio... As coisas não nascem nas prateleiras nem aparecem feitas, logo, se as queremos temos que as produzir. Com o evoluir dos tempos a sociedade percebeu que é muito mais proficuo que cada um se especialize em alguma coisa e depois a "troque" por outras, dessa forma criam-se sinergias que beneficiam toda a gente. Dantes trocavam-se coisas por coisas, e já nessa altura a razão de troca dependia da escassez, entretanto criou-se o dinheiro, que veio facilitar processos, sendo este a unidade de medida do Valor. Ou seja, quer haja ou não mercado, o individuo, para além de viver, tem de criar/fazer algo para receber algo. Numa sociedade com biliões de habitantes torna-se obsoleta a ideia de "cooperação" que poderia existir numa pequena comunidade de apenas algumas dezenas de habitantes, logo é necessário uma forma alternativa de organização. A história veio mostrar que a economia de mercado, mesmo não sendo perfeita, é sem dúvida a melhor.

Existem então dois campos na vida de um humano, o social e o profissional. Como ser social todos temos de ter os valores de solidariedade, de altruísmo e preocupação com o próximo, no lado profissional, temos a obrigação de fazer algo que alguém dê valor. Voltemos à comunidade de poucas dezenas de pessoas onde existe apenas cooperação e não mercado, se você, por capricho, quiser apenas colher pêras mas a comunidade só gosta de maçãs, você acha que as pessoas se vão sentir confortáveis a no final do dia, repartir consigo o fruto do trabalho delas quando você não oferece nada em troca que elas valorizem também? Não. Ora o mercado não é mais do que esta lógica alargada a biliões de pessoas e a biliões de produtos. O preço de mercado de algo não é mais do que o indicador da escassez de um determinado bem/serviço face aos gostos somados de cada um dos indivíduos da nossa sociedade.
A tecnologia veio introduzir um outro factor produtivo, o capital.
Uma costureira podia fazer um camisola sem usar uma máquina de costura, mas o tempo que gastava ia representar um rendimento extremamente baixo face aquilo que Você e outro qualquer individuo estaria disposto a pagar pois consegue outras, feitas com apoio ao capital, por um preço muito mais reduzido. Logo, ela ganha mais cooperando com alguém que tenha uma máquina de costura. Logo cria-se aqui uma conjugação de forças produtivas que beneficiam ambos, ambos servem-se do outro para criar mais riqueza e ambos saem beneficiados dessa relação. Agora, a remuneração de cada um depende da escassez.


O valor não depende de leis, o valor de algo no mercado depende exclusivamente da escassez, uma costureira numa cidade cheia de máquinas é escassa, logo valiosa, uma máquina numa cidade de costureiras também é escassa, logo valiosa. Isto é o valor de mercado, e é nesta diferença de valor e consequente remuneração que há o incentivo para outros agentes irem dirimindo a escassez até um equilíbrio que resulta num ponto não perfeito mas o melhor possível. Quantos negócios têm consecutivamente taxas, e friso, TAXAS, de lucro elevadas ano após ano durante décadas (tirando os monopólios ou carteis? Não foi esta diferença de escassez/remuneração que fez milhares de empreendedores investirem na têxtil e no calçado nos anos 80? nos jovens se formarem médicos, enfermeiros, advogados, professores, engenheiros? O facto pelo qual eu defendo que devam haver diferenças de rendimento deve-se ao facto de funcionarem como um estímulo, e o facto de eu olhar de canto para distribuição gratuita e sobre a imagem de "direito" é criarem um desestimulo, o que todos somados podem prejudicar a economia.

Agora, há um justo valor de mercado com o qual as leis jurídicas não têm nada que ver, e existe um outro valor, o social no qual as leis já devem intervir para dirimir injustiças, não de mercado mas sociais, aí estou de acordo. Mas esta intervenção deve ser muito cautelosa. Deve acima de tudo invocar valores e não funcionar cegamente. Deve incutir a responsabilidade social a quem mais tem mais do que a "obrigar", a diferença é que a primeira não mina a motivação e a segunda mina, assim como deve incutir uma responsabilidade social a quem menos tem mas tem as oportunidades, ou seja, muita gente em Portugal nasceu numa época difícil, com outra mentalidade, e portanto hoje têm 50 anos e a 3ª classe, para esses deve haver esforços colectivos, mas a verdade é que a economia Portuguesa tem mais do que espaço para esses e até para lhes pagare bons salários. O grande problema é que de geração em geração, se foi construindo um sistema de ensino com o intuito de dar as pessoas a oportunidade de deixarem de colher pêras e fabricarem outras coisas. A verdade é que ano após ano, fornadas e fornadas de jovens desperdiçaram este sistema (irresponsabilidade), e governos e governos esqueceram-se de aumentar as vagas e condições para o estudo de ciências e tecnologias capazes de alterar o paradigma industrial português (falta de visão estratégica) , resultado: As pessoas de 50 anos perdem o emprego para os jovens que desperdiçaram o ensino que os primeiros lhes ofereceram, e a nossa indústria ficou ancorada a produtos de pouco valor acrescentado por ser essa a realidade da mão-de-obra. Este é o real problema do país, é que em vez de estarmos a produzir algo que os outros valorizem, queremos que alguém nos pague mais por o mesmo serviço que prestávamos há 30 anos. Não é a boa vontade que muda o facto de uma costureira de 55 anos prestar exactamente o mesmo serviço que prestava quando tinha 20 anos, isso é uma realidade.. e convenhamos, que valor isso tem? mas a culpa não é da pobre senhora, ela não teve outras oportunidades na vida, a culpa é dos jovens/políticos que não tiveram uma visão estratégica nem realizaram os devidos esforços para diminuírem o número de trabalhadores pouco qualificados, e aumentarem o número de qualificados (sobretudo em áreas produtivas). Dessa forma, o número de não qualificados baixaria, levando os seus salários para cima, diminuindo de forma natural a rendibilidade dos sectores que vivem dessa mão-de-obra que eventualmente iriam sendo substituídos por outros, os de maior valor acrescentado (este foi o percurso das economias mais desenvolvidas). Mas em Portugal isto não se passou assim, porque o estado não se concentrou naquelas tarefas que tanto eu e você estamos de acordo (educação, justiça e saúde) e foi patrocinando a imagem de estado paternalista e que assume a culpa de tudo, o que fez relaxar muito boa gente..
O que eu quero concluir é que não devemos enveredar por um caminho de cair em cima dos empresários dos sectores não qualificados porque é essa a realidade da nossa mão-de-obra, acho que é muito mais profícuo incentivar os jovens a não piorarem as coisas, ou seja, serem um trabalhador qualificado a mais e um trabalhador não qualificado a menos. Para os não jovens promover a formação contínua. Como já disse aqui algures, a valorização do ser humano dá-se pelas responsabilidades que lhe concedemos e não pelos direitos, porque direitos até um animal ou um bebé têm, responsabilidades não.

Claro que podemos e devemos praticar políticas correctivas no sentido de dar uma vida digna a todos os que façam ou fizerem por isso (Quem simplesmente não quer fazer nada bem que passe fome e vá morar para de baixo da ponte), mas isso é apenas agir sobre efeitos e não sobre causas.

Diga-me, se os trabalhadores têm direito ao lucro, deverão também chegarem-se à frente quando há prejuízos? Se os trabalhadores têm direito a uma melhor remuneração (independentemente da escassez das tarefas por eles realizadas) quando o negócio está saudável, não deveriam, por ordem de ideias reduzir a remuneração quando o negócio está mau? Quando uma empresa paga salários mas não tem lucro não se dá o fenómeno de os trabalhadores estarem a usufruir gratuitamente do capital alheio para produzirem riqueza apenas e só para si? Na ânsia de querem uma justiça social de forma cega, você começa a misturar as coisas.