sexta-feira, 1 de março de 2024

IVG: A Caixa de Pandora que afinal não se abriu


«Não só o número de IVG por opção da mulher não aumentou de forma vertiginosa – como profetizavam, quase desejando que assim fosse –, como se regista uma consistente tendência de redução, passando-se de cerca de 18 mil IVG a pedido da mulher em 2008, para cerca de 14 mil em 2020, sendo os anos de 2021 e 2022 atípicos, refletindo o efeito da pandemia e do pós-pandemia (como sucedeu um pouco por toda a Europa, aliás).
Se a defesa da criminalização do aborto, à direita, estivesse relacionada com preocupações relativas ao risco do seu aumento, a realidade tratou, com a despenalização, de transformar em pó esse argumento.
De onde virá, então, a atual tentativa da direita de fazer recuar o país civilizacionalmente, num regresso às trevas da criminalização, com Paulo Núncio – que será deputado da AD por Lisboa – a defender a realização de um novo referendo, devidamente antecedido por «iniciativas, no sentido de limitar o acesso ao aborto»? Isto quando a direita, em 2015 – num ato de pura humilhação das mulheres –, tinha já aprovado taxas moderadoras, tornado o aconselhamento psicológico e social obrigatório e criado a possibilidade de participação, nessas consultas, de médicos objetores de consciência (até aí impedidos de estar presentes).
Para lá do moralismo hipócrita, e da tentativa de impor aos outros visões do mundo retrógradas, esta questão é, contudo, na verdade, apenas um exemplo que revela o risco de outros recuos – desde logo no Estado Social, que estará sob ataque, no emprego e rendimentos e ao nível das desigualdades –, mais ou menos dissimulados, que a direita se prepara para levar a cabo, caso consiga alcançar o poder nas próximas eleições legislativas.
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O resto da crónica pode ser lido no Setenta e Quatro.

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