quarta-feira, 5 de maio de 2021

A «escola do antigamente é que era»?

«(...) mais uma vez, pude confirmar o que já sabia: o ensino atual é bem mais exigente do que era há umas décadas e exige das crianças bem mais do que boa memória. A excelência do ensino dos nossos pais não passa de um mito. Lembro-me de a minha sogra, para me convencer de que há 60 anos a escola primária era muito exigente, me contar que teve de decorar todas as estações de comboio e todas as minas de Portugal. Em jeito de brincadeira, respondi-lhe que não lhe servia de muito já que as minas e as estações estavam todas fechadas. Confunde-se exigência com dificuldade. Claro que é difícil e chato decorar todas as estações de comboio em Portugal. Mas não tem nada de exigente. Na verdade, é um exercício bastante estúpido.»

Luís Aguiar-Conraria, A degradação do ensino (disponível aqui para leitura na íntegra, que se recomenda).

7 comentários:

Anónimo disse...

"Quarta-feira, a minha filha mais velha participou na segunda eliminatória das Olimpíadas da Matemática deste ano ..."
Uma aluna comum, um pai comum, um retrato ilustrativo do ensino dos dias de hoje.

Tavisto disse...

Pois! Não sei quem está certo, se o Luís se a sogra. A verdade é que a memória se exercita. Decorar as estações de caminho de ferro ou o nome das serras de Portugal, parecendo um exercício supérfluo não deixa de ser um exercício.

Carlos disse...

É mais complicado, não se pode reduzir a "preto ou branco"! Eu fiz o 12º em 1980, e não senti dificuldades nenhumas em ajudar uma filha minha em Matemática, Física e Química até ao seu 12º ano, concluído em 2019. As matérias e o seu grau de complexidade eram as mesmas (tirando a parte de informática que não existia no meu tempo). E, ainda por cima, elas agora podem usar calculadoras para as ajudar nas contas, enquanto que no meu tempo era proibido. A única disciplina que me causou dificuldades, de tal modo que não a consegui ajudar, foi a de Biologia! Quer a estruturação da disciplina, como o seu conteúdo eram completamente diferentes.

Miguel disse...

Exercitar a memória é extremamente importante, a maneira mais interessante é aproveitando a grande poesia, a música e as artes dramáticas. É importante aprender a falar em público, isso também se adquire aprendendo a dizer poemas e fazendo teatro. E não só. Todas as disciplinas podem contribuir para esse treino. A condição é que o treino da memória seja feito com inteligência. Agora pôr as crianças a decorar nomes de estações é uma ideia de cavalgadura.

Anónimo disse...

Se está a confundir as olimpíadas da matemática com o programa habitual da disciplina, então não tem acompanhado o ensino da filha lá muito bem.
Aqui há uns anos tive de comparar três livros de matemática para o 7º ano. Um de 73, outro de 86 e outro de 2010. As matérias são as mesmas, mas a infantilização dos livros é confrangedora. Os livros mais recentes são um amontoado de bonecos que não trazem nada à compreensão da matéria.

Tavisto disse...

Faço notar que não estou a defender a escola de antigamente. Defendo sim o exercitar da memória. Tão importante como o exercitar do cálculo, complementando-se.

Jose disse...

Uma coisa é certa, ficavam com uma ideia de que o país é bem mais que o bairro e a cidade.

Mal fora que nada evoluísse em termos de aprendizagem, mas importa saber que educação é bem mais que conhecimento, melhores e mais capazes define a educação.