quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Afinal são mesmo «os alunos de Crato»

Ainda sobre o debate em torno da estagnação e quebra nos resultados dos alunos portugueses no PISA e no TIMSS, depois de 2015, e a alegada relação com a extinção dos exames do 4º e do 6º ano e o fim das Metas Curriculares de Nuno Crato, vale mesmo muito a pena ler este post de Maria João Gouveia, no blogue Harmonices Mundi. É que a docente da UL deu-se ao trabalho de analisar, com detalhe, a trajetória escolar dos alunos que participaram nestes estudos internacionais, identificando as orientações pedagógicas em vigor ao longo desse percurso.

Assim, dos «alunos que realizaram a prova de Matemática Pisa 2015, 88,4% não haviam ainda sido abrangidos pelas Metas Curriculares implementadas pela primeira vez em 2013/14», sendo por isso «legítimo assumir que a melhoria significativa (...) no teste Pisa 2015 foi mérito de alunos com aprendizagem exclusivamente orientada pelo Programa de Matemática do Ensino Básico de 2007». E nos «alunos que realizaram a prova de Matemática Pisa 2018, a aprendizagem em Matemática no 2º e no 3º ciclos» foi, em «pelo menos 88,6%» dos casos, «orientada pelas Metas Curriculares, uma vez que as Aprendizagens Essenciais só seriam implementadas no ano escolar seguinte». Uma relação entre orientações pedagógicas e resultados que também se verifica no TIMSS (4º ano de Matemática).


A conclusão geral a que Maria João Gouveia chega, neste âmbito, é por isso clara: «os números revelam que a aprendizagem da Matemática e o desenvolvimento das capacidades que essa aprendizagem é suposto promover, foram mais bem sucedidos durante a vigência do Programa de 2007 do que durante a vigência das Metas Curriculares, contrariamente à expectativa que estas últimas criaram em alguns sectores da nossa sociedade». Ou seja, como já se intuia aqui e aqui, o que esta evolução de resultados pode revelar, face a 2015, não é o efeito do fim dos exames e das Metas Curriculares, mas sim o efeito, temporalmente deferido, nos «alunos de Crato», da sua vigência.

Posto isto, como se mostra agora a todos quantos enxamearam jornais com artigos de opinião (ver por exemplo aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui), fazendo lembrar um coro previamente ensaiado, que as coisas nem sempre são o que parecem à primeira vista? Como repor a verdade dos factos numa efabulação fraudulenta que - por precipitação, superficialidade ou má fé - chegou mesmo a cruzar a fronteira?


Adenda: Os resultados escolares não dependem apenas, obviamente, das orientações pedagógicas vigentes em cada momento. Entre muitos outros factores, contextos de crise económica e social, por exemplo (como o que Portugal atravessou entre 2011 e 2015, submetido a políticas de austeridade «além da troika»), deixam também, necessariamente, as suas marcas. Mas para avaliar a relação entre orientações pedagógicas e resultados é necessário perceber bem de que alunos se está a falar em cada momento, o que obriga a uma análise cuidada da cronologia das mudanças educativas.

15 comentários:

Anónimo disse...

... mais um estudo cheio de falácias... esquecem-se das "aprendizagens essenciais" que entraram em vigor em 2016 (apesar de o curricula em vigor serem os do "Crato") e, na minha perspectiva o fator determinante, a eliminação dos exames de 4º e 6º ano... Mas deixem lá, em 2022 o PISA e o TIMSS em 2023 mostrará o efeito das políticas do J Costa (e oxalá quem acha que estas levarão a um retrocesso de 30 anos, esteja enganado; quando o futuro do país está em jogo, não devia haver clubite política, as decisões devem ser baseadas na empiria e não na ideologia! Pena é que quem toma "decisões" deste calibre não seja alvo de consequencias mais drásticas do que um voto a mais ou um voto a menos....

Nuno Serra disse...

Caro Anónimo (das 13h13),
Apenas para frisar que as Aprendizagens Essenciais, Perfil do Aluno e Flexibilidade Curricular entraram no 1º ano em 2017/18 nas escolas piloto e só depois, em 2018/19, nas restantes. A única mudança que pode ser invocada neste contexto é o fim dos exames no 4º e 6º ano (que só Portugal e a Bélgica francófona faziam, à escala da UE).

Anónimo disse...

Muito bem!

TINA's Nemesis disse...

Anónimo 5 de agosto de 2021 às 13:13,

Eu também gostava que certos decisores políticos sofressem consequências mais drásticas do que simplesmente perder votos.
E sabe qual é o melhor exemplo com que a Justiça se deve incumbir?
Com os tipos do Governo PAF, FMI, Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.
Sabe porquê?
Porque esta gente sabia perfeitamente que não havia nenhuma bancarrota e mesmo assim não se coibiu de destruir parte da economia portuguesa, destruir emprego, criar miséria e sofrimento desnecessários!
E foi feito por ideologia, pela vontade de criar um euro-império, para fortalecer os poderes de uma minoria e subjugar a maioria da população.

Aquilo que o Governo Paf, FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu fizeram é criminoso e a Justiça devia-se encarregar com estes responsáveis por tanto mal que agora vivemos.

Desnudas Palavras disse...

Só um reparo meu caro. Só Portugal e a Belgica é que tinham os referidos exames. Como tal, conclui-se que os restantes países são geridos por uns belos parvalhões que só pretendem o mal dos alunos !

Anónimo disse...

Este TINA`s Nemesis acredita mesmo naquilo que escreveu? Aonde chega a desconexão com a realidade.

TINA's Nemesis disse...

Este Anónimo 6 de agosto de 2021 às 23:34 quer falar de realidade?

É mentira que o Banco Central Europeu não financiou Estados, incluindo o português, por questões ideológicas e não porque não tinha capacidade, e ao fazer isto aprofundou a crise de propósito para alcançar determinados fins que nada têm a ver com o bem-estar da maioria da população?

Mas este anónimo pensa que vem para aqui fomentar dúvidas nos que frequentam este blog?
Pensará este anónimo que quem vem aqui não tem noção razoável das patifarias que as "elites" criminosas têm infligido à maioria da população?

Anónimo disse...

Oh TINA, você escreve isto, e que ser considerado sério? A sério?Cito estas pérolas : "E sabe qual é o melhor exemplo com que a Justiça se deve incumbir?
Com os tipos do Governo PAF, FMI, Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.
Sabe porquê?
Porque esta gente sabia perfeitamente que não havia nenhuma bancarrota e mesmo assim não se coibiu de destruir parte da economia portuguesa, destruir emprego, criar miséria e sofrimento desnecessários!
E foi feito por ideologia, pela vontade de criar um euro-império, para fortalecer os poderes de uma minoria e subjugar a maioria da população.

Aquilo que o Governo Paf, FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu fizeram é criminoso e a Justiça devia-se encarregar com estes responsáveis por tanto mal que agora vivemos". Eu sabia que havia alucinados de esquerda neste blog, vinha aqui para ver como pensavam e analisavam a situação do país, mas isto creio ser doentio de ideológico.

Anónimo disse...

Oh TINA, diga lá, de entre todas as experiências socialistas, UMA que tenha funcionado? Diga lá, porque a China, usa o comunismo para controlar a população, mas para lhe dar de comer, e impor-se internacionalmente recorre ao capitalismo. E não ao melhor dele, porque direitos dos "trabalhadores" esse mirífico ser das esquerdas ( e direitos humanos então)...tá quieto. E sim, estivemos à beira da banca rota, caso contrário não tinham chamado a Tróika( não, não foi o Passos) e não tinham deitado o governo abaixo. E sim, não fosse a Tróika e seria bonito, o que aconteceria a seguir.
Esta mania de ainda acharem que o socialismo( ou lá o que quer que isso queira dizer) resolve problemas dos povos...já agora, já reparou que o socialismo precisa de ser adjectivado de democrático, senão fede, e o capitalismo de selvagem, para ser mau?

Anónimo disse...

OH tininha, já agora, os primeiros responsáveis pelo estado a que isto chegou, são os tugas, não os estrangeiros. Vivemos de mão estendida, porque ser rico (país ou cidadãos) é "crime" e não é bem visto. Não fossem os privados, o turismo, os empréstimos....Há cada "esclarecido".
Olhe, a ideologia da UE não é má. Até dá dinheiro. Não dá, e bem, "pão para malucos". Se queremos ser ricos, é erradicar o socialismo. Inclusive na CRP. É um crime lá estar. O país deve ir, e a sociedade deve ser o que os portugueses quiserem, via eleições livres, e não mundovisões caducas a impor o que quer que seja.

Nuno Serra disse...

Caro Anónimo (que critica o comentário de TINA's Nemesis),
Permita-me que lhe sugira, com genuína humildade e respeito, que folheie os muitos posts neste blogue, sobre várias questões (entendimentos) que coloca nos seus comentários.
Longe de mim pretender que mude de opiniões. É apenas para poder ter acesso a outros modos de ver e, com isso, pôr à prova - perdoe-me agora - um conjunto de chavões e ideias simplistas expostas nos seus comentários.

Anónimo disse...

Pois é. Se o que havia em 2007 era bom, porque se espeta agora com as Aprendizagens Essenciais? Porque é que não se regressou antes a 2007 e em vez disso acabaram agora com os programas que estavam em vigor nessa altura? Iremos ver o resultado destas mui "sensatas e responsáveis" medidas...

Anónimo disse...

Caro Nuno. A si, e a quem possa ter incomodado com as minhas opiniões, sobre o Tina, as minhas desculpas, mas são as minhas opiniões. Nada mais. São para ser rebatidas, não mais do que isso. Gosto deste blog, exactamente por dar voz a quem não pensa como eu. Gosto de saber o que pensa quem está do outro lado da barricada, e não me dispenso de dar os factos que julgo serem inquestionáveis. Para terminar, só lhe deixo este copy paste do Tina:

Mas este anónimo pensa que vem para aqui fomentar dúvidas nos que frequentam este blog?

Ao nível dos comentários que vi no Público, sobre as pichagens do monumento das descobertas, em que havia quem se referisse ao monumento de memória histórica de monumento fascista. Fascista, porque foi feito pelo Salazar.
Depois admiram-se dos Venturas desta vida. Desse, e doutros.
O Tempora o mores.

TINA's Nemesis disse...

O Nuno Serra mandou este anónimo pesquisar no ladrões porque o Nuno Serra sabe ao que me refiro quando escrevo "o BCE deixou o Estado português sem financiamento por razões ideológicas", sabe o Nuno Serra, sabe o João Rodrigues, sabe o Jorge Bateira e sabem, aposto eu, todos os restantes Ladrões!
Os Ladrões têm escrito sobre isto há anos!
E se não foi razões ideológicas porque razão o BCE começou a financiar, depois de não o fazer, os Estados acabando assim com a falsa crise das dívidas soberanas?
Não me digam que este anónimo pensa que foi o bandido Passos Coelho que salvou Portugal da "bancarrota"!?

Este anónimo nem sequer refutou nada do que eu escrevi, limitou-se a escrever a cansada ladainha "os portugueses andaram a viver acima das possibilidades e até têm sorte que a Europa os ajude".

Eu e maioria da população portuguesa não andamos a viver acima das possibilidades, se este anónimo andou a viver acima das possibilidades e se sente arrependido pode sempre ir ao templo da sua preferência pedir redenção ao Senhor.

Anónimo disse...

Caro Tina: A tua ignorância e desconhecimento da História é, no mínimo confrangedora. No entanto emites opiniões "abalizadas". Isso funciona na taberna, aqui...
Lê lá isto:http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/04/entenda-melhor-a-crise-economica-de-portugal.html
E isto:https://sicnoticias.pt/economia/2010-11-26-bce-e-eurogrupo-pressionam-portugal-para-pedir-ajuda-internacional8
Deve chegar.
Quando falas em ideologia, olha primeiro para a tua. Não é recomendável, socialismo andar de mão dada com a ignorância e ódio.
Sobre o Passos, foi eleito. E ganhou as eleições depois da Troika. Se achas que é um bandido, imagina o que nós poderemos dizer dos que nos tentaram impor um regime que ninguém pediu depois do golpe de estado do 25.4.74 Está documentado e provado. Parece que ainda há cretinos com saudades desses tempos, em que se vendiam as delícias do socialismo e da revolução. Não dá para acreditar.
Não, não defendo que tenhamos vivido acima das nossas possibilidades, nem disse isso. Mas fomos muito mal governados e muita gente a todos os níveis, se aproveitou, em vários graus. Não foram só as "elites". E pagámos por isso .E sim, o Passos, os privados, o turismo, as exportações, (e não a esquerda nem os funcionários públicos) tiraram o País da banca rota. E se não fosse o prr já lá estávamos outa vez. E se o bce acabar com a compra de dívida soberana...!
Para quem se queixa que não refutei nada do que disse, reparo que não respondeste ao que lhe perguntei.
Já agora, sabe qual é o problema do capitalismo? Os capitalistas. E sabe qual é o problema dos socialistas? O socialismo. No seu caso, é necessário aduzir a ignorância.