1. Os jornais, rádios e televisões divulgaram mais um exercício de ranking de escolas, elaborado a partir dos resultados dos exames do ensino secundário realizados em 2020. Em linha com os exercícios feitos nos últimos vinte anos, as escolas privadas continuam a não fornecer dados de contexto. Isto é, informação sobre o perfil socioeconómico dos seus alunos e respetivas famílias (rendimentos, nível de escolaridade dos pais, etc.), indispensável para interpretar com um mínimo de rigor e seriedade a mera ordenação dos resultados por escola.
2. Fingindo que não percebem a falácia e a fraude grosseira que daqui resulta, a generalidade dos órgãos de comunicação social continua a publicar as parangonas do costume: «Escolas privadas esmagadoras no topo das melhores médias», lê-se na capa do Público, que acrescenta e detalha, na sua edição online, que «No top 50 há 47 escolas privadas e só três públicas»; «Liderança, ambição e exigência: a receita das escolas para chegar ao topo», sentencia o Expresso; «Primeiros 50 lugares são para privadas», opina com ligeireza o Observador. «As 31 melhores escolas do país são privadas», remata a TVI24.
3. A informação veiculada pelo Público (ver imagem) nem sequer é correta. Não, não é o Ministério da Educação que não «fornece dados de contexto socioeconómico» das escolas privadas. São elas próprias, numa decisão concertada, que decidem não os comunicar ao ME, ao contrário das públicas. Porquê? Porque receiam não sair bem numa fotografia que calibre os resultados obtidos com o perfil dos seus alunos. E os jornais, rádios e televisões, em vez de recusar integrar nos rankings os colégios que não forneçam estes dados (como aconselharia o rigor, a isenção e a decência), preferem continuar a pactuar com o logro, alimentando o mito da superioridade do ensino privado (que a inflação de notas ou a pior preparação para o ensino superior, por exemplo, refutam).
4. Não é difícil perceber a profunda distorção que está em causa, bem mais relevante que as propaladas tretas da «liderança, ambição e exigência», alarvemente apresentadas como qualidades intrínsecas e exclusivas do privado. A prática instituída de seleção de alunos pelo setor (com muito honrosas exceções), é logo à partida mais do que meio caminho andado para o «sucesso». De facto, a maior heterogeneidade social dos alunos das escolas públicas (fixada desde logo pelo grau de capacidade em pagar as mensalidades do privado), e cujo valor formativo tende aliás a ser negligenciado, traduz-se evidentemente numa maior tendência para puxar a média dos resultados dos exames para baixo, por maior que seja (e é-o de forma notável em muitos casos), o esforço destas escolas para romper com as desigualdades sociais de partida (esforço a que a generalidade dos colégios, sobretudo os de topo, são poupados).
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14 comentários:
Telejornais e imprensa orientados para a desinformação e propaganda nos partidos da direita.
Ainda esta tarde, a TVI confrontava a opinião do ministro da educação com a da associação dos pais. Na orientação de quem fez a reportagem, a ideia era que o espectador estivesse ao lado da opinião dos pais, a favor do «ranking».
Telejornais, rádio e imprensa, em Portugal, são um imenso lixo, responsáveis pela decadência da sociedade. A tal ideia que difundem de profissionalismo é uma grande mentira. A maior parte dos repórteres e colaboradores é mal paga e não gosta daquilo que faz. Serve apenas para usar a profissão, afim de ganhar o pão da mentira.
O panfleto europeísta de referência Público não fez já uma capa com "Hospitais privados esmagam os hospitais públicos na gestão da crise Covid19" porque o director do panfleto europeísta não permite um título deste tipo não por falta de vontade mas porque sabe que a imagem do SNS foi reforçada, é arriscado malhar no SNS hoje em dia.
A escola pública não tem uma imagem tão forte junto da população quanto tem o SNS, é também por isto que os pafistas, e neoliberais em geral, conseguem passar as manipulações na comunicação social facilmente, ainda assim, a escola pública é um serviço do qual a maioria da população depende e não vai ser destruído com estas manipulações, para muito desgosto dos pafistas do Observador, Público etc.
Eu não sei porque razão o Nuno Serra escreveu esse título - que é parcial apesar de reflectir factos - e não terminou em comunicação social, sem mais acrescento algum. É que essa mesma sonsice, é a que lava certas porcarias com Omo (que, como é facto público e notório, deixa tudo mais branco), enquanto salpica de lama tudo aquilo que incomoda o capital. Sim, porque no cerne das coisas, quer se trate de escola ou de batatas ou alfaces ou morangos em Odemira ou noutro lado qualquer, é sempre disso, essencialmente disso, que falamos e está em causa.
Não percebo nem o espanto nem o que é proposto.
A melhor nível social e . Com a relevância que é dada às notas para acesso ao ensino superiorcultural correspondem provavelmente melhores resultados - banal!
O estudo é uma escala de notas, não uma escala de qualidade de ensino - óbvio!
O que seria essa ponderação de 'qualidade na origem dos alunos'- um qualquer bigbrother com QIs à mistura?
Com a relativa irrelevância dos exames de acesso ao ensino superior e a inexistência de exclusão em programas de confirmação de acesso, uma coisa é certa: a escala serve para os pais considerarem aonde colocar os filhos, e isso é utilidade pública.
O «Jose» sempre ao lado da reação e da opinião formada pelos patrões, sejam os da comunicação social, sejam os empregadores de mão de obra barata em Odemira, Santarém...
«sempre ao lado»?
Não faço parte de nenhum coral nem tenho nisso interesse, deixo isso para os 'progressistas'.
Caro Nuno Serra, por falar em dados que não são públicos. Onde é possível encontrar dados sobre absentismo docente nas escolas públicas? Deixe-se de análises de bancada e experimente acompanhar um filho numa escola pública.
Não discordo de rankings, valem o que são.
Porém, é preciso separar, público e privado.
Desde logo, o público é universal e o privado seleciona. Nem vou pelo contexto sociocultural e económico.
Para além disso, o privado convidar a sair os piores tem de ser um pressuposto.
Nuno
Ps- declaração de interesses os meus filhos andam num colégio de top. E estou a borrifar para isso, só olho ao bom serviço e necessidade de apoio familiar.
Pelo que vejo aqui, há comentários de pais seletivos. Querem o melhor para os seus filhos e, por isso, não querem saber de professores, sistema público, sociedade ou bem estar de todos.
A mentalidade seletiva do pai egoísta e facilmente manipulado pela comunicação social da desinformação, é servil aos interesses privados. A própria expressão aqui lida - « E estou a borrifar para isso...» - indica que o bem estar de todos não interessa para nada.
A hipocrisia ou uma qualquer vertigem suicidária parecem impedir que se esclareça em quê - para além da promoção da mediocridade - o ensino selectivo e de excelência, prejudica o ensino público.
Seguramente esse ensino liberta meios para investir em serviço público.
o José acha que coralistas são os outros. só ele é que se sabe distanciar e pensar.
Está enganado. Estou a borrifar para o ranking. Mas sou honesto e digo que os meus filhos estão num colégio privado.
Infelizmente, não conseguiria ter apoio familiar no público. Mas foi lá que andei sempre.
E não cuspo no prato onde como!
Nuno
«Não cuspo no prato onde como, mas os meus filhos estão num colégio privado.» Viva honestidade!
Infelizmente, esta não vale de nada para quem tem os seus filhos no público.
Para quem lê os jornais e aceita ser desinformado diariamente pela comunicação social miserável que temos, ainda menos.
Sou professora na escola pública e os meus filhos frequentam a escola pública.
Em relação aos meus filhos nada a dizer... há apoios quando necessário e não tiveram explicações até hoje. Isso também um negócio. E para isso estes ranking servem. A sociedade mede o sucesso pelo resultado apenas e não pelo esforço e pelo projeto aluno, pessoal, social e profissional. Muitos alunos são pressionados para ter resultados...a que custo!
A escola pública é heterogénea...experimentem ter 27/28 alunos numa turma em que cada um tem histórias e contextos completamente díspares... não é comparável. Os contextos são um ponto imprescindível! Para fazer uma visita de estudo por exemplo, nem todos podem ir por não terem condições económicas e materiais a mesma coisa. Apesar de a escola dar um contributo. Eu considero que este estudo não é equalitário, nem mede rigorosamente nada! o que interessa é saber se os alunos entraram no curso de preferência....isso para mim é bem mais importante. Nem todos vão ser médicos, devem é ser socialmente saudáveis, autónomos, empáticos e empenhados... competências tão ou mais importantes que os resultados. A escola tem limitações sem dúvida, mas se as comunidades escolares remassem todos para o mesmo lado, tudo seria bem mais fácil na escola pública.
Usei o exemplo do médico por ter média de entrada mais alta...que é o que o estudo avalia, médias.
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