quarta-feira, 13 de março de 2024

Luzes e sombras


Se as direitas funcionam por incessante repetição e se têm a hegemonia, então é caso para dizer que há algo a aprender com tal modo de operar. Deve reter-se uma formulação de um estratega de George Bush, lida há uns anos na repetitiva The Economist, e trazida para aqui de memória: “repetir, repetir, repetir sempre, e é só quando se está farto de repetir que o público começa a prestar atenção pela primeira vez”. 

Então aqui vai uma repetição: IL e Chega são duas faces da mesma má moeda, emitida pelas frações mais reacionárias do capital, em particular o que é grande, e colocada em circulação pelo Governo da troika, em geral, e pelo neoliberal Passos Coelho, em particular. O fascismo chega sempre pela mão política do capital e dos seus intelectuais orgânicos bem financiados, ajudado pelas fraturas sociais geradas pelo liberalismo económico. Jaime Nogueira Pinto até é um intelectual que financia, fazendo ligações. 

Temos então sempre de distinguir entre a nova/velha elite da extrema-direita – Venturas, Nogueiras Pintos, Pintos Pereiras, Bonifácios, Marchis, Mithás Ribeiros (todos doutorados, note-se) – e uma massa popular variada, que em certas circunstâncias a pode apoiar. A primeira combate-se sem quartel, a segunda reconquista-se. Está distinção luminosa, oriunda da tradição antifascista, passou, e com distinção, vários testes da história mais negra.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se pudessem explicar como é que as classes populares se passaram para a extrema-direita...
Operariado não há muito, dada a desindustrialização, mas precários, mal pagos, é coisa que não falta.

Eu tenho na cabeça que muito tem a ver com a evolução dos partidos da Segunda Internacional. Às classes populares recomendam produtividade, competitividade, skills. É só o que têm para dar. Fora isso, a ideia é que a esquerda seja ambiente, bio, alterações climáticas, migrações, lgbti, género, morte assistida, eutanásia e por aí.
Assim chegámos a esta situação extraordinária em que os brutos e pobres votam na extrema-direita e os meninos de bicicleta da cidade, com o cartucho das compras da loja eco friendly votam PS e Bloco.

Olhando para França, Países Baixos, até a Alemanha, a tendência parece clara: as esquerdas (plural) ficam reduzidas a um terço do eleitorado e fora do governo, pelo menos enquanto partidos dominantes, o PS vai acabar muito minoritário.
E, no entanto, há pobres, há pessoas em dificuldades, a necessitar de quem os defenda.

By the way, não voto e nunca votaria na canalha do Chega.