sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A direita não gosta que lhe cortem os cortes

Sem surpresa, o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, veio juntar-se ao coro dos que acham que Portugal tem funcionários públicos a mais (como António Saraiva, da CIP), acusando o PS e o Governo de terem «transformado o Estado "no maior centro de emprego do país"», ocupando-o e «engordando-o». Quando o emprego público representa cerca de 15% do total da população empregada, abaixo da média europeia (onde o peso dos funcionários públicos no emprego total ronda os 18%), é capaz de ser um bocadinho forçado falar do Estado como o «maior centro de emprego do país». Mas vindo de Rodrigues dos Santos ninguém estranha.

De facto, e ao contrário da ideia que se tenta passar, o que está em causa não é uma suposta elevação sem precedentes dos níveis de emprego público, mas antes a recuperação gradual - iniciada pela maioria parlamentar de esquerda na anterior legislatura - dos cortes brutais nos recursos humanos da administração pública feitos pela maioria PSD/CDS-PP, a tal que quis ir «além da troika», entre 2011 e 2015. Isto é, uma redução, em apenas quatro anos, de cerca de 70 mil trabalhadores em funções públicas, que se traduz numa quebra a rondar os -10%. E sendo que, em termos de peso relativo no total do emprego, o valor atual (15,2%) está em linha com o registado em 2011 (15,4%).


Quando se olha de forma séria para os números, o que se constata é de facto uma reposição do volume de emprego público continuamente registado desde 2000 (e até 2011), a rondar os 700 mil trabalhadores (e mesmo assim comparativamente abaixo da média europeia, repita-se), pondo fim à devastação provocada entre esse ano e 2015, com impactos claros na degradação do acesso e qualidade dos serviços públicos (e nomeadamente dos que mais contribuem - como é o caso da saúde, educação e proteção social - para uma maior inclusão e redução das desigualdades). Aquilo de que a direita se queixa é pois, na verdade, de lhe «cortarem os cortes» que fez (como sucede por exemplo, a par da redução do emprego público, nos orçamentos da saúde e da educação).

1 comentário:

Jose disse...

O estranho conforto do 'abaixo da média europeia' sempre invocado para a despesa.