A pandemia veio revalorizar o papel do Estado e demonstrar a sua centralidade no funcionamento da sociedade. Quem faz esta constatação pensa frequentemente nas respostas sanitárias e nos apoios sociais de emergência, ou no papel exercido por serviços públicos e poder local. É do Estado, afirma-se, que podem surgir as políticas capazes de proteger a vida, de garantir rendimentos, de sustentar o emprego e a actividade económica, de combater a pobreza e as desigualdades. Que esta consciência alastre é algo que deve ser valorizado, em particular quando passam dez anos do pedido de empréstimo de Portugal à Troika, com o violento programa de «ajustamento estrutural» que se lhe seguiu (ver, na edição de Maio, o artigo de Jorge Bateira).
Mas o Estado é um instrumento em permanente disputa. Com ou sem pandemia, e mesmo havendo maior consciência social de que ele deve ser robusto, justo, redistributivo e igualitário, permanecem actuantes orientações antagónicas quanto às suas finalidades e à sua configuração. E os arautos da austeridade neoliberal, cada vez mais ruidosos, só esperam a oportunidade para lhe reduzir a capacidade de servir o desenvolvimento e a coesão, social e territorial.
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