sexta-feira, 3 de abril de 2009

Da privatização da Segurança Social à crise financeira

Prever a uma distância de 40 anos é um exercício arriscado, mas as recentes previsões da Comissão Europeia para o sistema público de pensões tornam saliente todo o processo de desvalorização das pensões públicas que agora se inicia. Afirma a Comissão que as pensões em Portugal sofrerão um corte de 29 por cento em 2046, face a 2006, devido às reformas introduzida por este Governo (Público, 16/03/09). Portugal sofrerá o maior corte de toda a União Europeia.

Se juntarmos aos cortes nas pensões os incentivos fiscais ao investimento em PPR (planos de poupança reforma) percebemos que as classes mais abastadas, com capacidade poupança, se deslocarão lentamente do sistema público para o sistema privado, dominado pela finança. O resultado será um sistema dual, onde teremos um frágil e exíguo sistema público destinado aos mais pobres e um sistema privado, dependente das rentabilidades dos mais exóticos produtos financeiros e das escandalosas comissões cobradas aos aforradores. O grosso do sistema é deixado ao mercado. Este processo não só revela um corte abrupto dos princípios que comandam o sistema público (universalidade, solidariedade inter-geracional), como um alinhamento com os processos de privatização e financeirização dos sistemas de segurança social internacionais - promovidos um pouco por todo o mundo por instituições como o Banco Mundial ou a OCDE - cujos terríveis efeitos são hoje claros à luz da presente crise financeira.

O resto está aqui.

A imagem abaixo mostra as perdas de alguns fundos de pensões (sobretudo de funcionários públicos) nos EUA, desde o início da crise financeira.

6 comentários:

Luís disse...

Que é uma verdade. Que é um exagero. Mas os ladrões têm por vezes produzido boas ideias para o domínio do económico. Algumas peias ideológicas à mistura (a canga diria J.Sócrates) mas a coisa desenvolve-se.

Um bocado estilo pós-moderno; denunciam Masstricht mas sonham com uma Europa Unida, certamente que não ao som da Internacional! Sinfonia N.º5 tb me parece bem, afinal! Uns toques na representação e um budget à maneira; (alguém tá a pensar reabrir o gabinete de Sines?); os ladrões querem muitos gabinetes: mas não para a petroquímica, indústria pesada; herança marcelista; agora os "postos de trabalho"; "os empregos" tão nas energias limpas, nas renováveis e quejandas. Pois assim seja. Voa, voa, ventoinha voa...

Mas agora as PENSÕES: tema sensível, convenha! E os ladrões, zupa, respaldados numa ideia de um economia sueco (que ninguém obviamente conhece, apesar do autor assegurar da sua fama)!; Gunnar Myrdal, então, também é um nome na calha, heterodoxo q.b., mas a teoria social já um bocadinho mais difícil de perceber e os ladrões ficam-se pelo Polanyi, que sempre vem tudo com a primeira apanha! lálaá´lá;!

Claro que os trabalhadores deveriam ter acesso a uma quota dos lucros em forma de acções; aí está uma proposta socialista, aliás, na linha programática do PARTIDO RADICAL (1925) que não há muito descobri na biblioteca digital; vale a pena ler como naquela altura a uma mão (a tinta da china, claro está) se fazia tão belo programa em vista promover a prosperidade da nação e os direitos do trabalho!

Mas como os ladrões gostam de ir fundo; ver mais longe, tropeçam no que têm mesmo em frente deles. Afinal o FESS tem 8mil milhões para distribuir pelos mercados financeiros internacionais! Mas com que racionalidade? Mas porquê uma emulação do jogo da finança privada? Mas porquê toda aquela parnafenália de modelos, de risco distribuído; carteiras conervadoras, carteiras agressivas; amantes; odiantes do risco; bestas; seres humanos bestializados numa sala, ou mais salas, da torre do prédio das Antas; rotina odiosa; fatos cizentões; discurso esteriotipado; com vista para o Dolce Vitta, imagino,ou para o Estádio do Dragão! Pois é!


8mil milhões dos trabalhadores que o Min. entrega a uns tipos de fato e gravata para gerirem de forma conservadora na especulação financeira internacional(!!) e qual quê, dizem que com rentabilidades acumuladas anuais acima dos 4%!! A prova mais inequívoca que o público gere melhor que o privado! Quer dizer! FODA-**! Queremos esse dinheiro já! O dinheiro que é dos trabalhadores gerido pelos trabalhadores! Não há cá malta de raízes quadradas e exponenciais ao cubo! EXIGIR O QUE È NOSSO! APLICA-LO PRODUTIVAMENTO NOS RECURSOS INTERNOS!

Já sei. Vão me dizer que agora aquela merda é over-the-counter, e os gajos iam precisar de 4 ou 5 anos para vendere aqueles títulos todos. É por isso; montem a tenda e tragam zeca afonso, vai demorar até arranjarmos comprador; mas que mais, como em Maio, 68, temos TODO O TEMPO DO MUNDO: VIVA A INTERNACIONAL SITUACIONISTA!

Nuno teles disse...

Caro João,

Sobre Myrdal:

http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2007/05/economistas-de-combate-1-gunnar-myrdal.html

Quanto ao fundo de acções, não se trata aqui distinguir gestões agressivas ou conservadoras. Neste fundo, proposto pelo social-democrata Rudolf Meidner, as acções não são transaccionáveis! O seu único rendimento são os dividendos. Não há qualquer emulação da finança privada.

Sobre Meidner um breve busca no google resulta neste excelente texto:

http://www.counterpunch.org/blackburn12222005.html

nuno

Miguel Fabiana disse...

João,

Eu confesso-me completamente esmagado pela sua escrita e talvez porque desta forma estou imobilizado, não consigo discernir os "conteúdos" acima.

Presumo que há uma mensagem algures, mas como não cursei criptologia, provavelmente estou a perder algo de interessante: mea culpa ! Fica para mais tarde, um dia quem sabe !

Fique bem,
Miguel

O Puma disse...

Apesar de tudo

o G20

ainda anda à solta

Luís disse...

Quanto à boca da criptologia, não respondo. A sintaxe por pode não ser perfeita e os contéudos para os perceber recomendo-lhe mais leitura.... de Husserl; assim justamente, não passa por urso!

Quanto ao Myrdal; falhei esse post! Mas pronto mais uma contribuição socialedemocrata para o debate!

E qto às acções; eu percebi que o plano do sueco não era emular a finança privada; o que eu tou a fazer é uma crítica ao plano socialista actual de governo que tem um FEFSS que gere procurando emular a finança privada. O que reivindico; e acho que deve ser reivindicado é justamente esse $$, esses 8mil milhões para uma gestão democrática que sirva o desenvolvimento interno e não que seja despejado em ecrãs virtuais da sala de mercado da Torre das Antas que é onde tá sedeada por obrigações, acções, derivações e o diabo!

De qualquer das formas um t´titulo que não fosse transaccionável tinha sempre que prever um mecanismo de reflectir as putativas valorizações os desvalorizações. Não digo que é impossível; antes pelo contrário. O que digo é que não é preciso ir à Suécia para tirar esse coelho da cartola. Basta ir à torre das antas.

E viva o FCP!

Miguel Fabiana disse...

Jonhy Boy,

A cena do urso era escusada! Eu até podia entrar na onda e puxar de um "meu granda camelo" mas isso ia-nos levar onde?...por isso 'tasse bem e agradeço a sugestão da leitura!

Fica bem e não abuses da cafeína!
Miguel